Tenho assistido à televisão muito pouco ultimamente, e talvez por isso eu sempre vejo algo que me chateia, me revolta ou me estarrece toda vez que eu paro em frente ao televisor. Ontem, estava assistindo ao Fantástico quando vi, no começo do programa, uma chamada do quadro O Conciliador, com Max Gehringer, cuja “atração” foi o encontro da mãe de um adolescente de 15 anos - uma mulher de classe média-alta - que foi atropelado
A mãe da vítima ficou a todo instante ressaltando a frieza e o descaso do atropelador ao dizer que ele nunca telefonou para saber como estava a vítima, nunca deu atenção, nunca foi visitar o filho dela, dentre outras coisas. Também foi enfatizado a todo tempo que o atropelador, apesar de não ter fugido, não ajudou a vítima e nem chegou perto para saber como ele estava. Ora bolas, que tipo de ajuda o rapaz podia prestar ao menino?! O sujeito não é médico, estava em estado de choque, totalmente descontrolado, mal se agüentava em pé; se ele chegasse perto e tentasse fazer alguma coisa, ele fatalmente teria piorado tudo e agravado as lesões que a vítima sofreu. E se isso fosse feito, é bem provável que o adolescente já nem estivesse mais vivo para contar história. Ao meu ver, ele agiu certo: permaneceu no local do acidente e esperou a ambulância chegar para levar a vítima ao hospital. Que mais alguém quereria que ele tivesse feito, ó céus?
A matéria ressalta que a mãe da vítima não tinha nenhuma intenção inicial de fazer com que o atropelador respondesse criminalmente pelo crime, mas optou por propor uma conciliação entre ela e o atropelador depois de ouvir os protestos do filho contra o que ele teria qualificado de omissão, pois, ainda de acordo com as declarações atribuídas ao adolescente, não era justo que o atropelador saísse ileso da história.
Ficou claro que o acusado teve poucas oportunidades de dar a sua versão do caso (ele até teve na hora em que a mediadora foi à casa dele oferecer a proposta da conciliação, mas não teve o mesmo tempo que a mãe da vítima no decurso da exibição da matéria), tanto que antes de exibir as declarações de Vivaldo (nome do motorista), o apresentador Zeca Camargo disse que ele tentou se justificar. Quando vi o momento em que o acusado chegou ao tribunal, sentou-se na antessala para esperar o início da audiência, e a mãe da vítima disse “ei, você que é o Vivaldo? Eu sou a mãe do adolescente que você atropelou”, eu pude até adivinhar o que aconteceria logo em seguida.
No decurso da audiência, a diferença de classe e de tratamento entre as partes ficou mais do que explicitada. Só não viu isso quem não quis. A mediadora, que em tese deveria conduzir a sessão, ficou o tempo todo calada e deixou a mãe da vítima determinar o rumo das coisas. Ela falou o que quis, durante o tempo que quis; ela passou a palavra para o acusado (quando na verdade era a mediadora que deveria fazer isso) e arregalou bem os olhos para encarar o acusado enquanto ele falava e dava a sua versão do fato. O cabra chorou, pediu desculpas, disse que não teve culpa no acidente; no momento em que foi dito que a pele da vítima teve de ser escovada para que os resíduos de asfalto fossem retirados, Vivaldo chorou tanto que houve até a necessidade de interromper a audiência para que ele pudesse se recompor. Na volta, aconteceu o fato mais escandaloso: a mediadora perguntou à mãe do menino qual era a pena que ela quereria que o acusado cumprisse. Porra, mas não deveria ser a mediadora que deveria propor isso? Que poder a mãe da vítima tinha para determinar a punição? Gente, eu me recuso a acreditar que fui a única pessoa que viu e se indignou com isso.
Para terminar, eu só quero fazer mais uma provocação: toda essa celeuma só foi feita porque foi um pobre que atropelou o filho de uma família de classe média. Entretanto, a mesma coisa teria acontecido se uma mulher ou um homem de classe média-alta tivesse atropelado uma das filhas do pintor?
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