Sou militante antirracista há sete anos. Entretanto, percebi depois de um certo tempo que não basta lutar só contra o racismo por uma razão bem simples: o racismo não age sozinho. A homofobia, o preconceito de classe e o machismo, por exemplo, são ideologias tão destruidoras quanto a primeira e não agem isoladamente. Muito pelo contrário.
Eu fui criado com base em todos esses valores (e quem não foi?), e resolvi lutar contra todos eles assim que tomei consciência disso. Para tanto, resolvi ir hoje à Marcha das Vadias em Salvador. O movimento, que teve como epicentro a cidade de Toronto, no Canadá, já aconteceu em vários países e algumas capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Brasília, Recife e Fortaleza, pelo que sei) e, aqui em Salvador, foi realizado em concomitância com as comemorações dos 188 anos da Independência do Brasil na Bahia e transcorreu com muita tranquilidade, descontração e uma forte contestação ao machismo e ao sexismo reinantes em nossa sociedade.
Várias foram as bandeiras levantadas pelas manifestantes (descriminalização do aborto, apoio à causa LGBT, repúdio à usina de Belo Monte), mas a mais enfatizada nas faixas e cartazes foi o enfrentamento à cultura do estupro. Todas as participantes fizeram questão de contestar a ideia que divide as mulheres desde cedo entre “santas” e “putas”, reivindicaram o direito inalienável de serem donas dos seus corpos e repudiaram o pensamento dominante que, ao invés de condenar o agressor, coloca sobre as vítimas a culpa por terem sofrido violência sexual – como se fosse possível alguém pedir para ser violentada, espancada, torturada e até assassinada com requintes de crueldade.
A causa é nobre, a iniciativa é louvável, os motivos são justos, mas apesar disso houve quem tentasse desqualificar os propósitos da Marcha. Em um dado momento, um babaca apareceu na janela da casa dele vestindo uma camisa vermelha com a mensagem “A minha camisa fica vermelha quando eu fico excitado” e começou a fazer deboche da cara de algumas manifestantes (que prontamente responderam ao imbecil com uma sonora vaia). Minutos depois, a minha esposa se aproximou de mim e disse que ouviu um sujeito negro, gordo, vestindo uma camisa que trazia uma imagem de uma mulher com o cabelo black power olhar para a manifestação e dizer: “isso tudo é uma tremenda baixaria”. Ou seja, o sujeito se diz (ou pelo menos aparenta ser) um ativista antirracista, mas acha que mulher tem que ficar em casa esquentando a barriga no fogão, esfriando no tanque e cuidando dos filhos.
(É óbvio que não foram todos os homens que agiram assim. Aqueles que se solidarizaram com a causa foram muito bem recebidos e tratados pelas mulheres presentes, o que mostra que esse clima de guerra dos sexos não leva a lugar algum e que as feministas não são naturalmente androfóbicas ou, como se diz atualmente, feminazis.)
Quis tirar muitas fotos, mas não tirei porque a minha máquina deu defeito. Só consegui tirar cinco. É pouco, mas foi o que eu consegui e por isso vou coletivizar convosco. Confiram abaixo:
Obrigada pelo apoio e iniciativa de reivindicar conosco nosso direito de sermos respeitadas e punir os verdadeiros culpados por toda forma de agressão a mulher!
ResponderExcluirNossa, que bacana, não sabia desta marcha, os motivos são mais que justos.
ResponderExcluirMe sinto feminista, me percebo assim e acredito que na atualidade o feminismo tem uma nova faceta, não precisamos mais do radicalismo de queimar sutiãs, o que foi muito importante, nem graças a Deus estamos nos tempos sombrios onde protestar por melhores condições de trabalho levam a morte em fábricas.
Acredito que hoje o que necessitamos é de que os direitos sejam iguais respeitando as diferenças. Quero dizer, a mulher não precisa querer ser fisicamente mais forte que o homem, o homem é mais forte e isto é um fato, o que não nos retira a existência de uma força porém, com outra intensidade.
Muitas de nossas diferenças são construções culturais que dão ao menino o carrinho pra brincar e a menina a boneca pra cuidar, sendo algo altamente questionável.
As diferenças biológicas, estas sim, se complementam e o nosso desafio atual é buscar esta troca mútua sem rivalidade.
Até porque acredito que o masculino e o feminino existem em ambos os sexos e não tem nada a ver com opção sexual, por isso existem mulheres machistas e homens feministas por exemplo.