quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Somos tão corruptos quanto qualquer político brasileiro (concordam com isso ou eu estou exagerando?)

É costume entre os brasileiros reclamar da má conduta dos políticos, dos mensalões, dos escândalos dos dinheiros na meia e na cueca, do nepotismo, da troca de favores, do tráfico de influência e de tantas outras coisas que já são figurinha carimbada nos telejornais e já fazem parte do nosso anedotário (ao invés de reagir contra esse estado de coisas, nós fazemos piadas e paródias que só contribuem para naturalizar esses crimes). É difícil não achar uma pessoa que se mostre indignada com isso tudo. Entretanto, a observação atenta e o acúmulo de experiências colocaram algumas questões na minha cabeça: nós somos tão inocentes e ingênuos assim? Que moral nós temos para falar dos desmandos cometidos pelos nossos "representantes"? Somos tão honestos quanto aparentamos nas nossas relações cotidianas? As pessoas que reclamam e ficam putas da vida com esses escândalos o fazem porque acham inaceitável que aqueles "que deveriam dar o exemplo" façam coisas desse tipo com o dinheiro público ou porque não estão lá para tirar a sua lasquinha também? Agiríamos diferentemente se por acaso estivéssemos no lugar deles (nem que seja por pouco tempo)? Como nós nos comportamos quando temos um poderzinho de nada nas mãos?

Também ficamos igualmente irados quando alguém usa a posição de poder ocupada por algum parente próximo ou amigo para obter favores pessoais ou livrar-se das malhas da lei (práticas conhecidas culturalmente pela sigla “QI” e pelo bordão “você sabe com quem está falando?”). Mas quando nós conhecemos alguma pessoa relativamente poderosa e temos consciência de que obteremos um documento ou um serviço de maneira mais rápida e menos burocrática (embora totalmente ilícita ou antiética e em alguns casos injusta e/ou indecente) se recorrermos a ela, de que forma nós nos comportamos: agimos de acordo com a lei e as regras ou, como bem disse o general Jarbas Passarinho, “mandamos às favas os escrúpulos da nossa consciência”?

Ontem, eu e a minha namorada estávamos indo ao supermercado. No meio do caminho, um vizinho meu passou de carro e perguntou se nós queríamos uma carona. Aceitamos. Ele já dirige há um bom tempo, possui carro próprio desde 2008, mas não tem carteira de habilitação. Como já sabia disso, perguntei se ele já havia tirado a carteira (apesar de ele morar perto de mim, nem sempre tenho oportunidade de conversar com ele com frequência). Ele disse que não porque, segundo ele, "ainda não teve tempo" para ir ao DETRAN a fim de realizar os procedimentos necessários para a obtenção do documento. Pedi para ele tomar cuidado, pois em tempos de carnaval a fiscalização fica mais rigorosa – ao menos midiaticamente. Após ouvir isso, ele disparou logo em seguida e sem a menor cerimônia: “porra nenhuma, Rogério! Eu tenho as costas quentes. Para mim, não dá nada. Se a fiscalização me pegar, basta eu dar um telefonema que tudo estará resolvido”. Como forma de demonstrar poder, ele ainda levantou o celular e bateu na tela do aparelho duas vezes com a unha do dedo indicador direito.

É claro que eu não disse nada na hora. Mas depois que eu saí do carro, eu me virei para a minha namorada e disse o seguinte: “está vendo por que eu sempre digo que esse país não vai mudar nunca?”.

2 comentários:

  1. Realmente, enquanto o discurso for da boca para fora, enquanto não se traduzir em ações, o que resta é a hipocrisia de jogar pedra no telhado do vizinho com teto de vidro.
    É fácil falar da corrupção dos outros e ao mesmo tempo achar lícito quando é para si e, obter as coisas de forma mais rápida, mais cômoda, utilizando-se de “influências”, assim como é fácil falar da violência que os jornais mostram e esquecer que ela nasci em nossas residências desestruturadas, onde familiares não se respeitam, vivem em pé de guerra por qualquer mesquinharia e oferecem a suas crianças o dissabor de uma educação deformadora.
    Precisamos é de caráter, convicção e atitude, não dá pra ser honesto porque não tem oportunidade de não sê-lo, até ter a chance de vender o voto, achar uma carteira com identificação pela frente e não devolver, ou furar uma fila porque ninguém está vendo.

    ResponderExcluir
  2. Rui Barbosa foi bem claro ao dizer que a ocasião não faz o ladrão. Revela.

    ResponderExcluir