tag:blogger.com,1999:blog-53032627361943729732024-02-19T06:28:19.278-03:00Efemérides baianasRogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.comBlogger68125tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-10073021940495846782014-05-24T01:10:00.003-03:002014-05-24T12:05:26.616-03:00Como sofre a nossa classe média...<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">O Globo Repórter de ontem foi divertidíssimo. Um “<a href="http://classemediasofre.tumblr.com/" target="_blank">classe
média sofre</a>” daqueles. Eu quase chorei de peninha da nossa classe média
pauperizada, endividada e atolada nos financiamentos que não têm mais dinheiro
para fazer umas comprinhas no shopping, dar uma renovada no guarda-roupa e
curtir as noitadas. Os coitadinhos, agora, têm de passar pela vergonha
inominável de levar cerveja, água e comida de casa para se divertir cazamiga na
frente dos bares. Ó, céus! Ó, mar!! Ó, vida!!! Que mundo cruel!!!!<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"> </span><img src="http://embrevecasados.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/05/bebe-chorando-240x300.jpg" height="400" width="320" /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Há também quem não tenha grana nem para pagar
a taxa de consumação dos bares, e por isso passou a reunir a turma, fazer
aquela boa e velha vaquinha para comprar cerveja e petiscos e se reunir em
casa. É, meu povo, não tá fácil pra ninguém mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<a href="http://cariocadas.files.wordpress.com/2012/03/piscin1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://cariocadas.files.wordpress.com/2012/03/piscin1.jpg" height="150" style="background-color: transparent;" width="200" /></a><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><br />Eu só reparei uma coisinha:
q</span><span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">uando são os pobres que levam comida e bebida numa caixa de
isopor à praia por não ter condições de arcar com os altos preços cobrados
pelos barraqueiros, são "farofeiros". (São clássicas</span><span style="color: #141823; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"> as cenas
das novelas e seriados escritos por Miguel Falabella esculachando as pessoas
comendo um churrasquinho e tomando uma cerva no Piscinão de Ramos aos fins de
semana.) Já quando a classe média pauperizada e atolada nos financiamentos leva
comida e bebida numa caixa de isopor por não ter mais poder financeiro
para arcar com os altos custos da balada, trata-se do "isoporzinho",
um "</span><a href="http://extra.globo.com/noticias/rio/verao/moda-do-isoporzinho-um-protesto-com-cara-do-rio-11472381.html" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;" target="_blank">movimento organizado contra a carestia</a><span style="color: #141823; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">". </span></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<img src="http://extra.globo.com/incoming/11472380-ef3-c3b/w640h360-PROP/2014-684726674-2014013159115.jpg_20140131.jpg" height="225" width="400" /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Ou seja, mais uma vez, a classe média se
apropria dos costumes dos pobres, das estratégias de sobrevivência criadas por
quem tem de viver com pouco, dá outro nome, reconfigura com ares de
sofisticação, e ainda tira onda com a nossa cara.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Minha amiga Keise Valverde, estudante de
Direito e futura juíza, acabou de dar mais um exemplo dessa apropriação dos
costumes da pobreza: o bom e velho churrascão na laje, coisa de pobre e
favelado, está sendo feito pela classe média em condomínios de alto padrão na
varanda dos apartamentos e rebatizado com o pomposo nome de “Cozinha Gourmet”.
Quando isso é feito na laje do barraco do favelado, é breguice reprovável. Já
na varanda dos apartamentos, a população olha como se fosse “coisa de gente
chique”.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<img src="http://365salvador.files.wordpress.com/2013/04/churrascc3a3o.jpg" height="400" width="400" /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">(Que coisa, né, gente?! A coisa tá tão feia
que a classe média brasileira não tem nem mais condições de comemorar as
alegrias e/ou fazer a sagrada<span class="apple-converted-space"> </span><i>happy
hour</i><span class="apple-converted-space"> </span>numa churrascaria. Ê
povo que vive de aparências! A galera come ovo frito e arrota caviar.) </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Tudo isso só é bonito, revolucionário e
contestador da ordem capitalista quando não é um pobre que está fazendo, como
disse a companheira e baderneira Inajara Salles. Vá você fazer a mesma coisa
para ver qual será a reação do povo! Ela disse que, certa vez, causou
estranheza pública ao sacar e comer uma banana dentro de um shopping. Eu não
vou nem contar o deboche que eu tinha de aguentar dos meus colegas de turma nos
meus tempos de graduação quando eu comprava banana para comer durante as aulas
de História da África.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Na segunda parte do programa, foi exibido o
martírio de uma loiruda da classe média paulistana que, agora, têm de passar
pelo tormento de comprar roupas novas só quando há promoções - coisa que a
gente faz desde sempre e a nossa imprensa escrota não está nem aí. Tadinha da
bichinha! Ela só dispõe atualmente de reles cem reais para adquirir sapatos,
blusas, vestidos e calças novas – sendo que ela tem um<span class="apple-converted-space"> </span><i>closet</i><span class="apple-converted-space"> </span>recheado de roupas e sapatos que nunca
foram usados. Enquanto isso, eu estou aqui esperando o fechamento da fatura do
cartão para comprar um tênis novo parcelado em cinco vezes sem juros, com
primeiro pagamento só em julho.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Uma calça nova, então, só “de caju em
caju”, como dizem os mais saudosos. E olhe lá. Eu preciso inspecionar as que
tenho em casa para ver qual é a que está mais surrada e colocá-la para
trabalhar. As mais conservadinhas, eu deixo separadas para não chegar a um evento mais requintado e descontraído com a mesma cara de quem vai à guerra todo dia. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Na última parte do programa, foi exibida a
grande descoberta feita pela nossa classe média escorchada de impostos para
driblar os altos preços cobrados pelos restaurantes:<span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,levar-marmita-para-o-trabalho-agora-e-fashion,749095,0.htm" target="_blank">levar marmita</a>. O curioso é que eu faço
isso todo dia e ninguém me entrevista. Minha esposa, coitada, fez isso durante
os cinco anos de graduação dela e ninguém a procurou para fazer uma matéria
sobre isso. Por que será, minha gente?</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">Ela ainda fez questão de ressaltar que não
levava somente o almoço. Havia dias em que ela levava comida para todas as
refeições diárias: iogurte para o desjejum (se ela parasse para desjejuar em
casa, perderia a marinete e chegaria atrasada às aulas), água, suco, almoço,
frutas e biscoitinhos para morder durante as aulas e as viagens de buzu da
faculdade para o trabalho, e o jantar. Um peso desgraçado que a pobrezinha
tinha de carregar todo santo dia, e nunca apareceu um sacana de um jornalista
para fazer uma matéria sobre a rotina dela.</span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<img src="http://inteligenteonline.files.wordpress.com/2012/11/faculdade-como-eu-imaginei-x-como-e1.jpg?w=600" height="312" width="400" /></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Ela também destacou que as colegas de turma
faziam a maior chacota quando ela metia a mão na bolsa para tirar um lanche. Um
quiquiqui cacacá danado. Tanto na faculdade quanto em casa. Todos e todas
diziam que a mochila dela parecia lancheira de criança de tanta comida que ela
carregava dentro. (Estavam todos na mesma situação que ela, mas tinham vergonha
de fazer o que ela fazia. Ninguém levava porra nenhuma, debochava da cara dela,
mas, às escondidas, pedia um biscoitinho para suportar a fome até a hora do
almoço.)</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Só que quando somos nós que fazemos isso,
ninguém dá atenção. Ninguém quer ver. Ninguém quer mostrar. Já quando é alguém
da classe média, é um deus-nos-acuda.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span><br />
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Uma coisa eu aprendi depois que comecei a me envolver com esse negócio de Movimento Negro: quando os ricos começam a reclamar, os pobres já estão mortos há muito tempo. </span></div>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="background: white; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;">.</span><span style="color: #141823; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-90458528968309767522014-04-17T19:12:00.003-03:002014-04-17T19:13:09.985-03:00O que vi do cenário de terror decorrente da greve da PM baiana<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Acabou a greve dos policiais
militares do estado da Bahia. Hoje à tarde, a categoria aceitou a proposta
feita pelo governador Jaques Wagner e pôs fim a mais uma temporada de pânico
generalizado em Salvador. Contarei neste relato um pouco do que eu vi durante esses
dias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Saí hoje, bem cedo, para
buscar minha tia na Rodoviária. Ela escolheu a pior hora para vir a Salvador,
mas isso não vem ao caso. Esse não é o melhor lugar e essa não é a melhor hora
para discutir os méritos da questão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">O que interessa é que eu não
podia deixar a minha tia sozinha a se aventurar em sair da Rodoviária rumo a
Cajazeiras sem transporte público na rua, sem dinheiro para pagar corrida de táxi
e aturdida com o caos instalado na cidade. Por intermédio de alguns contatos, consegui
contratar os serviços de um motorista particular. Como ele não conhece a minha
tia e a minha tia não conhece o cara, pedi para ele vir a minha casa para daqui
seguirmos rumo ao Terminal Rodoviário de Salvador. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Sugeri que fôssemos pela Estrada
Velha do Aeroporto, passássemos pelo Setor C de Mussurunga e caíssemos na
Paralela pela direita da Estação Mussurunga. Ele discordou, e propôs que
seguíssemos pela Estrada do Coqueiro Grande, entrássemos em Cajazeira 8,
descêssemos a ladeira do fim de linha e seguíssemos pela Via Regional. Não vi
nada de mais, gostei da ideia, e assim demos continuidade ao processo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A Via Regional estava
totalmente macabra. Escura, sombria, sem um pé de pessoa na rua, e um clima
péssimo. Um verdadeiro cenário de terror. Ao chegar próximo à Battre, nas
imediações do Barradão, vi dois corpos de homens assassinados a tiros jogados
na calçada. O motorista ainda diminuiu a velocidade do carro para ver os
cadáveres, e disse que passou ontem à noite pelo mesmo local, às 21h, e os
referidos corpos já estavam lá. Como eu não sinto o menor prazer em ver corpos
de pessoas mortas prostrados no meio da rua, protestei e pedi para ele acelerar
e me tirar daquele lugar o mais rápido possível. Ele atendeu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Daí em diante, o trajeto foi
tranquilo. A Paralela estava livre, e eu cheguei à Rodoviária sem enfrentar
mais nenhum problema. O motorista só deu uma paradinha num posto de gasolina da
Paralela para abastecer e seguir viagem. Nada de mais nisso. Minha tia já
estava esperando por mim, eu fui ao encontro dela, viemos em direção ao carro,
entramos e rumamos em direção a Cajazeiras pela BR-324. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Na volta, me deparei com
mais cenas de horror. Na altura da BRASILGAS, vi o rabecão do IML recolhendo um
corpo. Não sei se a vítima morreu em virtude de um acidente de trânsito ou por
ter sido alvejada por tiros disparados por alguém. Mas eu estava pouquíssimo
interessado em saber a <i>causa mortis</i>
da vítima. Eu não sou parente desta, não fui testemunha da morte (ainda bem) e
nem sou médico legista, portanto eu não tinha obrigação de interromper a minha
viagem para me certificar de nada. Vamos em frente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ao entrar em Águas Claras, o
motorista do carro viu um amigo dele no ponto, parou o carro e chamou o cara
para pegar carona. Nenhum problema. Mais adiante, vi um homem fazendo o seu <i>cooper</i> matinal. Bem corajoso o cabra,
que saiu para correr em meio a essa atmosfera de pânico instaurada na cidade.
