sábado, 22 de agosto de 2009

Um desabafo.

Depois que inventaram celular com mp3, eu nunca mais viajei em paz num ônibus coletivo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O "jeitinho" inglês (ou o Brasil não é uma maravilha, mas também não é a lata de lixo do mundo).

Liguei o computador hoje a fim de escrever sobre outra coisa, mas mudei de ideia ao ver uma reportagem na página do UOL. Vi um vídeo sobre o caso das duas mulheres inglesas que foram presas no Rio de Janeiro acusadas de tentar aplicar um golpe conhecido como golpe do seguro. Foi assim: após terem chegado ao Brasil e se hospedado no hotel, elas foram a uma delegacia de polícia e disseram que foram roubadas, e que o ladrão havia levado toda a bagagem delas, tudo isso para receber o dinheiro do seguro. Entretanto, os policiais desconfiaram e resolveram ir ao hotel onde elas estavam hospedadas e constataram que se tratava de um golpe, pois todas as coisas que supostamente haviam sido roubadas estavam lá. Resultado: as duas foram presas e acusadas de tentativa de estelionato (art. 171 do Código Penal Brasileiro) e comunicação de crime inexistente (art. 340).

Hoje, um mês após o crime, elas foram julgadas e condenadas a um ano e cinco meses de prisão, mas a pena poderá ser convertida em prestação de serviços à comunidade. Os passaportes das duas estão retidos pela polícia desde o dia em que as duas foram presas, mas a defesa entrou com um pedido de liberação dos dois documentos na justiça. Resta saber se elas permanecerão no Brasil para cumprir a pena caso os passaportes sejam liberados (o que vocês acham?).

O que mais me revoltou foi a reação de algumas pessoas demonstrada na seção para comentários da matéria. Algumas pessoas disseram que a pena foi “muito dura”, que “não havia necessidade de tanta rigidez”; houve um que disse que acha temerário que essas inglesas prestem serviços comunitários aqui no Brasil; “por que não se faz uma operação padrão igual a essa no Senado?” Esses foram alguns dos impropérios disparados lá.

Eu fiquei pensando cá com os meus botões: “brasileiro é muito idiota mesmo”. Quanto sentimentalismo barato! Estão com peninha? Levem-nas para as vossas casas. A justiça brasileira está corretíssima ao ter condenado essas duas golpistas. Se duas brasileiras tivessem feito isso na Inglaterra, elas já teriam sofrido o diabo nas mãos da polícia inglesa; a essa hora, estariam presas na cadeia mais imunda da Inglaterra, incomunicáveis e sofrendo todo tipo de tortura física e psicológica – isso se já não estivessem mortas, é claro.

Aliás, os brasileiros nem precisam cometer crimes para serem maltratados lá. Até onde eu sei (corrijam-me se eu estiver errado, por favor), não é necessário tirar visto para entrar na Inglaterra. É um oficial do serviço de imigração inglês que decide se nós podemos entrar no país ou não. Isso quer dizer que se eu chegar ao aeroporto de Londres e o oficial for com a minha cara, eu serei autorizado a entrar. Caso contrário, eu terei de pegar os meus paninhos de bunda e voltar para o Brasil – ainda que a minha documentação esteja toda regularizada.

Casos de abuso da polícia inglesa contra brasileiros não faltam. No momento, só me lembro de dois: uma mulher (não me lembro de onde) que passou anos juntando dinheiro para pagar um intercâmbio de curso de inglês em Londres, mas teve de voltar para o Brasil porque o policial simplesmente não foi com a cara dela, e outro de uma menina do interior da Bahia (esqueci de qual cidade) que foi fazer turismo e foi tratada pior do que um cachorro pelos policiais. A coisa foi tão grave que a menina menstruou enquanto esteve presa no cubículo onde foi posta no aeroporto e os canalhas não permitiram sequer que ela fosse ao banheiro para se limpar e trocar o absorvente. Quem souber de mais algum exemplo, que se manifeste.

Outras pessoas ficaram penalizadas pelo fato de as duas pilantrinhas de meia-pataca terem ficado presas durante seis dias na penitenciária feminina de Bangu e sido condenadas a um ano e cinco meses de cana. Oooooh, meu deus! Coitadinhas das pobrezinhas!! E o que aconteceu com Jean Charles lá no metrô de Londres, cambada, vocês já esqueceram? O cabra era inocente, não tinha nada a ver com a situação, mas levou sete tiros na cabeça em uma ação atabalhoada da Scotland Yard (considerada a melhor polícia do mundo [eu nem quero imaginar como é a pior]) só porque foi confundido com um terrorista. Bem que os policiais poderiam tê-lo prendido e averiguado os fatos, mas preferiram matá-lo para dar uma resposta rápida à sociedade inglesa, atônita com os atentados à bomba no metrô de Londres. Bem que os mais experientes dizem que memória de brasileiro é curta.

