segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Reis e Ratos: puta desperdício de tempo


Sábado à tarde, estava em casa com a minha digníssima sem ter o que fazer e em busca de algum entretenimento. Devido à nossa vontade de sair e após alguns minutos sem nenhum indicativo de para onde ir, resolvemos rumar ao cinema para ver Reis e Ratos. Não havia lido nada sobre o filme: uma nota publicada numa revista, uma resenha do caderno cultural do jornal A Tarde, uma análise feita por algum crítico da moda ou coisa que o valha. Me limitei somente a uma propaganda que vi no Jornal da Metrópole e ao título do filme, que achei instigante. A única informação que busquei foi o elenco principal. Quando vi os nomes de Paula Burlamaqui, Rodrigo Santoro, Seu Jorge, Otávio Müller e especialmente de Selton Mello, concluí que seria bom arriscar. Quebrei a cara.

Putesgrila! O filme é confuso do começo ao fim (até o fim, eu já não digo porque saí antes. Pelo menos até a última cena que eu vi). Quando soube que a história estava periodizada na década de 1960, quando apareceram os primeiros personagens fazendo alusões à guerra contra o comunismo, o símbolo da foice e do martelo e os caracteres inicialmente no alfabeto cirílico e, logo em seguida, traduzidos para o alfabeto latino, pensei que o filme versaria sobre alguma coisa relacionada ao período da Guerra Fria, mundo bipolar, divisão do mundo entre capitalistas e comunistas, Estados Unidos de um lado e União Soviética do outro, essas coisas. De fato, o enredo do filme está situado nesse período histórico, mas eu não consegui ver a ligação entre uma coisa e a outra. Eu até me esforcei, mas não deu. Assisti ao filme durante mais de uma hora, mas, por não ter conseguido entender nada, joguei a toalha e casquei fora.

Eu não fui o único. A minha digníssima, cuja paciência é bem menor do que a minha, chegou a cochilar nas primeiras cenas por não aguentar tanta chatice, mas não debandou logo de cara após olhar para o lado, me ver concentrado, achar que eu estava entendendo alguma coisa e não querer estragar meu prazer (antes ela tivesse feito o contrário). Uma quantidade significativa de pessoas também debandaram da sala muito provavelmente por não terem compreendido porra nenhuma. Quando eu disse que estava “voando” e propus a debandada, ela aceitou imediatamente e, ato contínuo, “pegamos a pista”.

Eu até gosto do trabalho de Selton Mello; para mim, ele é um ator fantástico. As atuações dele em Meu Nome Não É Johnny e em Jean Charles foram memoráveis, mas é a terceira vez que eu saí puto do cinema por não ter conseguido entender a mensagem que ele quis passar. A primeira vez foi quando eu assisti a O Cheiro do Ralo, filme do qual eu não compreendi nada e não sei por onde começou, muito menos onde terminou. A segunda foi quando eu assisti a O Palhaço. Saí de casa cheio de expectativas: porra, deve ser legal, o primeiro filme dele como diretor, ainda mais contracenando com Paulo José, uma boa pedida, vou lá conferir. Resultado: me estrepei. A terceira (e, acredito eu, derradeira) foi no último sábado.

E não venham me dizer que o problema foi meu. Eu não sou o arauto da intelectualidade (estou longe disso), não sou cinéfilo (pelo menos não me considero assim), não sou crítico de cinema, nenhum José Wilker ou Rubens Ewald Filho da vida, mas também não sou nenhuma anta. Não sei vocês, mas eu, já há algum tempo, parei de pensar que a culpa é sempre minha por não ter entendido um filme ou um livro. A culpa pode ser também da pessoa que escreveu, por que não? As pessoas falam a partir de códigos que são inteligíveis (eu tenho de ter a capacidade de entender, mas a pessoa que escreve ou produz também tem de ser clara ao emitir a mensagem). Se a diretora Paula Lavigne e a equipe de produção do filme usou uma linguagem confusa demais, acessível somente a elas mesmas e olhe lá, eu sou culpado por não ter captado o que ela tentou dizer (se é que ela quis dizer alguma coisa)? Devo me considerar intelectualmente limitado por isso? Eu sei que não terei tempo de vida para entender tudo (e nem sei se isso é necessariamente bom), mas também não acredito que devo pensar que sou uma besta quadrada por ter passado mais de uma hora vendo uma porra de um filme e não ter assimilado nada do que vi. E mais: além de o meu senso pretensamente intelectualóide não estar ligado o tempo todo (será mesmo?), eu estou convencido de que há coisas na vida que não foram feitas para serem entendidas. Ou eu aceito, ou eu não aceito. Eu penso assim, e ninguém tem obrigação de concordar comigo (e nem o direito de me xingar por eu pensar dessa forma).

Não vou perder um minuto do meu sono sofrendo por não ter conseguido entender um filme ou um livro. Já perdi, mas não perco e não perderei mais. Eu não consegui entender esse, mas já entendi e tenho certeza de que ainda entenderei muitos outros. A vida é muito curta.

Bola pra frente que atrás vem gente. Eu já perdi muitas batalhas, mas as que entram – e entrarão - no meu currículo são as que eu ganhei e as que eu ainda vou ganhar. Viremos a página e prossigamos.

Para finalizar: eu não sou nenhum ditador. Eu não escrevi esse texto para dizer o que as outras pessoas devem fazer. Se quiserem ignorar o que eu disse e ir ao cinema ver esse filme, vão e vejam. Afinal, cada um tem o direito de fazer o que quiser (e esse texto não é nenhuma resenha fílmica, ou pelo menos não o escrevi com esse caráter). Não é porque eu não entendi o filme que ninguém mais vai entender. Como já disse Martha Medeiros, “eu não sirvo de exemplo para nada. Mas se alguém quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes”.

2 comentários:

  1. Você está mais bem informado que eu, não tinha ouvido falar desse filme.

    Por outro lado adorei "O Palhaço". Acho que estou ficando mateiga derretida, pois chorei em muitas sequencias do filme dirigido por Mello. Adorei a opção da linguagem "Clown". Mas gosto é igual a c... e todo mundo tem o seu.

    Vou procurar para ver se consigo ver esse tal de Ratos e Reis e depois lhe digo.

    Abração.

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  2. Reis e Ratos, Marquito. Não troque a ordem das palavras.

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