Definitivamente, esse aí estava cagando e andando para o que estava acontecendo
na cidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ao chegar à Rótula da
Feirinha, vi que a coisa estava séria mesmo. Já havia sido informado pela
internet de que houve vários saques a lojas na referida região, e pude
constatar que houve muitos outros durante esse meio tempo. A loja da Claro foi
arrombada e, naturalmente, muitos celulares foram furtados. A porta da Wave
Beach também foi arrombada, mas parece que os ladrões não conseguiram levar
muita coisa. Já a Pipeline sofreu o maior prejuízo. A porta foi arrombada, a
vitrine foi quebrada, e os ladrões levaram TUDO. Tudo mesmo. Não sobrou nem um
bonezinho para contar história. Os manequins estavam todos jogados no meio da
rua. O preju foi grande. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Os pontos de ônibus estavam
todos lotados. Às seis horas da manhã, não passava nem topic. Entretanto, o
povo não desistiu de sair. E nem poderia, visto que muitas daquelas pessoas
dependem do emprego que têm e algumas só ganham se trabalharem. Se não
trabalharem, não ganharão nada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Fui à casa da minha mãe,
deixei a minha tia lá e voltei para casa. A minha esposa estava dormindo. Tirei
a roupa, tomei um banho e deitei na cama para tentar relaxar. Não consegui. O
que eu vi nas ruas foi impactante demais. A imagem daqueles dois corpos jogados
na Via Regional como se fossem cães mortos por atropelamento ainda não saiu da
minha mente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ao acordar, a esposa atendeu
uma ligação de uma pessoa que disse que o pai do dono de um mercadinho próximo
ao local em que ela morava foi espancado por um bando de ladrões. Tudo porque o
senhor tentou impedir que os bandidos saqueassem o estabelecimento de
propriedade do filho dele. Por causa disso, levou vários socos e chutes, e, de
acordo com as informações que chegaram a mim, um dos agressores ainda teve a
pachorra de dizer: “eu só não vou te matar porque você é velho”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Não faço ideia do estado de
saúde dele. Espero que ele consiga se recuperar bem e sem sequelas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Saldo da greve: 23 assassinatos
em Salvador e Região Metropolitana. Em apenas 48 horas. Parece pouco tendo em
vista o quanto o extermínio da população negra está naturalizado nas nossas
vidas, mas eu presto a minha solidariedade a essas pessoas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">E não me venham com o
argumento cretino de que “eram todos vagabundos”. Se TODAS essas pessoas
cometeram algum ilícito, que fossem identificadas, detidas e apresentadas à
autoridade competente para responder criminalmente pelo que fizeram. Afinal de
contas, não há pena de morte no Brasil. Ao menos oficialmente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-90469541007515819162013-12-17T13:04:00.001-03:002013-12-17T14:33:56.278-03:00Obituário a Nelson Rolihlahla Mandela (1918-2013): morre o homem, sobrevive o mito e o exemplo de vida<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">No dia 5 de dezembro, eu
estava em uma confraternização realizada pelo pessoal do <a href="http://stevebiko.org.br/portal/" target="_blank">Instituto Cultural Steve Biko</a> quando, às 19:44h, recebi um SMS enviado pela companheira
de guerra Paula Libence com a mensagem “Mandela se foi”. Apesar de essa notícia
já ser esperada há pelo menos seis meses, eu não quis acreditar nisso logo de
início. Enviei outro SMS a ela perguntando onde ela viu essa informação. Ela
respondeu que a nota havia saído na manchete da <a href="http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2013/12/05/morre-o-nobel-da-paz-nelson-mandela.htm" target="_blank">página do UOL</a> e no
<a href="http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/mandela-o-guerrilheiro-que-tornou-se-simbolo-da-paz/?cHash=11c175b537d716f60b95a421ad25efa5" target="_blank">Correio 24 Horas</a>. Perguntei ao pessoal que estava lá comigo se isso
era mesmo verdade, e todas as pessoas disseram que já sabiam do acontecido e
que, por conta disso, antes da celebração, seria prestado um minuto de silêncio
em homenagem póstuma a Mandela. E isso de fato aconteceu. Nada mais justo e
merecido por tudo o que ele representa não só para a África do Sul, mas para a
luta antirracista em todo o mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Pensei inicialmente em
escrever esse texto no mesmo dia, mas achei melhor não fazer isso assim de
sopetão. Fucei a internet em busca de mais detalhes acerca do acontecido e, somente<span style="color: red;"> </span>hoje, darei o meu parecer. <br />
<br />
Fui dormir com uma sensação nada agradável. Me senti órfão. Como se fosse o meu
avô que tivesse morrido. (Na verdade, Mandela é meu avô. Não biológico, mas
ideológico.) E não poderia ser diferente. Afinal de contas, e para além do fato
de Nelson Mandela ter sido uma das personalidades mais marcantes do século XX, digo
sem nenhum medo de parecer pretensioso que o trabalho desenvolvido pelo
Instituto Steve Biko (já citado acima), pelo <a href="http://www.prevestibularquilomboilha.com/" target="_blank">Quilombo Ilha</a> e pelo
Quilombo do Orobu é tributário do enfrentamento ao apartheid lá na África do
Sul – até porque estas organizações foram criadas para lutar contra <a href="http://www.youtube.com/watch?v=sU3jW5awfCI" target="_blank">o nosso apartheid</a>, que é tão (ou mais?) cruel do que o sul-africano. A <a href="http://www.youtube.com/watch?v=DjaqWT_GYKU" target="_blank">história do apartheid</a> é paradigmática para toda e qualquer pessoa que já está
envolvida – ou que pensa em se envolver – com a luta antirracista em qualquer
lugar do mundo – principalmente no Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Afinal de contas, e <a href="http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2012/02/27/paulo-henrique-amorim-o-negro-de-alma-branca-e-os-demonios-de-cada-um-de-nos-por-ana-maria-goncalves/" target="_blank">como disse a escritora mineira Ana Maria Gonçalves</a>, autora do livro <i><a href="http://www.idelberavelar.com/archives/2006/05/lancamento_nacional_um_defeito_de_cor_de_ana_maria_goncalves.php" target="_blank">Um Defeito de Cor</a></i>, luta
antirracista não é coisa para qualquer pessoa. É para quem quer, pode, tem
tempo, paciência e sobretudo frieza e couro suficientemente grosso para
aguentar as piores misérias e seguir em frente, firme no seu propósito. Se você
tem disposição para isso, vá lá. Se não tem, nem entre.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"> <span style="color: red;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Mandela:
um homem nascido para ser líder<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">É impossível não sentir a
falta de um homem da estatura de Mandela, que, segundo um dos seus biógrafos
oficiais, nasceu para ser líder.<a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
Ele nasceu no dia 18 de julho de 1918 em Mvezo, pequeno vilarejo localizado às
margens do rio Mbashe, no distrito de Umtata, capital de Transkei. Migrou ainda
muito jovem, por volta dos 10 anos de idade, para outro vilarejo próximo, Qunu,
onde foi matriculado numa escola britânica. Foi lá que recebeu o nome de
Nelson, pois era costume das escolas britânicas trocar os nomes originais das
crianças por nomes britânicos. O Nelson Mandela, militante mundialmente
conhecido da luta antirracista na África do Sul, foi registrado inicialmente
com o nome de Rolihlahla Mandela. No idioma Xhosa, “Rolihlahla” significa “puxando
o galho de uma árvore”, mas o seu significado mais coloquial é “criador de
problemas”. O pai dele, Gadla Henry Mphakanyiswa, que morreu quando Mandela
ainda era uma criança, não poderia ter escolhido nome mais apropriado para o
filho.<span class="MsoFootnoteReference"> <!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftn2" name="_ftnref2" title="">[2]</a></span></span><a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><!--[endif]--></a></span><span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Aos 23 anos, saiu de Qunu
para estudar Direito em Joanesburgo. Lá, pôde conhecer de perto a segregação
racial e, de cara, sentiu o desejo de fazer algo para mudar aquela situação. Filiou-se
ao Congresso Nacional Africano (CNA) em 1942 e, formado advogado, começou a
atuar em defesa de vítimas da violência racial na cidade. <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Consolidação
do apartheid: discriminação racial como política de estado<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Em 1948, o cerco se fechou.
Com a ascensão de <a href="http://scholar.sun.ac.za/bitstream/handle/10019.1/3991/Korf.%20L.pdf" target="_blank">Daniel François Malan</a> ao cargo de primeiro-ministro,
e a consequente obtenção de maioria no parlamento pelo <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/National_Party_(South_Africa)" target="_blank">Partido Nacional</a>, o apartheid (palavra da língua africâner, que significa, em português,
separação) foi definitivamente implementado como política de estado na África
do Sul. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A discriminação racial, que
acontecia majoritariamente no âmbito dos costumes, virou lei a partir de então.
Só entre os governos de Malan e do seu sucessor, Balthazar Johannes Vorster,
foram aprovadas mais de trezentas leis racistas – para sacramentar de uma vez
por todas a divisão social por raça no país. Pessoas negras estavam proibidas
de usar as mesmas escolas, banheiros, ônibus, hospitais e praias que as brancas.
Além disso, foram obrigados a morar em áreas “mais adequadas” à sua raça e,
quem se recusasse a sair, foi colocado para fora à força. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="366" src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/12/ApartheidSignEnglishAfrikaans.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt;">Diz a placa em
inglês, acima, e em africânder, abaixo: “Para uso de pessoas brancas. Estes
locais e instalações estão reservados para uso exclusivo de pessoas brancas.
Por ordem da Secretaria Provincial.”</span></i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Um grande contingente
populacional <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2013/06/11/a-taca-do-mundo-e-nossa/" target="_blank">foi alojado em pequenas áreas territoriais</a> (as piores e mais
mal-localizadas), ao tempo que a elite africânder, quantitativamente menor em
índices populacionais, abrangia territorialmente áreas muito mais extensas que as
daqueles. A mais conhecida dessas áreas foi o bantustão de Soweto (sigla da
expressão “<a href="http://www.sadet.co.za/docs/RTD/vol2/Volume%202%20-%20chapter%207.pdf" target="_blank">South Western Township</a>”, que pode ser traduzida para o
português como “periferia do sudoeste”, por estar a sudoeste de Joanesburgo).