Não podemos esquecer também o caso de Ronald Biggs. Um ladrão safado, que assaltou o trem-pagador britânico em 1963, fugiu da cadeia, veio para o Brasil, rapidamente descobriu que estrangeiro que tem filho brasileiro não pode ser extraditado, e por isso emprenhou a primeira que passou pela frente dele para gozar desse benefício. Resultado: ficou aqui no Brasil durante mais de trinta anos, tirando onda de bon vivant, e só retornou à Inglaterra por livre e espontânea vontade em 2001 porque estava doente e sabia que não teria direito a tratamento médico aqui no Brasil.

Eu só espero que o caso dessas duas golpistazinhas inglesas sirva para que nós paremos de pensar e dizer por aí que gente pilantra, trambiqueira, que gosta de levar vantagem em tudo só existe aqui no Brasil; que o Brasil é o “país do jeitinho”. Gente, o “jeitinho” não é brasileiro, e sim mundial.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobre as tentativas de reinclusão da Bahia no horário de verão

Todo ano é a mesma xurumela. Quando chegamos aos meses de agosto e setembro, é de praxe ver nos jornais baianos os clamores dos defensores da reinclusão da Bahia ao horário de verão. As justificativas são várias, assim como os seus autores.

De um lado, estão os empresários baianos que dizem que a permanência da Bahia fora do horário de verão traduz-se em “sérios prejuízos à economia da Bahia” (leia-se: redução dos seus lucros). Isso porque há uma hora a menos para realizar operações de câmbio; muita gente perde os voos devido à diferença de horário em relação ao horário de Brasília; as pessoas têm sempre uma hora a menos de expediente bancário, dentre outras coisas. O empresariado esperneou, gritou, deu chilique, mas felizmente não conseguiu sensibilizar o governador Jaques Wagner. Resultado: a Bahia continuará fora do horário de verão “em solidariedade aos outros estados do Nordeste”, nas palavras do governador.

Do outro, está a população (e é justamente isso que me deixa mais puto da vida). Sempre nos final de agosto e começo de setembro, as emissoras de TV baianas saem às ruas para saber a opinião do público sobre o assunto. As respostas são sempre as mesmas: “ah, eu acho que o horário de verão deveria voltar porque assim a gente não perde a novela”; “o horário de verão é bom porque a gente fica com uma hora a mais para aproveitar o sol”; “com o horário de verão é possível ficar uma hora a mais na praia tomando cerveja com os amigos”. Citarei somente esses exemplos para não ficar chato.

Eu fico mais puto ainda porque ninguém me entrevista. Sei muito bem que as emissoras de TV cortariam a minha resposta na hora de editar a fita, mas seria um grande orgasmo mental dizer o que eu penso a esses repórteres idiotas.

Ver os empresários reivindicando o retorno do horário de verão é compreensível, pois eles só estão preocupados com os seus interesses capitalistas, ou seja, eles só querem encher os seus bolsos de dinheiro e o resto que se foda. Entretanto, ver e ouvir o povão, a população, a “plebe rude” defendendo isso é de matar! Custa-me a acreditar que alguma pessoa seja capaz de dizer tamanha sandice.

O horário de verão só é bom para quem pode dar-se ao luxo de acordar às 10h e possui carro. Pois para quem mora na periferia, acorda às 5h, anda 700m até o ponto mais próximo e tem de esperar o ônibus sozinho num ponto escuro, sem segurança, rezando para que o buzu chegue antes do ladrão, adiantar o relógio em uma hora é uma desgraça. Sem contar os transtornos físicos causados: comer fora do horário que já estamos acostumados, dores de cabeça (quando a Bahia ainda estava inclusa, eu sentia fortes dores durante os três primeiros dias), distúrbios do sono... A lista de problemas é interminável.

Em suma, não vale a pena passar por tanto tormento em prol de uma economia de energia irrisória. Num país como o Brasil, existem formas muito mais inteligentes de poupar eletricidade do que adiantar o relógio em uma hora. Conter o desperdício e utilizar fontes alternativas e limpas já ajudam bastante.

sábado, 8 de agosto de 2009

Fim de semana da Stock Car em Salvador.

