Ontem,
eu repassei uma postagem no Facebook sobre o Dia das Mães. Nela, havia um casal
composto por um homem preto, uma mulher preta e uma criança preta com uma
mensagem de felicitação pela data. Nada mais justo, pois, afinal de contas, o
Dia das Mães caiu neste ano em 13 de maio, data em que se comemora 124 anos de
abolição da escravatura (que eu prefiro chamar de 124 anos de chute na bunda),
e que, por pressão dos movimentos sociais, foi ressignificada como Dia Nacional
de Combate ao Racismo. E não só por isso. O que há de errado numa postagem de
felicitação ao Dia das Mães que traga uma foto de pessoas pretas? O padrão é sermos caucasianos, de estirpe europeia?. Ou será que não existem mães pretas no
nosso paraíso etnorracial?
Hoje, ao acessar o meu perfil, um conhecido meu escreveu: “Preto não é cor? Parabéns somente para as mulheres negras? Sem mais... aí não curti...”. Isso me enfureceu sobremaneira. Já dei uma resposta a ele lá mesmo no Facebook, mas resolvi dar uma resposta mais elaborada e publicar aqui para que mais pessoas tenham acesso.
Vou
repetir o que eu já escrevi: qual é a sua, cara? Você já viu alguma propaganda
do Dia das Mães com alguma negona? Alguém lembra que as mulheres pretas também
têm filhos? Se as brancas não querem nem saber que
existem mulheres pretas (a não ser quando elas precisam de uma escravinha para
limpar a merda, cozinhar, lavar e passar os panos de bunda delas, é claro), por que raios você acha que eu
deveria lembrar das mulheres brancas?
O engraçado é que pessoas como você só
reclamam da ausência de mulheres brancas
quando há um anúncio só com mulheres pretas (que são raríssimos por sinal), mas
eu nunca vi uma pessoa sentir a falta de mulheres pretas num anúncio só com
mulheres brancas (isso me lembrou de um dos episódios da temporada 2012 do
programa Esquenta, apresentado por Regina Casé, em que ela disse que estava
sendo chamada de racista porque no programa dela só tinha preto, e que por isso
ela resolveu levar algumas pessoas brancas ao programa para convencer o público
do contrário, isto é, que ela não é racista). Eu sou filho de uma mulher preta,
neto de uma mulher preta (de quem eu tenho e terei saudades eternas), conheço e
trabalho com muitas mulheres pretas que são mães, e portanto eu estou prestando
uma homenagem A ESSAS mulheres. Mulheres que são tratadas como se não
existissem; que não tem direito a um pré-natal digno e não recebem sequer anestesia quando chega a hora de dar a luz seus filhos; que
são sistematicamente maltratadas, agredidas, abandonadas e assassinadas pelos namorados e maridos (que são, na maioria dos casos, homens tão pretos quanto
elas) e que por isso têm de se virar para trabalhar e sustentar as suas
crianças; que não tem creche para colocar os filhos enquanto trabalham, e que
por isso são obrigadas a deixar os filhos menores aos cuidados do irmão mais
velho ou com a vizinha (quando elas acham uma vizinha que se disponha a fazer
isso, porque senão elas terão de abandonar seus empregos e fazer um bico aqui e
outro acolá pra garantir o pão daquele dia no sustento de sua cria); que não
têm uma escola decente para os seus filhos estudarem e buscarem um futuro
melhor (porque filho de preto tem mais é que trabalhar para ajudar no sustento
da casa; esse negócio de estudar é invenção de moda; onde já se viu, preto
querer estudar?; se o criouléu todo resolver virar doutor, quem vai lavar minha
privada?); que, no dia de hoje, tiveram de aguentar todos os tipos possíveis e
imagináveis de humilhações para visitar os seus filhos nos presídios e que
também, neste exato momento, estão chorando e reconhecendo os seus filhos mortos
nas geladeiras do Instituto
Médico-Legal (o fato de a maioria da população carcerária e de cadáveres nos necrotérios ser de pessoas negras deve ser mera coincidência ou simples
fatalidade, pois preto deve ser tudo bandido mesmo – e bandido bom é bandido morto). É para essas mulheres
que eu estou falando. São essas as mulheres que eu estou homenageando.
Que discursinho mais democracia racial da p...
Você está parecendo aqueles caras do Democratas que dizem que as cotas para
negros nas universidades (cuja constitucionalidade foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal em decisão unânime nos dias 25 e 26 de abril últimos) não
contemplam os brancos pobres. Afinal de contas, dizem esses canalhas, o nosso
problema não é racial, e sim socioeconômico (como se o racismo não fosse um
problema socioeconômico), em que uns tem muito e outros não têm nada, e esse
lance de cotas deve agregar critérios
sociais e não raciais. Não é mesmo?
Duas coisas: 1) ao contrário do que a midiona
tenta fazer a população brasileira acreditar, os brancos pobres também estão
sendo beneficiados pelas cotas; 2) os brancos pobres não ocupam o mesmo lugar
que os pretos pobres, até porque os brancos pobres não se reconhecem como
iguais aos pretos pobres. Numa sociedade racista como a nossa, em que o racismo é estrutural e regulador das nossas relações sociais, ser
branco significa ter capital simbólico. Ou você nunca ouviu um branco pobre,
favelado e subempregado olhar para a cara de um preto que têm as mesmas
condições de vida que ele e dizer: “pelo menos eu
não sou preto igual a você”? Mas vamos deixar o sistema de cotas de lado
por enquanto, pois o assunto do texto é outro.
Se não quiser curtir, não curta. Eu nunca
tive a pretensão de agradar a todos mesmo. Faça o que você achar melhor. Pois eu
não tenho a menor vontade de querer mudar a cabeça de ninguém através das
coisas que eu posto nas redes sociais (até porque isso é impossível; eu só
posso propor, a mudança de mentalidade
é decisão de cada um e eu não posso determinar isso), ou até mesmo, fazer
alguém enxergar melhor. Até porque a minha formação é de professor de história
e não de médico oftalmologista.
Se não quer ver o que está para além do seu
umbigo e da sua redoma existencial, pode me excluir. É muito mais sensato, ou
muito menos cansativo pra você e pra mim.
Combinado?
Muito bom!
ResponderExcluirRoger, porquê voc~e não colocou minha resposta?
ResponderExcluirVocê está fazendo a mesma coisa que a tirania faz, manipula as informações... sua resposta não fois assim e você a diz que foi... a minha resposta, com argumentos contra certos aspectos do que vc falou, não contra tudo, pois em muitas coisas eu concordo com você, você não colocou... se você estivesse no poder, o que faria? Escravizaria os brancos? A resposta não é inverter a pirâmide da sociedade...Um abraço...obs: na próxima, seja mais honesto, coloque os fatos sem cortar e sem manipular...visto isso, sua postura que eu não conhecia, agora sim vejo que você também não tem nada a acrescentar para minha formação...