Atualmente, habitado por mais de dois milhões de pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="301" src="http://www.monolith.com.au/soweto/map.gif" width="400" /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt;">Localização de
Soweto no mapa.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Diante dos fatos, Mandela
logo percebeu que continuar a luta contra o apartheid através dos canais legais
seria impossível. Reuniu a ala jovem do CNA e criou a Lança da Nação (<i><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Umkhonto_we_Sizwe" target="_blank">Umkhonto we Sizwe</a></i>), braço-armado do
partido. Afinal de contas, diante da crescente onda de violência racial no país
(com destaque para o <a href="http://www.palmares.gov.br/2011/03/o-crime-de-sharpeville-imperioso-lembrar-para-jamais-repetir-ou-imitar/" target="_blank">Massacre de Sharpeville</a>, ocorrido em 21 de março
de 1960), Mandela e demais membros da juventude do CNA não demoraram a chegar à
conclusão de que, como disse Malcolm X, teriam de resistir “<a href="http://www.youtube.com/watch?v=2x8KgPf8Pq0" target="_blank">por todos os meios necessários</a>”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="220" src="http://pluralesingulares.files.wordpress.com/2012/03/sharpeville-mortos.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">As
vítimas foram mortas com tiros nas costas, enquanto tentavam fugir das balas da
polícia política sul-africana<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<img height="270" src="http://tracyloveshistory.files.wordpress.com/2012/03/sharpeville_mass_burial.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">O enterro coletivo das 69 vítimas fatais do
massacre. Por conta disso, a ONU instituiu o dia 21 de março como o <a href="http://www.onu.org.br/no-dia-internacional-para-a-eliminacao-da-discriminacao-racial-onu-adverte-para-ligacao-entre-racismo-e-conflitos/" target="_blank">Dia Mundial de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial</a>.</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Para tanto, saiu
clandestinamente do país, foi à Argélia receber treinamento militar, retornou à
África do Sul também clandestinamente e passou a empreender ações armadas e de
sabotagem contra o regime. Reação aos desmandos da força policial, atentados a
bomba, ações de expropriação bancária e assassinatos seletivos foram algumas
dentre as várias ações diretas contra a supremacia branca. A ordem era resistir
para não ser exterminado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Tudo isso só contradiz a
imagem póstuma que circula nos meios de comunicação e no imaginário dos
desinformados (e maus-caráteres), de que Mandela fora um homem puramente
pacifista. Um homem detentor de uma parcimônia incontestável, que convencia
seus detratores num debate dialógico. Não! Ele foi um guerreiro, um homem que
pegou em armas para defender a própria vida, bem como as vidas das outras
pessoas que viviam nas mesmas condições que ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Caçada
e captura de Mandela em 1962<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Isso posto, a elite
dirigente africânder organizou uma verdadeira caçada para colocar as mãos em
cima desse “terrorista” de uma vez por todas. Caçada essa que contou com o
apoio incondicional e irrestrito da CIA, a Agência Central de Inteligência dos
Estados Unidos (país que, <a href="https://www.facebook.com/idelber.avelar/posts/10151576925762713" target="_blank">como disse Idelber Avelar</a>, apoiou o
apartheid durante toda a sua existência e manteve o nome de Mandela na lista de
terroristas procurados pelos EUA até – pasmem! – 2008). As informações
fornecidas pela CIA foram fundamentais à captura de Mandela, em 1962. Passou
dois anos na cadeia até ser julgado, em 1964, quando foi condenado à pena
capital por atos de sabotagem contra o Estado. Entretanto, por conta das
pressões internacionais, ocasionadas pelo fato de Mandela já ter-se tornado uma
figura mundialmente conhecida, teve a pena convertida para prisão perpétua –
que, na prática, é também uma pena de morte, só que bem mais lenta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Foi levado para a Ilha de
Robben, prisão de segurança máxima para presos políticos. Essa ilha fica a 11km
de distância da Cidade do Cabo, na qual ele só poderia receber visitas de seis
em seis meses, mediante solicitação prévia ao governo. As visitas eram
monitoradas por agentes carcerários, que exigiam que detento e visitante, que
não podiam se tocar por estarem separados por um vidro, conversassem apenas em
inglês. Se, a qualquer momento, uma palavra fosse trocada em outro idioma ou algum
assunto proibido fosse mencionado, a visita era imediatamente interrompida.
Outra, só seis meses depois. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="280" src="http://turismo.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/robben-island/robben-island2.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">Visão aérea da Ilha de Robben</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="265" src="http://www.tajcapetown.co.za/blog/wp-content/uploads/2009/11/robben-island.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">Entrada do presídio.</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Era uma prisão, como já foi
dito, de segurança máxima. Além de não poder tocar as suas esposas, filhos e
filhas nos momentos de visitas, os detentos eram proibidos de ler os jornais,
de ouvir rádio, obrigados a trabalhos forçados e cruelmente torturados em caso
de alguma desobediência. As correspondências eram todas lidas e censuradas pelo
departamento de censura da cadeia. A única diversão permitida aos detentos (que
chegaram a mais de sete mil homens no auge da repressão) era jogar futebol. Era
tanta gente presa que havia um campeonato organizado na cadeia, com direito a
primeira e segunda divisões. E o futebol virou um fator tão forte de união
entre os detentos que, por conta disso, Mandela era proibido de jogar. Todas as
vezes em que os homens se juntavam para iniciar as partidas, Mandela era
imediatamente recolhido e trancafiado em sua cela. A ele, restava apenas olhar
as partidas pela janela da cela – que ficava a uma boa distância do campo de
futebol.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="268" src="http://www.noxrentals.co.za/blog/wp-content/uploads/2013/11/Mandela.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">(Em 2010, quando da
realização da Copa do Mundo na África do Sul, a FIFA reconheceu simbolicamente
a <a href="http://pt.fifa.com/worldcup/archive/southafrica2010/finaldraw/news/newsid=1143323/index.html" target="_blank">liga de futebol da Ilha de Robben</a> como forma de homenagear a todos
aqueles que lutaram por liberdade e igualdade.) <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Após dezoito anos na Ilha de
Robben, Mandela foi transferido para Pollsmoor, uma prisão considerada “mais
branda”, na qual ele já podia conversar com os seus aliados, ouvir o rádio, ler
os jornais e ter acesso à biblioteca. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="238" src="http://ewn.co.za/-/media/Images/2012/05/14/16/50/Pollsmoor-gate.jpg.ashx?as=1&h=311&w=520" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Em seguida, já com 70 anos
de idade, com a saúde um pouco debilitada por conta dos problemas respiratórios
adquiridos durante o tempo em que esteve na Ilha de Robben, foi transferido
para Victor Verster, uma espécie de “prisão domiciliar”, da qual foi libertado
no dia 11 de fevereiro de 1990.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="303" src="http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2010/03/08/article-0-083DDC08000005DC-21_468x355.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Libertação
de Mandela e transição política <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">As imagens da libertação de
Mandela são algumas das coisas mais lindas que eu já vi na vida. Foi muito
marcante ver a juventude negra sul-africana fazendo a maior festa na frente da
penitenciária, de braços abertos para receber o seu líder. Pessoas na faixa dos
20 aos 25 anos de idade, que nasceram quando Mandela já estava preso, mas
cresceram ouvindo as histórias contadas por seus pais e mães. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="400" src="http://p2.trrsf.com/image/fget/cf/308/464/images.terra.com/2013/06/24/apartheid-safrica-afp-11.jpg" width="265" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="400" src="http://www.posterpal.com/_images/z84552.jpg" width="299" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Aquele momento também deixou
evidente as razões que levaram a elite africânder a não matá-lo na cadeia. É
claro que os altos generais do apartheid quiseram acabar com a vida dele, mas
eles não podiam fazer isso. A juventude estava tornando o país ingovernável. A
violência da polícia política da supremacia branca já não era mais suficiente
para conter o ímpeto rebelde da população negra sul-africana. Quanto mais as
forças do Estado tocavam o terror, mais a juventude reagia contra os desmandos
do regime. E se Mandela fosse assassinado na prisão, aí é que a juventude negra sul-africana iria com tudo para cima da minoria branca. Seria matar ou morrer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A coisa chegou a tal ponto que altos dirigentes africânderes foram
várias vezes à cadeia atrás de Mandela a fim de propor acordos para libertá-lo,
que foram todos rejeitados. Os argumentos usados por Mandela para isso foram
que 1) acordos só se fazem entre pessoas livres e em condições de igualdade e
2) ele não trairia as pessoas que estavam lá fora pagando com as próprias vidas
para transformar a realidade em que viviam. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">(Volto a dizer que Mandela
não se manteve na prisão "por puro e simples capricho", como já ouvi por aí. Ele havia sido preso por
acreditar num ideal, por lutar por um povo, e somente se consideraria liberto
em prol desse mesmo povo pelo qual tanto lutou e havia sido preso. Luta
antirracista, <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2012/11/mais-umtexto-que-saiu-como-bem-disseram.html" target="_blank">como eu já disse</a>, é coisa muito perigosa, e quem se mete nisso
precisa ter em mente que tudo pode acontecer.) <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">O que mais me deixou
impressionado ao estudar a história de vida de Nelson Mandela foi o caráter
dele. Mesmo após ter passado 27 anos na cadeia, ele saiu de lá com vontade de
viver. Muita gente por aí teria desistido lá dentro mesmo. Ele, não. Resistiu a
tudo com bravura e serenidade após ter feito o que pôde para mudar o país (e
não ficou maluco), e fez muita coisa depois de ter sido libertado. Uma das
principais foi a <a href="http://www.youtube.com/watch?v=V-TPzpvFo5U" target="_blank">Comissão da Verdade e Reconciliação</a>, sob a
responsabilidade do arcebispo <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Desmond_Tutu" target="_blank">Desmond Tutu</a>, com vistas a sanar as feridas deixadas
pelos anos de brutalidade racial e unificar o país. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ele saiu da cadeia em 1990,
e, em 1994, tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul.<span style="color: red;"> </span>Ao final do seu mandato (1994-1999), r</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 14px;">ejeitou uma recondução ao cargo e </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;">passou a atuar em
campanhas de combate à AIDS (que, na África do Sul, <a href="http://noticias.terra.com.br/mundo/africa/africa-do-sul-segue-perdendo-luta-contra-aids-diz-autoridade,f5192a234cbea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html" target="_blank">atinge níveis alarmantes</a>).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Em 2004, retirou-se definitivamente
da vida pública. Fez a sua <a href="http://blogs.estadao.com.br/jamil-chade/2013/12/05/a-ultima-aparicao-publica-de-mandela/" target="_blank">última aparição em público</a> na final da Copa
do Mundo de 2010, disputada entre Espanha e Holanda. Com a saúde muito
debilitada, procurou passar os seus últimos anos de vida em paz, mais próximo
da família.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Homenagens
a Nelson Mandela e a hipocrisia do racismo à brasileira<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A morte de Mandela
repercutiu no mundo inteiro, e o Brasil não ficou de fora. Várias reportagens
foram exibidas na televisão, todas elas ressaltando a importância dele para a
luta contra a segregação racial, a atuação dele na conciliação nacional
pós-apartheid, e coisas do tipo. Apesar disso, eu fiquei bastante incomodado
com o que vi na imprensa a respeito do assunto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">E o que mais me incomodou
foi, como disse Carlos Moore, a profunda hipocrisia do racismo
brasileiro. Pois o país que rasga elogios e rende homenagens a Mandela é o
mesmo país que, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=yxtNfOuxL4o" target="_blank">nas palavras de Orlando Patterson</a>, mantém um apartheid
sem as leis do apartheid – o que o torna <a href="http://revistaforum.com.br/blog/2012/02/nosso-racismo-e-um-crime-perfeito/" target="_blank">bem mais cruel, sangrento e difícil de ser combatido</a>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 14px;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="//www.youtube.com/embed/rJ7_mLmAyoo" width="480"></iframe></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A sociedade brasileira que,
nesse momento, está a exaltar a figura de Mandela é a mesma sociedade que,
apesar de todas as evidências, ainda insiste em negar a existência do racismo
no Brasil. Que criminaliza toda e qualquer pessoa ou grupo que tenta, a
duríssimas penas, fazer aqui a mesma coisa que Mandela fez na África do Sul
durante a vida inteira: lutar contra o racismo. O recado dado através dessas
ações é muito claro: ícones revolucionários são bons e devem ser exaltados - mas
os dos outros. Os nossos não passam de vândalos que querem impedir o progresso
e <a href="http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/12/06/chora-por-mandela-mas-acha-um-absurdo-pobre-querer-os-mesmos-direitos/" target="_blank">colocar um entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil</a>. Um grupo
que nunca conseguirá promover, por mais que tente, um “racismo ao contrário”.</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 14px;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/crCCQIWSx68" width="560"></iframe></span></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">É esse o mesmo país que
exalta a figura e a atuação de Nelson Mandela por um lado, mas faz o que pode
para barrar as ações afirmativas nas universidades. Que se recusa a aplicar a
<a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm" target="_blank">lei 11.645/08</a> na educação básica. Que permite que as nossas crianças sejam
massacradas pelo <a href="http://www.idelberavelar.com/archives/2011/02/carta_aberta_ao_ziraldo_por_ana_maria_goncalves.php" target="_blank">racismo odioso contido nos livros de Monteiro Lobato</a>.
