quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Piada de mau gosto

Um dos instrumentos mais poderosos a serviço do racismo são as piadinhas. Digo isso porque o riso é um sinal de aceitação, isto é, tendemos a aceitar e naturalizar aquilo que nos faz rir. E é justamente aí que o racismo mostra a sua faceta mais tenebrosa. Afinal de contas, quem nunca ouviu uma pessoa dizer por aí coisas do tipo "branco correndo é atleta, preto correndo é ladrão"; "branco vestido de branco é médico, preto vestido de branco é macumbeiro"; "branco subindo montanha está praticando esporte radical, preto subindo montanha está voltando para casa"?

Confiram essa piadinha de péssimo gosto que recebi por email. Leiam e tirem as suas conclusões, se quiserem:



Antigamente se ensinava e cobrava tabuada, caligrafia, redação, datilografia...
Havia aulas de Educação Física, Moral e Cívica, Práticas Agrícolas, Práticas Industriais e cantava-se o Hino Nacional, hasteando a Bandeira Nacional antes de iniciar as aulas..


Leiam relato de uma Professora de Matemática:

Semana passada comprei um produto que custou R$15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer.

Tentei explicar que ela tinha que me dar R$5,00 de troco, mas ela não se
convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender.
Por que estou contando isso?

Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950, que
foi assim:


1. Ensino de matemática em 1950:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00.O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$80,00.. Qual é o lucro?

3. Ensino de matemática em 1980:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$80,00. Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( )R$ 20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00

5. Ensino de matemática em 2000:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$80,00. O lucro é de R$ 20,00.
Está certo?
( )SIM ( ) NÃO

6. Ensino de matemática em 2009:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é R$ 80,00.Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00.
( )R$ 20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00

7. Em 2010 vai ser assim:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00.(Se você é afrodescendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social não precisa responder)
( )R$ 20,00 ( )R$40,00 ( )R$60,00 ( )R$80,00 ( )R$100,00

2 comentários:

  1. Meu caro, esses tipos de piadas, essa "sem gracice", se é que existe essa palavra,se não existir, acabei de utilizar do que chamamos do famigerado neologismo, que derrotam e incutem no nosso inconsciente de que somos cientificamente incapazes. A celeuma que se estabelece no sistema de cotas abre margem nestes comentários infundados, de piadas inconvenientes, e que muitos riem em descaso ao entendimento válido do que se chama racismo no Brasil. Um país de influência européia, africana, islâmica, oriental. E ainda, há quem diga que não somos miscigenados. Às vezes gracejo ao pensar de que somos quase a composição da raça ariana ainda intacta ao aspecto perecível que se chama tempo. Somos brancos. Nina Rodrigues fez isso muito bem, na sua fundamentação de que seríamos comprovadamente inferiores. Ainda existe muitos adeptos a essa ideia, prova disso é esta piadinha de mal gosto que aqui se encontra.E não preciso ir muito longe ao especular a síntese de tudo isso que expus. Creio que lembre do caso do coordenador do curso de medicina da UFBA(Dantas) que ano passado disse que baiano só sabia tocar berimbau porque tinha apenas uma corda. Quem é que toca berimbau na Bahia, além daqueles turistas encantados com a beleza "exótica"?? Os pretos. Afrobrasileiros e alvo da constante institucionalização do racismo do Brasil.




    Até mais.

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  2. Professor, ainda no contexto do racismo, hoje 14/12, fui fazer a prova da 2ª fase da UFBA para psicologia, chegando lá, não dava para evitar a percepção de que a maioria dos candidatos de diversas áreas eram brancos ou no máximo pardos, na minha sala por exemplo só haviam três negros, realmente nada contra os brancos, afinal somos todos irmãos e todas as cores são bonitas, mas é no mínimo para se questionar por quê em um cidade de maioria negra, esse quadro não se refletiu em um espaço de poder que é o conhecimento, infelizmente ainda estamos em um patamar muito distante do ideal em termos de igualitude.

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