sábado, 20 de março de 2010

"Emancipate yourselves from mental slavery. None but ourselves can free our minds".

Ontem, estava navegando pela internet quando vi uma reportagem sobre um amistoso que o Santos fará pela inauguração do estádio do Red Bull, Estados Unidos. Na matéria, havia um vídeo com os jogadores Robinho e Neymar convidando, em inglês, o público estadunidense a comparecer ao estádio. Detalhe: Robinho, apesar de ter morado durante dois anos na Inglaterra, falava inglês com extrema dificuldade e Neymar limitou-se somente a repetir a frase "I love you, America" várias vezes durante a gravação.

Fui à seção de comentários a fim de saber o que as pessoas haviam dito sobre o fato (de certa forma, eu já previa o que encontraria lá). Houve de tudo: gente dizendo que Robinho era idiota metido a palhaço, que ele era analfabeto, que era absurdo uma pessoa morar dois anos na Inglaterra e falar um inglês de merda daquele, dentre outras bobagens.

Pouco me interessa definir se Robinho é palhaço ou idiota (ou as duas coisas juntas). Acho que o tempo que Robinho passou na Inglaterra foi suficiente para ele adquirir uma certa desenvoltura no idioma, mas não é isso que eu quero discutir aqui. Eu quero saber que obrigação ele tem de falar inglês. Acredito que nenhum dos dois tem obrigação de falar língua estrangeira nenhuma. Muita gente achou ruim quando Robinho disse que não dá importância ao fato de não saber falar bem o idioma de Shakespeare, e que está interessado mesmo em jogar futebol e fazer gols. Porra, ele está certo! Robinho não tem obrigação e Neymar tem menos ainda, pois ele nunca saiu daqui.

Quando eu ouço essas coisas, eu fico pensando: se o jogo acontecesse aqui no Brasil, os brasileiros encheriam a paciência dos gringos para o fato de eles não saberem falar a nossa língua? Então por que raios um brasileiro têm de saber falar a língua deles? Afinal de contas, Robinho e Neymar irão aos Estados Unidos para jogar uma partida de futebol ou dar uma palestra em Harvard? Vão para o inferno, rebanho de colonizados!! Quando um estadunidense vem ao Brasil, ele pouco se importa com o fato de não saber falar português (e ninguém faz deboche com isso). Eles falam a língua deles e nós que nos fodamos para arranjar um tradutor. Se é assim, nós temos de fazer a mesma coisa: ir ao país deles e falar a nossa língua. Se eles quiserem entender o que nós estamos falando, eles que arranjem tradutor também. O nome disso é princípio da reciprocidade.

Não estou dizendo que nós, brasileiros, não devemos dominar uma ou mais línguas estrangeiras. Muito pelo contrário. Devemos, sim, até porque o domínio do inglês, do francês, do espanhol, do alemão, do italiano e outras são critérios de poder aqui no nosso país. Os branquinhos de classe média conseguem mais bolsas de intercâmbio do que nós porque sabem falar vários idiomas, coisa que nós, devido à educação pública precária e as nossas dificuldades financeiras, não sabemos. Além disso, passamos a ter acesso a conhecimentos mais variados quando lemos e conversamos em outras línguas.

Eu só quero que nós nos libertemos desse famigerado colonialismo mental. Em outras palavras, se nós somos obrigados a falar inglês para entrar nos Estados Unidos, nós também devemos exigir que os estadunidense aprendam português para entrar no Brasil. Podem dizer o que quiserem a meu respeito, mas só quem já saiu do país sabe do que eu estou falando. Eu já saí (passei quatro meses nos EUA), e portanto sei muito bem como o pessoal de lá vê aqueles que não falam bem o inglês.

Só seremos respeitados quando soubermos valorizar mais o que é nosso – o que não significa desprezar tudo o que vem de fora, é claro.




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