Neste fim de semana, Salvador se transformará na capital brasileira da velocidade. Pela primeira vez em trinta anos de história, será realizada uma etapa do campeonato brasileiro de Stock Car no Nordeste e em um circuito de rua – nas ruas do Centro Administrativo da Bahia. Como atualmente o automobilismo não goza de muito prestígio aqui na Bahia, várias ações de divulgação foram feitas para mobilizar o público: carros ficaram expostos em alguns dos principais shopping centers da cidade; pilotos deram voltas com os carros no Dique do Tororó - região do centro de Salvador; o piloto Cacá Bueno fez um pit-stop em frente ao Mercado Modelo e Elevador Lacerda; os pilotos Xandinho Negrão e William Starostik passaram uma tarde autografando bonés no Shopping Iguatemi em troca de 1kg de alimento não-perecível. Sem contar a propaganda massiva feita pela imprensa esportiva baiana desde o final do mês passado.

Reconheço que isso será muito bom para o esporte baiano. A divulgação que a cidade já recebeu – e ainda vai receber – em virtude da corrida que acontecerá amanhã será ótima. Para aqueles que estão brigando pela construção de um autódromo em Salvador, essa é uma boa oportunidade de intensificar a luta. Além disso tudo, como estamos em período de baixa estação, o evento ajudou a incrementar o turismo baiano (que está passando por uma das piores fases nos últimos vinte anos), uma vez que há uma boa quantidade de pessoas que virão a Salvador só para assistir à corrida.

Entretanto, uma coisa que eu vi nos jornais chamou bastante a minha atenção, e é a isso que eu quero dar destaque: todos os ingressos foram vendidos em 48 horas, e por isso a organização criou, no local onde acontecerá a prova, um espaço batizado de Praça dos Telões, onde as pessoas de menor poder aquisitivo (o Jornal da Metrópole desta semana usou o termo “povão”, mas eu detesto essa palavra) poderão pagar de cinco a dez reais para assistir à prova através de telões de alta resolução.

Que falta de respeito! Vejam só se eu vou pagar dez reais para ver imagem de telão!!! Imagem de telão, eu vejo em casa. Sei que isso não causará efeito prático nenhum (eu sou um só, e uma andorinha só não faz verão), mas essa é a única forma que eu tenho de protestar contra essa ideia de que os pobres têm de estar sempre relegados aos piores lugares. Percebam: a organização do evento só pensou em criar uma forma de atrair os mais desfavorecidos depois que os ingressos foram todos vendidos. Por que a organização não pensou em criar preços mais em conta em uma zona que os pobres pudessem ver os carros na pista?

Certamente aparecerá alguém dizendo que eu sou ingênuo, imbecil, metido a besta, dentre outras palavras. Digam o que quiserem. Eu só não concordo que o sofrimento, o descaso e o menosprezo são coisas naturais. Não é porque eu sou preto, pobre e periférico que eu tenho de aceitar sempre os restos e dizer que “é assim mesmo”. Como bem disse o Kortezia, “eu estou carente, mas eu quero coisa boa”.

Isso é a mesma coisa de pagar para assistir a uma apresentação de Emílio Santiago (que eu gosto muito), um espetáculo teatral ou uma apresentação do Cirque du Soleil numa fileira tão distante do palco e ter de ver o espetáculo através de telão. Se fosse para ver imagem de TV, eu compraria um DVD pirata no camelô e assistiria à apresentação em casa.

Na Stock Car, não seria diferente. Como eu não tive grana para pagar o preço dos ingressos das áreas mais nobres (até porque o preço já é colocado para selecionar o público), eu também não irei lá. Eu até tenho dez reais livre aqui no meu bolso no momento, mas ele será usado em outra coisa. Acompanharei a transmissão através do Esporte Espetacular, pois sairá bem mais barato.

P.S.: de acordo com o Jornal da Metrópole do dia 24/07 (www.jornaldametropole.com.br), o Cirque du Soleil cancelou quatro dias de apresentação aqui em Salvador (27/8, 3/9, 4/9 e 6/9). Os motivos do cancelamento até agora não foram – e eu imagino que nunca serão – divulgados, mas eu quero acreditar que foi o baixo público.

Se for isso mesmo, será bem feito. Se os preços dos ingressos fossem mais baixos, a presença de público seria bem maior e com certeza nenhum dia de apresentação seria suspenso.