Que ameaça expulsar da escola um menino negro cuja mãe <a href="http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/05/escola-pede-para-aluno-cortar-cabelo-crespo-e-cheio-em-guarulhos.htm" target="_blank">se recusou a cortar os cabelos dele por serem “diferentes”</a>. Que chora até hoje a <a href="http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/01/tragedia-em-santa-maria-o-que-ja-se-sabe-e-perguntas-responder.html" target="_blank">morte de 245 jovens brancos e universitários</a> que estavam na farra num boate em Santa
Maria, no Rio Grande do Sul, mas não
se sensibilizou nem um pouco quando o <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,manifestacao-no-rio-lembra-dez-mortos-em-acao-do-bope-no-complexo-da-mare,1049450,0.htm" target="_blank">BOPE entrou no Complexo da Maré e matou dez pessoas inocentes</a> em um ato flagrante de <a href="http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao-racial/violencia-racial/20319-a-chacina-da-familia-de-pms-e-a-subcultura-da-vinganca-policial" target="_blank">vingança policial</a>. Que lamentou o fato de <a href="http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2013/01/em-reconstrucao-haiti-relembra-hoje-tres-anos-do-pior-terremoto-da" target="_blank">“só” terem morrido trezentos mil pretos</a> no terremoto que <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2010/01/as-sutilezas-do-racismo.html" target="_blank">devastou o Haiti em janeiro de 2010</a>. Que entrou em pânico quando um grupo de adolescentes pretos, "<a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2011/08/voce-esta-com-cara-de-terrorista.html" target="_blank">parecendo com um bando de ladrões</a>" entrou num shopping de luxo em São Paulo - uma vez que <a href="http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/12/1386132-mesmo-sem-crimes-rolezinho-causou-panico-e-levou-policia-a-shopping-de-guarulhos.shtml" target="_blank">shopping não é lugar de pobre</a>. Que acha um
absurdo inominável quando acontece um tiroteio nas áreas nobres ou quando <a href="http://www.otal.ifcs.ufrj.br/o-que-vale-mais-para-a-grande-midia-a-vida-de-um-pobre-ou-o-vidro-de-um-banco/" target="_blank">avitrine de uma loja de luxo é apedrejada</a>, mas não se comove nem um
pouco quando há tiroteio intenso com mortes no morro<a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>
ou quando um <a href="http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/10/01/inquerito-indicia-10-pms-por-desaparecimento-de-amarildo.htm" target="_blank">preto favelado é morto sob tortura dentro de um quartel da PM</a> ("alguma coisa ele fez, pois ninguém morre de graça"). Que se recusa terminantemente a reconhecer <a href="http://papodehomem.com.br/senzalas-campos-de-concentracao/" target="_blank">a empregada doméstica que faz o nosso serviço sujo</a> como trabalhadora, pagar-lhes um salário
decente <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2012/04/14/a-escravidao-acabou-so-falta-avisar-a-classe-media/" target="_blank">e reconhecer-lhes os direitos trabalhistas</a>, e acha normal fazê-las
subir pelo elevador de serviço e confiná-las nos quartos de
empregada,verdadeiras versões contemporâneas das senzalas.<a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="251" src="https://fbcdn-sphotos-c-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash3/q71/s720x720/541512_587734901280402_1260408923_n.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: red; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A forma como a trajetória de
Mandela foi mostrada nas reportagens constituem um capítulo à parte. Mandela
foi mostrado sempre como o “conciliador”, o sujeito que derrubou o regime de
segregação racial com discursos ponderados e palavras muito bem selecionadas.
Não foi isso. Dennis Oliveira <a href="http://revistaforum.com.br/quilombo/2013/12/06/nelson-mandela-o-lider-politico-contra-o-racismo/" target="_blank">foi muito feliz ao evidenciar</a> que Mandela
foi conciliador quando a situação exigiu esse tipo de postura da parte dele.
Pois quando o regime endureceu o jogo, ele optou pela rebelião armada. E mais:
os altos dirigentes do apartheid só aceitaram negociar com Mandela por conta de
toda a pressão internacional exercida contra a África do Sul durante os anos de
terror e do consequente isolamento decorrente dessas pressões e sanções
internacionais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Também concordo com Oliveira
com relação ao absurdo que foi Mandela ter dividido o Prêmio Nobel da Paz com
<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Frederik_Willem_de_Klerk" target="_blank">Frederik Willem de Klerk</a>, presidente da África do Sul à época. De
Klerk não negociou a libertação de Mandela e a transição política porque era
bonzinho e estava com peninha daquele preto que estava preso há quase trinta
anos, e sim porque o país estava isolado por conta da enorme pressão e das
consequentes sanções econômicas e boicotes impostos pela comunidade
internacional decorrentes dos anos de terror. Segundo o arcebispo Tutu, seria
impossível acabar com o apartheid só através da luta interna. <a href="http://www.globalresearch.ca/targeting-israel-with-boycotts-divestment-sanctions-and-prosecutions/12446" target="_blank">Se não houvesse pressão internacional</a>, seria bem provável que a elite branca <a href="http://www.youtube.com/watch?v=X3bBeVortdo" target="_blank">ainda estivesse no poder até hoje</a>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Quem está no poder só aceita
negociar quando se sente pressionado, nunca por benemerência. Como disse Assata
Shakur, não é possível acabar com um regime de terror apelando para os bons
sentimentos de quem nos oprime, uma vez que <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2012/06/o-valor-da-passagem-de-onibus-aumentou.html" target="_blank">quem nos oprime não tem bons sentimentos</a>. Ou nós nos organizamos para exigir o que é nosso, ou
nada feito. E foi exatamente por ter feito isso que Mandela foi caçado e
enjaulado durante 27 anos. Só que as
reportagens não destacam isso – e nem destacarão. É bem mais conveniente
mostrá-lo como o <a href="http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2013/12/madiba-e-suas-multifacetas-4365223.html" target="_blank">preto-velho pacifista, o campeão da paz</a>, e esconder
toda a importância que ele teve na estruturação da luta armada ao regime racista.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="365" src="http://www.38thnotes.com/wp-content/uploads/2013/06/assata-shakur.jpg" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Vá
em paz. E muito obrigado por tudo<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Minhas sinceras e
respeitosas condolências à família, bem como ao povo sul-africano que, <a href="http://leonardoboff.wordpress.com/2013/12/12/por-que-no-meio-da-dor-os-negros-dancam-cantam-e-riem/" target="_blank">nas palavras de Leonardo Boff</a>, não se cansou nem por um minuto de dançar
e cantar nos rituais públicos consequentes ao anúncio da morte do grande líder
da nação sul-africana. Mandela morreu fisicamente, mas ainda continuará vivo na
cabeça de toda e qualquer pessoa comprometida com a superação do racismo no
mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Devo dizer que Mandela,
corpo físico, se foi, mas seus ideais aquecem como brasa viva em cada cidadão e
cidadã que encampa a luta antirracista em qualquer metro quadrado de cada canto
do mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Amandla!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqMzeIkQP3THjgqeOaPqOa3rLpxnlX8UtOXW3UF5jUb75hNa8T18bfi4ox1rSLlbVqDHiY-1yKrpVxmC6sosuIThykHnzdHThJrMeY4KuMbC4yMIJdpGCd0sgcxYFzNvPzLhoi2JHWGoxK/s400/big_5765_lead26.jpg" width="400" /></div>
<div>
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="EN-US" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;"> VAIL, John. <b>Winnie
e Nelson Mandela</b>. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;">Coleção Os Grandes Líderes. São Paulo: Nova
Cultural, 1988, pp. 7-16.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="EN-US" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;"> MANDELA, Nelson. <b>Long
Walk to Freedom</b>. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;">London: Abacus, 1995, p. 1-2. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; line-height: 115%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;"> “A
luta por direitos humenos é a essência da nova luta de classes”. Entrevista
dada por Marcelo Freixo a Glauco Faria e Igor Carvalho. <b>Fórum: outro mundo em debate</b>. São Paulo: Publisher Brasil. Ano 12, número 121, abril 2013, p.
29.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Paula/Documents/Roger/Obitu%C3%A1rio%20a%20Nelson%20Rolihlahla%20Mandela%20(1918-2013).doc#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 8pt; line-height: 115%;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 8.0pt; line-height: 115%;">
LARA, Fernando. “A exclusão no espaço doméstico”. <b>Fórum: outro mundo em debate</b>. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 12px;">São Paulo: Publisher Brasil. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 8pt; line-height: 115%;">Ano 12, número 121, abril 2013, p.
36-37.</span></div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-39041853853153932662013-09-08T02:27:00.003-03:002013-09-08T02:27:35.686-03:00Vai dar merda. E não deu outra<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 14px;">(Esse texto foi escrito na madrugada de sexta para sábado. Só não o publiquei antes porque não havia conexão á internet no local em que eu estava na hora. Por isso, publico-o agora.)</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Eu acho que há dias em que o
mundo, a natureza ou sei lá o que mais, de vez em quando, se programa
especificamente para fazer com que tudo dê errado na vida de uma pessoa em um
determinado dia. Parece que algum ser supremo, dotado de poderes ilimitados e
de um caráter muito questionável, escolhe aleatoriamente alguém e diz: “o
otário do dia será esse sujeito aqui”. Acho que a vítima de hoje fui eu. Querem
saber por quê? Vamos aos fatos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Saí de casa hoje às 15h
debaixo de uma chuva desgraçada. Um aguaceiro louco, parecia que não pararia
mais de chover. Estava chovendo já desde cedo, quando eu ainda estava em casa
preparando a minha aula e, posteriormente, arrumando as minhas coisas para
sair. Deu vontade de não colocar o pé na rua, mas eu resolvi encarar o dilúvio
que estava caindo lá fora e sair. Afinal, o dever me chamava. Eu já sabia o que
teria de enfrentar lá fora, mas eu não sou tão cara de pau a ponto de inventar
uma desculpa esfarrapada qualquer para não trabalhar e deixar as minhas turmas
lá esperando por mim. Ser um profissional responsável também tem as suas
desvantagens, mas enfim. Saí. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Não quis esperar o ônibus perto
de casa, pois demora muito – porque nem sempre os motoristas entram no bairro
em que eu moro. Quando eles acham que não devem entrar aqui, eles não entram e
ponto final. Já liguei várias vezes para a Transalvador a fim de denunciar
motoristas que não cumprem o roteiro da linha, mas não deu em nada. Eles continuam
fazendo o que querem, e fica por isso mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Certa vez, ouvi uma pessoa
dizer que, em bairros de periferia, motoristas de ônibus e policiais militares
fazem o que querem. E essa pessoa está corretíssima. São os motoristas que
decidem se devem cumprir ou descumprir o itinerário das linhas de ônibus; se
devem ou não devem parar para pessoas idosas, mulheres grávidas e cadeirantes. A
população fica na mão deles. Dia desses, minha esposa chegou em casa
estarrecida com um comentário que ouviu dentro de um ônibus. Contou ela que
pegou um ônibus da empresa Praia Grande, que operava a linha Paripe-Aeroporto
(código 1653-1), quando um rodoviário da mesma empresa estava conversando com o
motorista do ônibus. O rodoviário disse: “É, fulano, você gostou dessa linha
mesmo, né? Já faz um bom tempo que você está aqui, e, pelo visto, não quer mais
sair”. Ao que o motorista disse: “Pra que eu vou sair, rapaz? Essa linha é boa
demais. Eu fazia a linha Paripe-Barra (código 1607). Era um saco, pois havia um
fiscal em cada ponto e eu era obrigado a parar e pegar ‘tudo quanto é passageiro’.
