Na madrugada de hoje, um acidente aéreo na região de Smolensk (a 400km a oeste de Moscou), matou o presidente da Polônia, Lech Kaczynski, a esposa dele, o presidente do Banco Central polonês e os mais altos oficiais militares poloneses (ao todo, foram 97 mortos). Todos estavam indo à Rússia a fim de prestar uma homenagem a soldados poloneses que foram assassinados pelo exército soviético em 1940 (familiares dos poloneses mortos na guerra também estavam no avião). Trata-se de um fato polêmico, que envolveu Rússia, Polônia e Alemanha, e que marcou o começo da Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, o que mais me chamou a atenção no caso não foi nada isso. Fiquei mais intrigado ao saber que, de acordo com o que foi divulgado na imprensa, a tripulação do avião que transportava o presidente polonês e a sua comitiva foi advertida pelos controladores de voo russos que as condições climáticas estavam péssimas (muita neblina), e que por isso seria mais prudente desviar a rota e aterrissar em Moscou ou em Minsk, capital da Bielorrússia (ou Belarus, como dizem). O pedido foi sumariamente ignorado pela tripulação polonesa, tanto que o piloto tentou pousar no aeroporto de Smolensk quatro vezes. Tanta insistência só poderia ter dado nisso.
Ao ouvir isso, eu me perguntei por que nós somos tão teimosos; por que nós insistimos tanto em dar de ombros para algum alerta ou aviso que as outras pessoas nos fazem. Não estou dizendo que nós devemos acreditar em tudo o que ouvirmos por aí, mas, nesse caso específico, custava escutar as recomendações dos russos e pousar em um lugar mais seguro? Custava ser mais prudente e preservar as vidas humanas que estavam dentro do avião (e a vida da tripulação também, pois ninguém conseguiu escapar vivo desse desastre)? Gente sacana, escrota e que gosta de tirar sarro da cara dos outros existe em qualquer lugar, mas eu me recuso a acreditar que os controladores de voo russos brincariam com um assunto tão sério como esse - ainda mais tratando-se de uma comitiva liderada por um chefe de estado.
Isso me lembrou do caso Gabriel Buchmann (se uma coisa tem algo a ver com a outra, eu não sei, mas foi a associação que eu fiz), aquele carioca que estava viajando o mundo inteiro com vistas a acumular conhecimento necessário para escrever a sua tese de doutorado sobre a pobreza e acabou morrendo no Monte Mulanje, no Malawi, ano passado. Guardadas as devidas proporções, Buchmann fez a mesma coisa que a tripulação polonesa fez hoje. Vejam: ele estava num lugar que não conhecia, subiu no monte sem pedir a autorização dos espíritos (os malawianos acreditam que o Monte Mulanje é habitado por espíritos, e por isso todos aqueles que querem subir o morro precisam pedir autorização a eles para entrar; os que não fizeram isso estão lá até hoje), e ainda teve a pachorra de dispensar o guia, após este ter avisado insistentemente que o dia estava ficando escuro e que portanto era mais prudente retornar à base e deixar a escalada para o dia seguinte. Como ele se recusou a fazer isso (talvez por ter pensado que todos esses costumes não passavam de "crendices atrasadas" ou por ter achado que tinha experiência suficiente para superar qualquer adversidade natural), terminou se perdendo e morrendo de frio enquanto dormia.
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