quinta-feira, 2 de julho de 2009

Nós somos tão inocentes assim?

Hoje, uma coisa que me deixou bastante intrigado. Estava assistindo ao Brasil Urgente, apresentado por José Luiz Datena, e vi uma reportagem sobre um acidente ocorrido com uma van que fazia transporte escolar clandestino no Rio de Janeiro, acidente esse que causou a morte de quatro crianças. Foi um verdadeiro festival de irregularidades: a van não estava preparada para transportar crianças, não possuía a faixa amarela com a palavra "Escolar", não havia cinto de segurança para todos os passageiros, não havia uma pessoa para controlar a entrada e a saída dos estudantes, e, para completar, o motorista não tinha carteira de habilitação. Ou seja, não havia a menor possibilidade de essa história ter um final feliz.

No enterro, os pais, mães e parentes dos mortos estavam consternados e revoltados. Todas as pessoas, além de lamentar a morte das crianças, estavam xingando o motorista, dizendo que ele era "irresponsável", "assassino", que ele "merece apodrecer na cadeia", que ele "deve pagar pelo que fez". O protesto que mais chamou a minha atenção foi o de uma mulher que estava gritando a plenos pulmões que "esse motorista matou a minha filha, a minha única filha... Esse irresponsável tirou de mim a única filha que eu tinha... Eu quero justiça!!". Imagino eu que as reações das outras pessoas não foram muito diferentes.

Agora, eu quero fazer uma perguntinha cruel: ninguém viu isso? Será possível que nenhum dos pais, mães e responsáveis se preocupou em checar a qualidade do carro em que os seus filhos seriam transportados todos dias da casa para a escola e da escola para casa? Por acaso essa mulher que chamou o motorista de "irresponsável" e "assassino" foi à escola averiguar as condições do carro em que a sua filha viajaria todos os dias, isto é, saber se o carro havia sido vistoriado pelo DETRAN, se havia extintor de incêndio; ela procurou investigar se o motorista tinha carteira de habilitação?? Ela prestou atenção ao fato de o carro não possuir a faixa amarela com a palavra "Escolar"?

Não estou dando uma de advogado do diabo, mas fazendo uma análise crítica e fria da situação (ou pelo menos tentando). Fica fácil jogar a culpa em cima do motorista (não que ele não tenha a sua parcela de responsabilidade na tragédia, é claro); fica fácil pintá-lo como o "boi ladrão" da história, mas o que se pode esperar de uma situação dessa? É muito cômodo fazer vistas grossas para todos esses absurdos em nome de uma pretensa facilidade e atraídos pelos "preços mais em conta" e depois colocar o fardo em cima do motorista depois que a merda aparecer.

Várias vezes, a minha mãe disse que tinha (acho que não tem mais) vontade de trabalhar com transporte escolar depois que se aposentar. Ela disse que faria questão que a van dela fosse toda legalizada, ou seja, vistoriada pelo DETRAN, com cinto de segurança para todas as crianças, extintor de incêndio, uma pessoa para levar e trazer as crianças do carro até a porta de casa, e carteira de habilitação D, direção defensiva e o caralho. Contudo, depois de algum tempo ela se convenceu de que infelizmente poucos seriam os pais e mães que lhe contratariam para transportar os seus filhos. Afinal de contas, "fulaninho de tal também faz transporte escolar, não tem 'nenhuma dessas frescuras' no carro dele e cobra bem mais barato pelo mesmo serviço. É daqui pr'ali, não vai acontecer nada".

É por causa disso que acidentes desse tipo acontecem quase todo dia por esse brasilzão afora. Só aqui no bairro onde eu moro houve três (pelo que eu me lembro), também com vítimas fatais. Provavelmente os pais e mães dessas crianças procederam da mesma forma.

2 comentários:

  1. Concordo.
    Mas por que raios tu tava vendo o Datena, mesmo?!?

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  2. Quem ligou a TV para assistir ao programa dele foi a minha mãe, pois ela gosta de ver o programa dele. Eu havia acabado de sair da cozinha na hora, e resolvi parar para ver a reportagem (eu não "estava passando e vi de relance", como muitos dizem).

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