Aqui em Cajazeiras, não tem fiscal nenhum e por isso eu dirijo do meu jeito”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Outra vez, minha mãe disse
que pegou um ônibus no Aquidabã depois das 22h. Fazenda Grande 4/3/2 –
Comércio, da empresa São Cristóvão (código 1439). Ao chegar a Águas Claras, o
motorista, ao invés de seguir em direção ao fim de linha de Águas Claras, virou
no sentido da Estrada do Matadouro. Quando algumas pessoas protestaram e
exigiram que ele retornasse e respeitasse o itinerário da linha, ele, com a
cara mais cínica do mundo, olhou para as pessoas e disse que “depois das dez da
noite, quem faz o roteiro da linha sou eu”. Foi preciso que o povo fizesse
muito mais escândalo para o sacripanta retornar e passar pelo fim de linha de
Águas Claras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Mas voltando. Resolvi ir
andando até a saída do conjunto onde moro e tentar pegar um ônibus mais lá na
frente. Estava usando uma camisa branca. No meio do caminho, cerca de cinco
minutos depois de sair de casa, um ônibus passou em cima de um buraco e, em consequência disso, a lama respingou e sujou a lateral direita da
minha camisa. A camisa que eu havia acabado de tirar de dentro do guarda-roupa,
cheirosinha, branquinha. Não fiquei mais puto de raiva porque estava carregando
duas sobressalentes na mochila, e por isso tive a certeza de que não teria de
usar aquela camisa suja por muito tempo (ledo engano). Até pensei em parar em
algum lugar e trocar a camisa no meio da rua mesmo, mas achei melhor não fazer
isso. O ônibus poderia passar e eu fatalmente o perderia. Segui meu caminho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Procurei manter a cabeça
fria – e consegui. Calculei as possibilidades, e concluí que seria melhor não
passar por Águas Claras, pois se o trânsito por lá já é uma bosta em dias
ensolarados, a coisa piora vertiginosamente em dias de chuva. Alaga tudo, e
ninguém passa – e eu não podia correr o risco de pegar nenhum congestionamento.
Afinal, a BR-324 fica sempre congestionada por conta daquela cratera enorme
aberta no Porto Seco Pirajá, <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2013/06/11/a-taca-do-mundo-e-nossa/" target="_blank">que deixou o trânsito muito pior do que já era</a> por aquelas bandas. Se uma cratera daquele
tamanho surgisse na frente da Arena Fonte Nova, estaria fechada no dia seguinte.
Mas como é no Porto Seco Pirajá...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Achei mais prudente sair por
Mussurunga. Fui andando em direção ao ponto, com uma mochila nas costas,
carregando meu marmitex com a mão esquerda e segurando o guarda-chuva com a mão
direta. Um cenário desesperador. Mais alguns metros adiante, um sujeito passou
pertíssimo de mim montado num cavalo. E eu passei bem no instante em que a pata
direita frontal do cavalo pisou um buraco, e a água podre voou e
bateu no meio da minha cara. Quando isso aconteceu, pensei “hoje é meu dia”. E
foi mesmo. Um dia de horror. Naquela hora, eu intuí que tudo daria errado para
mim hoje. E deu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Continuei andando em direção
ao ponto. Ao chegar lá, vi o Estação Mussurunga da Central vindo lá embaixo.
Ótimo, pois eu não teria de andar mais. Bastava esperar o ônibus fazer o
retorno que eu o pegaria na volta. Mas alimentei a esperança de vir um Estação
Mussurunga da Barramar, que é a melhor linha de ônibus em direção a Mussurunga,
pois não entra em Vila Verde. E foi isso que aconteceu. O ônibus veio, mas o escroto
do motorista não teve a decência de parar o ônibus no ponto. O canalhocrata
parou um pouco atrás e abriu a porta de entrada, só para eu e uma outra
passageira termos de correr debaixo de chuva para entrar na marinete. Que <i>féla</i>!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A viagem até Mussurunga
transcorreu muito bem. Mas foi só isso. Quando eu cheguei, vi o ponto do Barra
1 totalmente vazio. Não havia um pé de pessoa na fila. Bufei. Era cerca de
15:30h quando eu desembarquei, e, ao ver a fila vazia, constatei que teria de
esperar até as 16h por outra marinete. Como um homem prevenido vale por dois,
parei na fila, coloquei a mochila na frente, peguei uma revista que estava dentro
da mochila e comecei a lê-la. Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, pois
foi isso que conseguiu me acalmar. Estou chegando à conclusão de que os meus
livros, as minhas revistas, uma Skol litrão e a companhia da minha esposa são
as únicas coisas que conseguem me manter relaxado nessa vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Depois de ler algumas
páginas, finalmente apareceu o Barra 1. Às 16h, como eu havia previsto. Eu era
o segundo da fila, mas, mais uma vez, o sacripanta do motorista não parou no
lugar certo. Parou um pouco atrás e abriu a porta. Com isso, quem estava atrás entrou
antes de mim por causa da sacanagem que o <i>féla</i>
fez. Só não foi pior porque a fila não estava muito longa, pois, se estivesse,
as pessoas poderiam invadir e eu correria um grande risco de ir em pé. Mas,
para minha felicidade, eu achei um lugar no fundo do ônibus. Me sentei, fechei
as janelas por conta da forte chuva e continuei a ler a revista. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Um ponto depois, um sujeito
entrou no ônibus. Como não havia mais assentos vagos, ele parou em pé bem do
meu lado. Ele estava quieto, mas bastou o cara me ver concentrado na minha
leitura para ligar o som do celular dele no último volume. Por pura e simples
sacanagem, nada mais do que isso. Precavido, tirei o abafador de som da mochila
e coloquei nos meus ouvidos. Só que na hora em que eu abri os abafadores para
posicioná-los acima da minha cabeça, o abafador direito escapoliu da minha mão
e bateu na minha testa. A porrada foi tão forte que se formou um pequeno
hematoma no lugar da pancada. Como dizem os mais experientes, “além da queda, o
coice”. Mas eu cobri os meus ouvidos com os abafadores, olhei
sarcasticamente para a cara do safardana e voltei a ler. Só não foi melhor
porque o abafador não me deixa totalmente surdo, como era a minha vontade, mas a
redução do impacto do som foi significativa para eu conseguir me concentrar
novamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">O sujeito estava tão com
vontade de me sacanear que, assim que me viu com os abafadores de som nos
ouvidos, saiu e foi fazer a zoada dele lá na frente. Diga se uma pessoa dessa
estava ou não estava a fim de tirar sarro da minha cara!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Apesar da chuva, a Paralela
estava livre – o que é quase um milagre! O trânsito estava bom, apesar dos
pesares, e eu estava pensando que não enfrentaria mais problemas no meu
caminho. Ledo engano. Assim que o ônibus saiu da via exclusiva do Iguatemi,
parou. A Rótula do Abacaxi estava toda travada. Não passava nada por aquela
bosta! O motorista até tentou encontrar uma maneira de driblar o congestionamento:
ao invés de fazer o retorno na entrada da Ladeira do Cabula para entrar na Av.
Heitor Dias, ele subiu o viaduto que liga a Av. ACM à Av. Barros Reis e fez o
retorno na frente da Bremen. Mas não houve jeito. O trânsito também estava
parado no outro sentido, e foram necessários cerca de quinze longos minutos
para o ônibus percorrer o trecho que vai da Bremen até a entrada da Av. Heitor
Dias. E já passava das 17h.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Enfim, o ônibus conseguiu
sair daquele gargalo. Pensei eu que não enfrentaria mais problemas, mas me
enganei de novo. A Av. Heitor Dias, os Dois Leões e as Sete Portas estavam
totalmente congestionadas. Trânsito lentíssimo. Só não pirei porque estava
lendo, e uma boa leitura me deixa de fato mais calmo e com a frieza necessária
para pensar nas possibilidades e fazer os devidos cálculos. Tinha esperança de
pegar a lancha das 17:30h, mas não foi possível. Deu 17:20h, e eu ainda estava
na entrada da rua Djalma Dutra. Deu 17:24h, e eu ainda estava no Aquidabã! Ao
constatar que não seria possível chegar a tempo, liguei para o coordenador e
pedi para ele colocar outra pessoa para dar aula no primeiro horário, visto que
eu não chegaria a tempo. Eu odeio quando isso acontece, pois eu saí de casa
cedo justamente para não passar por isso. Mas, como disse Ermínia Maricato, as
cidades estão cada vez mais insuportáveis<a href="file:///C:/Users/AnaPaula/Documents/Roger/Acho%20que%20pisei%20em%20rastro%20de%20corno%20hoje.doc#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
E estão mesmo. <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2009/07/coisas-que-eu-nao-consigo-entender-se-e.html" target="_blank">Não há mais hora para pegar congestionamento em Salvador</a>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Quando a marinete saiu do
Túnel Américo Simas, vi que a Av. Jequitaia estava toda parada. Pensei eu que
enfrentaria mais um engarrafamento entre os Fuzileiros Navais e o Moinho
Salvador, mas não enfrentei. O ônibus seguiu viagem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Desci no ponto do Terminal
da Lancha. Como já tinha perdido a primeira aula, resolvi relaxar. A fila do
guichê de passagem do Terminal estava um pouco grande, começou a chover, e
havia gente furando a fila. Um passageiro que estava atrás de mim começou a
gritar e xingar os espertinhos que estavam furando a fila. Como o cara se
voluntariou a fazer o serviço sujo, eu fiquei calado. Comprei a minha passagem
e entrei na lancha das 18h. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Infelizmente, eu tive de
viajar numa lancha que possui aparelho televisor. Digo isso porque eu não gosto
mais de televisor. Não tenho mais paciência para ver nada do que é exibido na
telinha. Nem futebol, que eu gostava tanto, eu suporto mais ver. A melhor coisa
que eu aprendi a fazer nos últimos três anos foi deixar o aparelho televisor da
casa em que moro desligado durante a maior quantidade de tempo possível, e eu
garanto a vocês que eu não estou perdendo nada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">É irritante viajar em lancha
com aparelho televisor também porque os tripulantes invariavelmente colocam
o aparelho no último volume. Um saco! Eu costumo aproveitar o tempo de
travessia para adiantar umas leituras e distrair a minha mente (leitura também
é diversão). Entretanto, o que essa sociedade escrota menos quer é que nós
tenhamos tempo para pensar. Tudo é feito para nós <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2012/07/em-dia-de-azar-o-urubu-de-baixo-caga-no.html" target="_blank">não termos um minutinho sequer de tranquilidade e silêncio</a>. Temos de estar a todo tempo com alguma
coisa para fazer, sendo monitorados e ordenados por alguém, e, no nosso tempo
de descanso, alguma coisa – ou alguém – tem de nos atormentar<a href="file:///C:/Users/AnaPaula/Documents/Roger/Acho%20que%20pisei%20em%20rastro%20de%20corno%20hoje.doc#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a>
e nos perturbar para que nós não tenhamos a menor chance de ler, de conversar,
de assistir a um filme ou a um documentário e consequentemente refletir sobre
as nossas condições de existência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Uma coisa que eu aprendi
depois que comecei a me envolver nesse negócio de movimento negro é que uma
folha não cai de uma árvore sem um motivo. As coisas não são do jeito que são
porque sim, porque deus quis assim, porque é da vontade do senhor, nada dessas
babaquices que o cristianismo enfia nas nossas cabeças. Há uma razão muito bem
definida para as coisas serem do jeito que são. E essa barulheira desgraçada
que enfrentamos cotidianamente (roncos de motor de ônibus; o vizinho babaca que
tira o silenciador da descarga da moto para mostrar ao bairro inteiro que tem
uma moto e, com isso, tentar comer alguém; outro vizinho igualmente babaca que
coloca no carro um jogo de som mais caro do que o próprio carro com vistas a
transformá-lo num mini trio-elétrico; o dono do boteco da esquina que coloca o
som nas alturas para atrair a clientela; a vizinha que passa o dia inteiro
gritando e “cantando”; outra vizinha que chega tarde e fica do lado de fora
gritando para a filha dela abrir a porta) não foge a essa regra. Isso faz parte
de uma estratégia de dominação. De segunda a sexta, nós não temos tempo de ler
e de refletir porque precisamos acordar cedo para trabalhar e voltar para casa
lá pelas tantas da noite, cansado, com fome, com sono, com vontade de tomar um
banho e cair na cama. Sábado e domingo, quando não trabalhamos (isso não é uma
regra, pelo contrário), não conseguimos ler nada em casa porque a vizinhança
não deixa. O crime perfeito!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Voltemos à minha epopeia. Estava
eu dentro da lancha das 18h. Como tinha terminado de ler a revista, coloquei de
novo o abafador de som e comecei a ler um livro. Minutos depois, um colega de
trabalho sentou do meu lado. Conversei com ele rapidamente, e disse que não
estava a fim de papear muito porque precisava ler um texto para a minha aula de
hoje. Ele compreendeu, até porque ele também estava cansado e também não estava
a fim de papo. Ligou o som do celular, colocou o fone nos ouvidos e ficou lá na
dele. Só que, alguns minutos depois, ele pegou no sono e começou a dar “quedas
de asa” perto de mim. A cabeça dele caía toda hora e batia no meu ombro. Aquilo
estava me irritando tanto que eu tive de acordá-lo a cotoveladas. Ele acordou
assustado, perguntando se já tínhamos chegado ao destino final. Eu disse que
não, e que só o acordei porque a cabeça dele estava batendo a toda hora no meu
ombro esquerdo e estava dificultando a minha leitura. Ele entendeu. Cruzou os
braços no encosto da cadeira da frente e baixou a cabeça. Dormiu até a hora de
chegar ao ancoradouro de Mar Grande. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Cheguei. Deixei as minhas
coisas lá no meu local de trabalho e fui à padaria em busca de um lanchinho.
