Recebi uma postagem hoje no
Facebook: a imagem de uma parede pichada com a mensagem: “Os ricos têm medo das
cotas?” Comecei a escrever uma resposta lá mesmo no Face, mas resolvi
desenvolvê-la um pouco mais e publicá-la aqui no meu blog.
Com toda certeza. Afinal de
contas, conhecimento é poder. E, por conta disso, ele sempre foi enclausurado
nas universidades para usufruto de uma minoria seletíssima.
O racismo não tem nada a ver com
ignorância. Esse papo de que as pessoas que estudaram menos tendem a ser mais
racistas do que as pessoas que estudaram muito não se sustenta na prática. Há
médicos, advogados, psicanalistas, professoras, dentre outras, que estudaram
muito, têm mestrado, doutorado, Ph.D. na Universidade de Paris e o caralho e
que continuam acreditando que o negro é inferior ao branco. Seria desnecessário
– e enfadonho – citar exemplos.
Além do mais, devemos lembrar que
as teorias racistas, que afirmavam a pretensa inferioridade natural do negro,
bem como as ideias que diziam que a mulher era intrinsecamente mais débil e
frágil do que o homem, o que a tornava incapaz de votar e trabalhar fora, por
exemplo, foram criadas na universidade. Médicos, biólogos, filósofos e demais
pessoas pertencentes às elites intelectuais do seu tempo criaram as suas ideias
de dominação e usaram a legitimidade acadêmica para dar mais veracidade às suas
teorias odiosas. O racismo é uma invenção de elites intelectuais, não de
pessoas ignorantes e iletradas. Como disse Carlos Moore em Racismo e Sociedade, o racismo é um sistema de poder, não um
sentimento pessoal isolado.
E as cotas, apesar de ser uma
medida incompleta e insuficiente para corrigir as abissais desigualdades sociais brasileiras, estão provocando tanto furor nos círculos mais
conservadores da nossa sociedade justamente por isso: por possibilitar aos
grupos subalternizados, excluídos e invisibilizados o acesso a esses
conhecimentos, que nos permite combatê-los precisamente no lugar em que são
criados. De posse dessas ferramentas, nós passaremos a conhecer o funcionamento
das engrenagens sociais que regem as nossas vidas e, ato contínuo, começaremos
a pensar em transformá-las. E é isso que as elites brasileiras não querem: que
a ordem social mude; que os lugares reservados historicamente aos seus filhos e netos não sejam ocupados pelo filho da empregada ou pela neta da lavadeira. Como bem disse Malcolm X, sem racismo não há capitalismo.
E é por conta disso que os ricos têm, sim, medo das cotas.
Perfeito....
ResponderExcluirperfeito o texto, e assustador o cenário que ele retrata....
Muito bom Rogério.Principalmente a parte na qual o senhor cita que "Afinal de contas, conhecimento é poder." Nunca que as "elites" vão querer este poder nas mãos das pessoas menos favorecidas ,ou seja,mais pobres.
ResponderExcluirConhecimento é umas das armas mais fortes e eficaz que existe,e é com este poder que eles, a "elite",consegue nos ter nas mãos.
Imagine só,se nós pobres,negros,favelados,entre outros termos que eles ultilizam,começasse a ter este poder,sairiamos de uma vez desse cenário no qual vivemos,pois aprenderiamos a contextar e lutar.
Como disse o Facção Central, "imagine só o mendigo entendendo a Constituição".
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