domingo, 13 de maio de 2012

Sobre o Dia das Mães. Sim, mas de que mães nós estamos falando?

Ontem, eu repassei uma postagem no Facebook sobre o Dia das Mães. Nela, havia um casal composto por um homem preto, uma mulher preta e uma criança preta com uma mensagem de felicitação pela data. Nada mais justo, pois, afinal de contas, o Dia das Mães caiu neste ano em 13 de maio, data em que se comemora 124 anos de abolição da escravatura (que eu prefiro chamar de 124 anos de chute na bunda), e que, por pressão dos movimentos sociais, foi ressignificada como Dia Nacional de Combate ao Racismo. E não só por isso. O que há de errado numa postagem de felicitação ao Dia das Mães que traga uma foto de pessoas pretas? O padrão é sermos caucasianos, de estirpe europeia?. Ou será que não existem mães pretas no nosso paraíso etnorracial?





Hoje, ao acessar o meu perfil, um conhecido meu escreveu: “Preto não é cor? Parabéns somente para as mulheres negras? Sem mais... aí não curti...”. Isso me enfureceu sobremaneira. Já dei uma resposta a ele lá mesmo no Facebook, mas resolvi dar uma resposta mais elaborada e publicar aqui para que mais pessoas tenham acesso.




Vou repetir o que eu já escrevi: qual é a sua, cara? Você já viu alguma propaganda do Dia das Mães com alguma negona? Alguém lembra que as mulheres pretas também têm filhos? Se as brancas não querem nem saber que existem mulheres pretas (a não ser quando elas precisam de uma escravinha para limpar a merda, cozinhar, lavar e passar os panos de bunda delas, é claro), por que raios você acha que eu deveria lembrar das mulheres brancas? 

O engraçado é que pessoas como você só reclamam da ausência de mulheres brancas quando há um anúncio só com mulheres pretas (que são raríssimos por sinal), mas eu nunca vi uma pessoa sentir a falta de mulheres pretas num anúncio só com mulheres brancas (isso me lembrou de um dos episódios da temporada 2012 do programa Esquenta, apresentado por Regina Casé, em que ela disse que estava sendo chamada de racista porque no programa dela só tinha preto, e que por isso ela resolveu levar algumas pessoas brancas ao programa para convencer o público do contrário, isto é, que ela não é racista). Eu sou filho de uma mulher preta, neto de uma mulher preta (de quem eu tenho e terei saudades eternas), conheço e trabalho com muitas mulheres pretas que são mães, e portanto eu estou prestando uma homenagem A ESSAS mulheres. Mulheres que são tratadas como se não existissem; que não tem direito a um pré-natal digno e não recebem sequer anestesia quando chega a hora de dar a luz seus filhos; que são sistematicamente maltratadas, agredidas, abandonadas e assassinadas pelos namorados e maridos (que são, na maioria dos casos, homens tão pretos quanto elas) e que por isso têm de se virar para trabalhar e sustentar as suas crianças; que não tem creche para colocar os filhos enquanto trabalham, e que por isso são obrigadas a deixar os filhos menores aos cuidados do irmão mais velho ou com a vizinha (quando elas acham uma vizinha que se disponha a fazer isso, porque senão elas terão de abandonar seus empregos e fazer um bico aqui e outro acolá pra garantir o pão daquele dia no sustento de sua cria); que não têm uma escola decente para os seus filhos estudarem e buscarem um futuro melhor (porque filho de preto tem mais é que trabalhar para ajudar no sustento da casa; esse negócio de estudar é invenção de moda; onde já se viu, preto querer estudar?; se o criouléu todo resolver virar doutor, quem vai lavar minha privada?); que, no dia de hoje, tiveram de aguentar todos os tipos possíveis e imagináveis de humilhações para visitar os seus filhos nos presídios e que também, neste exato momento, estão chorando e reconhecendo os seus filhos mortos nas geladeiras do Instituto Médico-Legal (o fato de a maioria da população carcerária e de cadáveres nos necrotérios ser de pessoas negras deve ser mera coincidência ou simples fatalidade, pois preto deve ser tudo bandido mesmo – e bandido bom é bandido morto). É para essas mulheres que eu estou falando. São essas as mulheres que eu estou homenageando.



Que discursinho mais democracia racial da p... Você está parecendo aqueles caras do Democratas que dizem que as cotas para negros nas universidades (cuja constitucionalidade foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal em decisão unânime nos dias 25 e 26 de abril últimos) não contemplam os brancos pobres. Afinal de contas, dizem esses canalhas, o nosso problema não é racial, e sim socioeconômico (como se o racismo não fosse um problema socioeconômico), em que uns tem muito e outros não têm nada, e esse lance de cotas deve agregar critérios sociais e não raciais. Não é mesmo?

Duas coisas: 1) ao contrário do que a midiona tenta fazer a população brasileira acreditar, os brancos pobres também estão sendo beneficiados pelas cotas; 2) os brancos pobres não ocupam o mesmo lugar que os pretos pobres, até porque os brancos pobres não se reconhecem como iguais aos pretos pobres. Numa sociedade racista como a nossa, em que o racismo é estrutural e regulador das nossas relações sociais, ser branco significa ter capital simbólico. Ou você nunca ouviu um branco pobre, favelado e subempregado olhar para a cara de um preto que têm as mesmas condições de vida que ele e dizer: “pelo menos eu não sou preto igual a você”? Mas vamos deixar o sistema de cotas de lado por enquanto, pois o assunto do texto é outro. 

Se não quiser curtir, não curta. Eu nunca tive a pretensão de agradar a todos mesmo. Faça o que você achar melhor. Pois eu não tenho a menor vontade de querer mudar a cabeça de ninguém através das coisas que eu posto nas redes sociais (até porque isso é impossível; eu só posso propor, a mudança de mentalidade é decisão de cada um e eu não posso determinar isso), ou até mesmo, fazer alguém enxergar melhor. Até porque a minha formação é de professor de história e não de médico oftalmologista.

Se não quer ver o que está para além do seu umbigo e da sua redoma existencial, pode me excluir. É muito mais sensato, ou muito menos cansativo pra você e pra mim.

Combinado?


2 comentários:

  1. Roger, porquê voc~e não colocou minha resposta?

    Você está fazendo a mesma coisa que a tirania faz, manipula as informações... sua resposta não fois assim e você a diz que foi... a minha resposta, com argumentos contra certos aspectos do que vc falou, não contra tudo, pois em muitas coisas eu concordo com você, você não colocou... se você estivesse no poder, o que faria? Escravizaria os brancos? A resposta não é inverter a pirâmide da sociedade...Um abraço...obs: na próxima, seja mais honesto, coloque os fatos sem cortar e sem manipular...visto isso, sua postura que eu não conhecia, agora sim vejo que você também não tem nada a acrescentar para minha formação...

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