Perguntei ao funcionário da padaria se havia bolo de aipim. Ele disse que não.
Eu agradeci e fui embora. Pensei que daria aula com fome, mas felizmente alguém
(não sei quem) deixou um pratinho com canjica lá na secretaria do cursinho. Eu
comemorei. Comi um pedaço e tomei um gole de café. Como daria aula no segundo
horário, resolvi pegar meu livro e ler mais um pouco. Mas não consegui. Um
menino parou na porta e gritou alguma coisa sem sentido para mim. Não dei
importância. Logo depois, um homem chegou lá à procura de uma estudante. Fui à sala
de aula chamá-la, mas ela não estava lá. Ele disse que esperaria um pouco, e
sentou do meu lado “para me fazer companhia”. Ele até tentou puxar
conversa, mas eu enfiei a minha cara no livro e nem olhei para os lados para
ver se ele entendia que eu não estava <a href="http://www.facebook.com/notes/fl%C3%A1vio-gikovate/respeite-o-meu-direito-de-n%C3%A3o-querer-te-ouvir-ou-ver/396404333723502" target="_blank">nem um pouco interessado em conversar com ele</a>. Ele entendeu o recado, e ficou calado
lá à espera da pessoa que ele estava procurando. Como a mulher não apareceu,
ele desistiu de esperar e foi embora. Que bom! Suspirei de felicidade!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Eis que chegou a hora da
minha aula. Liguei o projetor e o computador para exibir os meus slides, mas
havia um problema na tela do computador que eu não consegui resolver. Uma
mensagem chata que insistia em não sair, por mais que eu clicasse no X
vermelho. Tive de trocar de computador. Perdi dez minutos nessa brincadeira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Arranjei outro computador. Exibi
os slides e iniciei a aula. Estava eu lá fazendo o meu trabalho, no meio das
minhas reflexões, articulando altas ideias e respondendo as perguntas feitas
pela turma. Eis que chega uma das coordenadoras na porta da sala, me chama e
pede para eu falar mais um pouco porque o professor que daria aula no último
horário não chegaria a tempo. Comemorei. Teria mais uma hora para apresentar os
slides que eu preparei. Mas como diz o ditado popular, “alegria de pobre dura
pouco”. Cerca de cinco minutos depois, a secretária apareceu para dizer que eu
teria de suspender a aula porque o motorista do ônibus escolar disse que iria
embora e não voltaria às 22h para levar os e as estudantes para casa. Isso
posto, eu fui obrigado a encerrar mais cedo. Afinal, eu não podia exigir que as
pessoas voltassem para casa andando e debaixo de chuva. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Era 21h. Pedi a um
estudante para esquentar o meu marmitex no micro-ondas. Jantei. Aproveitei
para trocar umas ideias com ele e tentar esfriar a minha cabeça depois de tanta
miséria que aconteceu comigo. Eis que às 21:54h, um colega meu ligou para
perguntar onde eu estava porque ele queria entrar no apartamento, chamou,
chamou e eu não respondi. Eu disse que não respondi porque eu não estava lá. E
ele disse que estava na pizzaria tomando uma cerveja, e me chamou para ir lá também.
Fui. Me sentei, pedi um copo e comecei a conversar enquanto bebia uma cerveja
preta. Alguns minutos depois, e para coroar o dia de merda que tive, recebi uma
bela cagada de pombo vinda do alto de uma árvore. A bosta só não caiu na minha
cabeça porque eu inclinei um pouco o corpo para frente, e por isso o cocô bateu
no encosto da cadeira e sujou as costas da minha camisa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Pronto. Foi esse o meu dia
hoje. Vou tomar um banho e dormir, para ver se a água leva essa energia ruim
pelo ralo. Espero que o dia de amanhã seja totalmente diferente do que foi
hoje.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Desgraça pouca é bobagem.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/AnaPaula/Documents/Roger/Acho%20que%20pisei%20em%20rastro%20de%20corno%20hoje.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"> “Era óbvio. As cidades estão
insuportáveis”. Entrevista dada por Ermínia Maricato a Adriana Delorenzo. <b>Fórum: outro mundo em debate</b>. Ano 12,
n. 124, julho 2013, pp. 18-19. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/AnaPaula/Documents/Roger/Acho%20que%20pisei%20em%20rastro%20de%20corno%20hoje.doc#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"> BIKO, Steve. <b>Escrevo o que eu quero</b>. São Paulo: Editora Ática, 1990, p. 96.</span></div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-8345049710479887472013-07-18T15:30:00.000-03:002013-07-19T06:49:43.778-03:00A tal meritocracia<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ai, esse Facebook que me
domina! Não há um dia em que eu não veja algo que me fascine, me revolte, me
surpreenda – positiva ou negativamente - ou que me deixe intrigado ao acessar diariamente
essa mídia social.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Hoje de manhã, acessei-o e
me deparei com a foto abaixo. Mais uma vez, comecei a escrever um comentário a
ser colocado no perfil da pessoa que o repassou, só que, como sempre, saiu
tanta coisa que eu resolvi reelaborá-lo, transformá-lo em texto e publicá-lo no
meu bloguito. Eu já cheguei à conclusão de que, <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2012/11/mais-umtexto-que-saiu-como-bem-disseram.html" target="_blank">como já disse em outro texto</a>, os meus escritos só saem da
mesma forma que caldo de cana e os repentes de Caju e Castanha: feitos na hora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0R3wCUAXjcJu-CT-OkgWzl2RT0EOibbbpO2RnnjVViETTXjEga35OikB12EjsYHWdzE6xDOkDI6A5HEWdTaFzULjg7HpCx01-K8pv55n6HVqupqeD8zFZq7XFQoECNxdZnWbhQzcN0ZA/s1600/Trabalhe+que+voc%C3%AA+consegue.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="340" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0R3wCUAXjcJu-CT-OkgWzl2RT0EOibbbpO2RnnjVViETTXjEga35OikB12EjsYHWdzE6xDOkDI6A5HEWdTaFzULjg7HpCx01-K8pv55n6HVqupqeD8zFZq7XFQoECNxdZnWbhQzcN0ZA/s400/Trabalhe+que+voc%C3%AA+consegue.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Eu cresci vendo a minha avó
e a minha mãe dizerem que as melhores comidas que já prepararam sempre saíram
na base do improviso. Em épocas de despensa mirrada e geladeira vazia, quando
nós estávamos “com os dentes na parede, roendo o reboco para comer os tijolos”,
como disse meu tio Valter, o procedimento era sempre o mesmo: misturar um
tempero ali, umas pontinhas de carne de sertão e chouriça frita aqui, um resto
de feijão acolá; jogar tudo dentro de uma panela, acrescentar azeite de dendê e
o produto final dessas misturebas sempre foram iguarias deliciosas que elas
nunca conseguiram fazer de novo. Espero eu que aconteça a mesma coisa com esse
texto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ao trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Não me agrada nem um pouco
ver mensagens desse tipo associadas a fotos como essa porque isso me parece
muito escroto. Como diz Gilberto Gil, “repare”: o menino estuda em condições
subumanas, sem a mínima condição necessária para uma pessoa estudar e aprender,
sentado em um garrafão de gasolina, com o caderno apoiado sobre um banquinho e
com a coluna toda curvada – em total desconforto, o que lhe renderá uma
tremenda escoliose em pouquíssimo tempo. E se o ambiente não for bem iluminado,
ele fatalmente desenvolverá problemas oftalmológicos com a mesma rapidez que
adquirir problemas de coluna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglcVWPcrUGmYkzFH99xtF_2tVoeQ5TBWW9I9MVPS0L3yDW2WS75C1YuOu-_897q0P9rUUHNtb1zbdPsl_z-IOKuLlxf30qvxTuasYddwxExQq-5t77KlIOO8htJycDxUbv6iSv6kDwXyo/s1600/comida+no+lixo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglcVWPcrUGmYkzFH99xtF_2tVoeQ5TBWW9I9MVPS0L3yDW2WS75C1YuOu-_897q0P9rUUHNtb1zbdPsl_z-IOKuLlxf30qvxTuasYddwxExQq-5t77KlIOO8htJycDxUbv6iSv6kDwXyo/s200/comida+no+lixo.jpg" width="138" /></a></div>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Provavelmente, ele deve ser
mais um subalimentado que tem de <a href="http://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8" target="_blank">revirar sacos de lixo em aterros sanitários em busca do que comer</a> ou revirar as lixeiras da Estação
Pirajá e catar um resto de acarajé cuspido para aplacar a fome. (Eu já vi isso um
dia à noite, na volta do trabalho, e nunca esqueci – e nunca esquecerei - essa
cena que as outras pessoas que estavam na fila nem viram de tão naturalizada
que é. “Não quero ter de achar normal ver um mano meu coberto com jornal”, como
disseram os Racionais MCs na música <a href="http://www.youtube.com/watch?v=X9Zgl54qLWo" target="_blank">Rapaz Comum</a>.) Deve também
morar longe pacas da "escola" e tem de ir e voltar todo dia a pé por
falta de dinheiro para pagar a passagem do buzu ou por morar em um lugar de
difícil acesso e não ter transporte escolar. Como se isso tudo não bastase, ele
muito provavelmente tem de trabalhar o dia inteiro vendendo picolé na Lapa ou
limpando para-brisa de carro na sinaleira do Iguatemi. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Qual é a condição que esse
menino tem de obter um bom aprendizado? Qual é a chance que esse cara tem de se
tornar médico, advogado, professor, engenheiro mecatrônico ou ministro do STF
em comparação a uma criança que teve todo o suporte necessário para estudar e
