quinta-feira, 13 de maio de 2010

Rio de Janeiro: Auschwitz Versão Brasileira*

Recebi hoje um email com um manifesto de um bloco de carnaval chamado Se Benze que Dá, que está capitaneando um protesto contra a construção de um muro que cerca as comunidades da Maré, localizada na cidade do Rio de Janeiro. A justificativa dada pelos governos estadual e municipal para esse absurdo é que, além de contribuir para a melhoria de vida (!) e proteger as crianças das comunidades do risco de serem atropeladas (!!), o muro servirá como "barreira acústica" (!!!). Entretanto, sabe-se muito bem que o real objetivo de tal medida é esconder as favelas do campo de visão dos turistas que visitarão a "cidade maravilhosa" durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 - além de ser uma ótima medida para aumentar a criminalização da pobreza e assim tornar mais eficaz a opressão contra os pretos, pobres e favelados da cidade, é claro.

O custo total dessa ignomínia será de R$ 20 milhões. Pergunto: se o objetivo fosse mesmo melhorar as condições de vida dos moradores da Maré, por que os governos municipal e estadual não pensaram em usar essa grana para construir escolas, postos de saúde e creches dentro da favela, além de aperfeiçoar o sistema de escoamento da água da chuva? Seria muito melhor fazer isso do que tentar empurrar a sujeira para baixo do tapete (não que eu pense que os moradores da Maré são sujeira, é claro).

Ao ver esse vídeo, eu me lembrei imediatamente das medidas tomadas pelos governos da África do Sul na era do apartheid para manter os pretos confinados nos bantustões e distantes das áreas nobres das principais cidades sul-africanas. É ou não é muito parecido?

Só falta o prefeito do Rio de Janeiro baixar um decreto exigindo que os moradores da Maré apresentem um passe aos policiais toda vez que desejarem sair da comunidade. Eu não ficarei nem um pouco surpreso se isso acontecer (se bem que, na prática, isso já acontece).

Vale salientar que isso não é coisa nova. Ainda de acordo com o manifesto divulgado pelo bloco carnavalesco supracitado, o Governo tentou fazer a mesma coisa em 2003 e 2004 como forma de "embelezar" a cidade para os Jogos Panamericanos de 2007 - mas não conseguiu. Agora, com a realização dos dois maiores eventos esportivos do mundo, parece que as autoridades cariocas estão decididas a empenhar todos os esforços possíveis para erguer essa coisa horrenda e vergonhosa que mais lembra os campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial. Com base nisso, digo que também não ficarei surpreso se o governo colocar cercas eletrificadas no alto dos muros e policiais armados em guaritas com ordem para atirar em quem tente sair da favela sem autorização, mas é claro que isso não será feito (pelo menos não tão explicitamente). Dará muito na vista.

Confiram o manifesto:

*O título deste post é uma paráfrase da música "São Paulo: Auschwitz Versão Brasileira", do grupo de rap Facção Central. Se quiserem escutá-la (coisa que eu recomendo), ela está no CD Direto do Campo de Extermínio.

2 comentários:

  1. Bom tarde Rogério,
    Aproveitando o ensejo da sua postagem que tem uma ligação direta com a história, como ando interessada em conhecê-la para além do que os livros didáticos convencionais nos trazem, te pergunto quais livros você indica para conhecer melhor primeiramente a nossa América latina? E entre eles estão As Veias Abertas de Galeano?
    Desde já obrigada.

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  2. Comece por esse aí. Assim que eu lembrar mais algum, citarei aqui para ti.

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