aprender? Que tem livros à farta em casa, internet banda larga à disposição,
comida na mesa e não precisa trabalhar desde cedo para sobreviver? <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEz_owVcabUhpFjAx8PVT6zQ0eJ3k3nRoOwuY2yT-7nCTxwlpLpCnrg7itGFVLkoECkXd_CjzZ4myR2IE_sewHEdF02JzvdiYAZeEcDZyHKeiDzpZnFp31arqc_C5xtM8OB6seOX1IHq0/s1600/m%C3%A9rito.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="310" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEz_owVcabUhpFjAx8PVT6zQ0eJ3k3nRoOwuY2yT-7nCTxwlpLpCnrg7itGFVLkoECkXd_CjzZ4myR2IE_sewHEdF02JzvdiYAZeEcDZyHKeiDzpZnFp31arqc_C5xtM8OB6seOX1IHq0/s400/m%C3%A9rito.gif" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">É muito fácil e canalha da
nossa parte olhar para a cara desse menino e dizer que basta apenas se esforçar
para conseguir chegar lá. Que as oportunidades são iguais para todos, e só não
as aproveita quem não quer. Que ele reclama demais. Que não é a escola que faz
o aluno, e sim o aluno que faz a escola. Que só não <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2012/05/23/por-que-eu-acredito-na-educacao/" target="_blank">vira "alguém na vida"</a> quem não quer nada com a hora do
Brasil. Que “<a href="http://mutantenoticia.blogspot.com.br/2012/05/todos-pela-escola-espalhados-no-patio-o.html" target="_blank">esses meninos não querem nada</a>”. Que basta batalhar, ser perseverante, ter força de vontade e não
desistir que a vitória é certa. Se vire, dê seus pulos, trabalhe que você
consegue, se esforce, se empenhe, vá à luta, porra!, seja brasileiro, não
desista nunca!!</span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/kJu5BWsa1_0" width="560"></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Só é possível lutar quando
há condições. Quando, após ter feito vestibular duas vezes e não ter passado, a
minha mãe perguntou se eu queria fazer de novo, e, após ter dito que sim, ela
disse que eu teria de dar o meu jeito porque ela não tinha mais dinheiro para
isso, eu fui à luta. Aconselhado por Carlão, um colega de cursinho, procurei o
professor de Matemática, George Dória (agradeço publicamente a ele aqui),
contei o meu rosário de lágrimas e pedi uma ajuda. E ele deu: disse que não
podia me conceder bolsa integral, mas me colocar para pagar só a taxa do
módulo. Em termos práticos: reduziu a mensalidade de R$ 90 para R$ 30. Eu
aceitei – mesmo sabendo que nem assim eu teria condições de pagar. Como disse
Mano Brown, para quem é pobre, preto, favelado e precisa superar 350 anos de
atraso para vencer, não tem essa de “talvez dê”, “vamos ver se dá” ou “não vai
dar”. Tem que dar! Vamos pra cima!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Não tinha grana para custear
o deslocamento até o Centro. Por isso, eu ia andando de manhã cedo de
Cajazeiras até Castelo Branco, às 5:15h, bebia um copo d’água e colocava uma
pitada de açúcar debaixo da língua, deixava a minha mãe chorando de desespero e
com taquicardia em casa com medo de alguém me atacar no meio do caminho para
pegar carona com um colega de turma (Luís Alberto, a quem eu agradeço até hoje
pelo apoio). Se chovesse no meio do caminho, eu não poderia parar, pois, se
parasse, eu perderia a carona. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Às vezes, ele, ao ver a minha cara de fome, me
chamava para tomar o café da manhã junto com ele. Quando ele não fazia isso, eu
tinha de me virar: pedia dinheiro a um e a outro descarada e despudoradamente para
comprar um suco de laranja e um pacote de biscoito recheado (hábito que deixou
os meus níveis de colesterol na estratosfera) sob pena de desmaiar de fome
enquanto o professor de Matemática estava dando aula sobre trigonometria. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Quando não rolava carona, eu
tinha de ir de ônibus – mesmo sem um puto no bolso. Na hora de descer, eu abria
a porta do buzu na tora - ajudado pelos peões de obra de Cajazeiras que, assim
como eu, não tinham dinheiro para pagar a passagem da marinete. Descia na
última passarela da Av. Bonocô sentido Vale do Ogunjá e ia andando até a
Mouraria (quem quer ou precisa viajar sem pagar precisa descer alguns pontos
antes como medida de segurança). Estudava o dia inteiro, porque a minha mãe
segurava as pontas em casa – se endividando horrores para isso, é claro. E, já
na reta final da preparação para o vestibular, eu, após ser proibido de entrar
por estar inadimplente, comecei a catar latas de alumínio no lixo para
conseguir algum dinheiro. A situação estava tão periclitante que houve dias em
que a minha mãe só foi trabalhar porque eu peguei parte do dinheiro obtido com
a venda das latas e dei a ela para pagar a passagem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Em dezembro, mês de revisão
final, eu voltei ao cursinho e pedi ao mesmo professor para entrar de novo. Ele,
mais uma vez, me colocou para dentro e eu pude pegar mais algumas dicas e fazer
a prova. Dicas essenciais para eu conseguir a aprovação no vestibular da UFBA
em 2002. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Até hoje, eu me lembro do
dia em que eu soube da notícia, 28 de fevereiro de 2002. Estava voltando de
Castelo Branco após uma catada de latinha, resolvi passar na casa de Íris, uma
grande amiga (onde está você, criatura?) e encontrei a saudosa mãe dela na
janela que, ao me ver, disse que o resultado já havia saído e que Íris havia
salvado a lista para mim. Ao ver o meu nome lá, saí pulando de
alegria pela rua da casa dela até a minha. Quando cheguei em casa, encontrei
meu irmão mais velho chorando, gritando e fazendo o maior parnavueiro no prédio
por conta da minha aprovação. Ele soube porque Diego e Eliana, colegas de turma
(onde estão vocês?), viram meu nome na lista e ligaram para dar as boas novas.
Como eu não estava em casa, ele e ela passaram o recado para o meu irmão. Minha
mãe ligou em seguida e meu irmão passou a notícia para ela por telefone. Minha
mãe tresloucou na rua. Chegou em casa vibrando e chorando loucamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Impossível esquecer a
comemoração: eu, na frente do prédio em que morei, ao lado de Welber e Juninho,
dois vizinhos, pulando e cantando <i>New
York, New York</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Escrevi tudo isso para dizer
que se não fosse o apoio de todas essas pessoas, eu não teria conseguido porra
nenhuma. Sozinho, ninguém faz bulufas de nada. Se dependesse somente de mim, eu
já estaria na passarela Iguatemi-Rodoviária vendendo óculos Varney (é assim que
escreve?), na Av. Sete ou no Comércio vendendo DVD pirata ou com uma guia de
cafezinho na Praça Municipal há muito tempo. É escroto e cínico pra caralho
dizer que uma pessoa não venceu porque não se esforçou o suficiente. As pessoas
não vencem porque não encontram apoio! Porque não acharam quem desse uma
ajudinha. E muitas vezes essa ajuda nem precisa ser financeira, mas apenas uma
palavra de motivação. De alguém que olhe para aquele menino e diga “você pode,
você é capaz, eu tô contigo; eu tenho pouco, mas esse pouco está à sua
disposição”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">É possível que o menino da
foto nem isso tenha tido. Ele certamente viveu em meio à desesperança, à
invisibilidade social, criado por pessoas que, por terem vivido sob as mesmas
condições que ele, nunca se viram como capazes de chegar à universidade ou de
ter um bom emprego. Pessoas que foram jogadas na sarjeta social e obrigadas a
viver assim. Que nunca tiveram comida na mesa, que nunca tiveram acesso à
educação escolar, que cresceram ouvindo que estudo é “coisa de rico” e que
“pobre tem que trabalhar”. Que sempre o massacraram psicologicamente <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2010/08/o-que-estamos-fazendo-com-as-nossas.html" target="_blank">dizendo que ele era burro e que não serviria para nada</a> que preste na vida. Ou que nunca incentivaram o menino a estudar não por
acharem que isso não é importante, mas porque precisavam dele trabalhando e
trazendo dinheiro para casa todo dia. Caso contrário, todos e todas dormiriam
“com a barriga nas costas”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Poderia escrever mais
coisas, mas vou parar por aqui porque senão o texto ficará longo demais e eu
certamente me perderei. Se quiserem dialogar comigo, fiquem à vontade.<br /><br />Sobre meritocracia e privilégios sociais, <a href="http://alexcastro.com.br/" target="_blank">Alex Castro</a> produziu uma série maravilhosa que eu só não vou citar aqui porque o blog dele foi encerrado. Mas há uma palestra magistral proferida pelo professor Hélio Santos sobre o assunto, e que eu recomendo expressamente que vocês vejam se quiserem entender o que é o mérito em uma sociedade desigual, racista e excludente como a nossa: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 14px;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="360" src="//www.youtube.com/embed/X3bBeVortdo" width="480"></iframe></span></span></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-51111098609074081332013-06-11T16:25:00.001-03:002013-06-11T20:03:59.314-03:00A representação das pessoas negras nas novelas: algumas considerações<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Vamos falar de novela.
Acabei de ver na internet uma notinha a respeito de críticas que estão sendo
feitas à novela Amor à Vida, exibida pela Rede Globo no horário das 21h. <a href="http://www.revistaafro.com.br/mundo-afro/amor-a-vida-e-criticada-por-internautas-por-nao-ter-nenhum-ator-negro-no-elenco/" target="_blank">Diz a nota</a> que os e as internautas não estão gostando nem um pouco de ver que não há
nenhum ator e nenhuma atriz negras na trama. Há quem diga que “não entende por
que há personagens gays, mas não há personagens negras e negros”. Já outro diz
que “A Globo mantém o seu racismo numa novela sem atores negros”. Passemos
adiante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Eu também fiquei muito
incomodado com isso, além de não ter gostado do enredo da novela. Fiz um
esforço para assistir aos dois primeiros capítulos, mas a coisa não me agradou
nem um pouco. Tentei assistir a mais alguns, mas perdi a paciência principalmente
ao ver as cenas da personagem Valdirene, interpretada por Tatá Werneck. A
personagem é muito sem graça e a atriz parece que ou não entende muito bem da
coisa ou ainda está meio perdida e não conseguiu se localizar. A minha opinião
é a de um telespectador, portanto eu deixarei as críticas aos detalhes
mais específicos para quem entende do assunto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">O diretor de cinema Joel
Zito Araújo, uma das maiores autoridades brasileiras sobre o negro nas novelas,
que assina obras como o documentário <a href="http://vimeo.com/62333824" target="_blank">A Negação do Brasil</a> e Raça, este último <a href="http://cineinsite.atarde.uol.com.br/programacao/locais.php?id_cidade=1&id_filme=39549" target="_blank">em cartaz nos cinemas</a>, manifestou-se através do seu perfil no Facebook a respeito
da novela citada acima. Disse ele que</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;">:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigq6EYkFLgx1Mjo9uQW1qX3y1WCr3NfO0CuFd4ZcN1dhYI9LGoq3oJX70PlupiOmQl4VDuunntS4eCAC4-2BFrxOyJEt4AT67jqAFu86wDw5fW1kIyXaXvY3-KY1T3QmVj9vOst9hLiD8/s1600/Joel+Zito+Ara%C3%BAjo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigq6EYkFLgx1Mjo9uQW1qX3y1WCr3NfO0CuFd4ZcN1dhYI9LGoq3oJX70PlupiOmQl4VDuunntS4eCAC4-2BFrxOyJEt4AT67jqAFu86wDw5fW1kIyXaXvY3-KY1T3QmVj9vOst9hLiD8/s400/Joel+Zito+Ara%C3%BAjo.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Por conta dessa declaração,
eu resolvi dialogar com ele (vejam só o tamanho da minha pretensão). Penso que
a novela Lado a Lado não foi produzida porque a Rede Globo se tornou mais
progressista e engajada na superação das desigualdades sociorraciais no Brasil
(o que esperar de uma emissora comandada por Ali Kamel?), e sim como uma maneira
que a Central Globo de Produção encontrou de desviar a atenção e calar a boca
do movimento negro. Pois é bom lembrar que esta novela foi ao ar justamente no
momento em que as críticas à personagem Adelaide, interpretada por Rodrigo
Sant'anna no Zorra Total, estavam ficando <a href="http://revistaforum.com.br/blog/2013/01/sobre-adelaide-zorra-total-e-o-racismo-sem-graca/" target="_blank">cada vez mais acintosas e contundentes</a>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8MQd-oReYGkQLZR22x1I_JBO701s4TtDjpfEUqlh4UAKDhf4vr-72kS_MqR8OSqD_ExdlvG4IpI73Uh4uLoXpSunUY4MnnVMrn0AsLPXPWRwOBmCUBT2NEcjUeYG3jJnL_PHbI88wl4/s1600/Adelaide.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgo8MQd-oReYGkQLZR22x1I_JBO701s4TtDjpfEUqlh4UAKDhf4vr-72kS_MqR8OSqD_ExdlvG4IpI73Uh4uLoXpSunUY4MnnVMrn0AsLPXPWRwOBmCUBT2NEcjUeYG3jJnL_PHbI88wl4/s400/Adelaide.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><i>Mulher, negra, pobre, mal-vestida, que "fala errado", desdentada, e que só se apresenta de maneira ridícula, vergonhosa e repugnante. Se isso não é uma agressão às mulheres negras desse país, o que é então? Se quiserem entender mais sobre esse tipo de "humor", veja <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2013/05/27/bamboozled/" target="_blank">Bamboozled - A Hora do Show</a>.</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Isso é tão procedente que a
Globo escalou ninguém menos do que Lázaro Ramos para ser o protagonista da
trama, e o colocou para contracenar com outra grande atriz brasileira que é
Camila Pitanga e outro grande ator que é Milton Gonçalves - que dispensa
comentários. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Ramos é o mesmo ator que
comanda o <a href="http://canalbrasil.globo.com/programas/espelho/" target="_blank">Programa Espelho</a>, exibido toda segunda-feira no Canal Brasil às
21:30h, e que já levou à sua cadeira de entrevistas referências do movimento
negro na atualidade a exemplo do ex-deputado Carlos Alberto de Oliveira, o Caó,
autor da <a href="http://ceaprj.org.br/seus-direitos/lei-771689-lei-cao/" target="_blank">lei 7.716/89</a>, que tipificou o racismo como crime inafiançável e
imprescritível, e que, em sua homenagem, foi batizada como Lei Caó; o presidente
do Supremo Tribunal Federal, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=h01mxVfJOgc" target="_blank">ministro Joaquim Barbosa</a>; a suplente de vereadora
e <a href="http://www.youtube.com/watch?v=hmvSLJOY0n0" target="_blank">pedagoga Claudete Alves</a>, autora do livro <a href="http://www.scortecci.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=6636" target="_blank">Virou Regra?</a>, em que faz uma dura
crítica ao preconceito dispensado às mulheres negras no mercado matrimonial; a
filósofa, militante do movimento de mulheres negras e presidente do <a href="http://www.geledes.org.br/" target="_blank">Instituto Geledés</a>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=tND4jyqcVs4" target="_blank">Sueli Carneiro</a>; o etnólogo cubano Carlos Moore, autor dos livros
Racismo e Sociedade e Fela: Esta Vida Puta, biografia autorizada do cantor e
ativista social nigeriano Fela Kuti; a escritora mineira Ana Maria Gonçalves, autora
do livro Um Defeito de Cor, que é uma das melhores representações ficcionais da
escravidão no Brasil; e <a href="http://www.youtube.com/watch?v=fvSvdDwvVaw" target="_blank">Abdias do Nascimento</a>, maior referência da luta
antirracista no Brasil, fundador da Frente Negra Brasileira e do Teatro
Experimental do Negro, e autor do livro O Genocídio do Negro Brasileiro. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Além disso, Ramos costuma
citar como dicas de leitura várias obras basilares para a compreensão do
racismo como fator estruturante e regulador das relações sociais no Brasil, a
exemplo de A Discriminação do Negro no Livro Didático, da pedagoga Ana Célia da
Silva; Da Diáspora, de Stuart Hall; o Relatório Anual das Desigualdades
Raciais, produzido pelo <a href="http://www.laeser.ie.ufrj.br/PT/Paginas/home.aspx" target="_blank">LAESER</a> (Laboratório de Análises Econômicas, Históricas,
Sociais e Estatísticas das Relações Raciais) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, que tem em seus quadros o economista <a href="http://www.youtube.com/watch?v=rCrVaEQ5bNA" target="_blank">Marcelo Paixão</a>; o <a href="http://mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_cor.pdf" target="_blank">Mapa da Violência 2012</a>, organizado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, dentre
outras.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Em suma, a Central Globo de
Produção sabia muito bem que Lázaro Ramos era o homem certo para protagonizar
uma novela como Lado a Lado. Afinal, os altos generais da Globo sabem quem Ramos
é e principalmente de onde ele veio. Acrescente-se a isso as personagens Tia
Jurema, interpretada por Zezeh Barbosa (o primeiro trabalho respeitável feito
por ela, visto que as personagens concebidas por Miguel Falabella sempre foram
horríveis, vide a Condessa Duvivier da novela Aquele Beijo, exibida em 2011);
Caniço, interpretado por Marcello Melo Jr. (as <a href="http://tvg.globo.com/novelas/lado-a-lado/videos/t/cenas/v/ze-maria-e-canico-lutam-capoeira/2449305/" target="_blank">cenas de luta entre Caniço e Zé Navalha</a>, interpretado por Ramos, ficarão eternamente na minha memória); Chico,
vivido por César Mello (que interpretou o <a href="http://jtdecarvalho.com/blog/index.php/2010/10/08/a-origem-do-po-de-arroz/" target="_blank">episódio do “pó de arroz”</a>, em que o
jogador Carlos Alberto, negro, teve de se pintar de branco para ser aceito no
time do Fluminense em 1914), dentre outros. As crônicas escritas por Cidinha da
Silva analisam muito bem o desenrolar dessa novela. <a href="http://cidinhadasilva.blogspot.com.br/" target="_blank">Entrem no blog dela</a> e
procurem. Vocês não vão se arrepender.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Depois de ter deixado a galera
extasiada, tudo voltou ao que era antes.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Essa estratégia funcionou
tão bem que no mesmo ano em que a novela Lado a Lado foi ao ar e, consequentemente,
a população negra ficou radiante de felicidade ao se ver representada na
telinha, a Rede Globo, em uma atitude de completo deboche às manifestações dos
grupos organizados na luta contra o racismo, produziu uma série de <a href="http://andryshqueiroz.blogspot.com.br/2012/11/entre-acusacoes-de-racismo-adelaide-do.html" target="_blank">DVDs com os melhores momentos da personagem Adelaide</a> no tal "humorístico". E o
mais surpreendente de tudo é que os mesmos grupos que estavam combatendo a tal
personagem parecem que não viram (ou, se viram, não deram a menor importância) essa chacota pública que a Vênus Platinada fez com as nossas reivindicações. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Debochar da nossa cara é
algo que a Globo faz com maestria. Vale dizer que o DVD de Adelaide foi lançado
em novembro de 2012. Justo o mês de novembro, que, depois de muita luta, foi
consagrado como Mês da Consciência Negra. A mesma coisa já tinha sido feita em
novembro de 2010 numa cena da novela Viver a Vida, em que a personagem Tereza
Saldanha, interpretada por Lília Cabral, tascou uma sonora bofetada na cara da
protagonista Helena, vivida por Taís Araújo (a primeira Helena negra de Manoel
Carlos), numa cena extremamente humilhante em que Helena ficou de joelhos na
frente de Tereza implorando por perdão, e recebeu como resposta o bofetaço no
rosto. Essa cena foi exibida em pleno dia 20, que é o Dia da Consciência Negra.
Se isso não foi uma provocação descarada, eu não sei de mais nada.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 14px;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/a1ewgffVGfc" width="420"></iframe></span></span><br />
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;">Para finalizar: além de
calar a boca do movimento negro, a Rede Globo abriu um precedente favorabilíssimo.
Pois da próxima vez em que a referida emissora for acusada de racismo, podem
ter certeza de que os seus altos oficiais virão a público com o mesmo argumento
de sempre: "Racistas, nós? Que absurdo! Nós até produzimos recentemente
uma novela com um elenco majoritariamente negro, com um ator negro como
personagem principal. Calúnia!! Os patrulheiros do </span><a href="http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/04/04/as-origens-da-expressao-politicamente-correto/" style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;" target="_blank">politicamente correto</a><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%;"> não nos deixam em paz!!!"</span></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-21334127283006234472013-05-29T18:41:00.001-03:002013-05-29T18:43:01.971-03:00Ditadura de esquerda ou ditadura de direita: qual é a melhor?<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.5pt; margin-bottom: 3.75pt; mso-outline-level: 5; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Semana passada, eu dei uma aula sobre
Revolução Cubana. Inevitavelmente, eu tive de falar sobre o líder máximo do
movimento que derrubou a ditadura de Fulgencio Batista e instalou o socialismo
em Cuba: Fidel Castro. Ato contínuo, eu disse que tenho as minhas críticas ao
modo como Fidel conduziu os destinos de Cuba após a vitória da revolução, não
gostaria de ser governado por um Fidel Castro por nada nesse mundo, mas eu devo
reconhecer que houve mudanças diametrais nas condições de vida do povo cubano
após a chegada dele ao poder: a medicina cubana é referência no mundo inteiro,
foi implantado um programa de erradicação do analfabetismo, dentre outras
coisas.<br />
<br />
Ao ouvir isso, uma estudante minha começou a espinafrar Fidel com o argumento
de que ele comandou Cuba com mão de ferro, eliminou sumariamente os seus
inimigos reais e imaginários, ficou no poder durante 49 anos e passou o posto
para o irmão dele quando estava muito doente. E disse, para arrematar, que os
avanços sociais não atenuam a conduta dele como ditador e que é melhor viver
aqui no Brasil, pois nós vivemos numa democracia e por conta disso nós temos o
poder de escolher os nossos governantes a cada quatro anos.<br />
<br />
Quando eu disse que a ditadura em que vivemos aqui é muito pior do que a de lá,
uma vez que os nossos governantes não passam de <a href="http://www.youtube.com/watch?v=xAVYFYMFAag" target="_blank">marionetes do grande capital internacional</a>, ela discordou e disse que, ainda assim, é melhor viver no Brasil
do que em Cuba.<br />
<br />
Não vou me alongar no mérito da questão, até porque eu nem sou tão versado na
história de Cuba e da Revolução Cubana quanto pareço. Eu só espero que ela
assista ao documentário abaixo para saber que o mundo capitalista vive uma
ditadura muito mais cruel, cínica e sangrenta do que o povo cubano.<br />
<br />
Quem manda de fato no mundo são pessoas e grupos que não aparecem, que não
mostram a cara, e por isso nós nem sabemos quem são. O documentário abaixo
elucida muito bem isso ao dizer como age a instituição financeira mais poderosa
do mundo, o banco Goldman Sachs.<br />
<br />
Confiram, se quiserem, e tirem as vossas próprias conclusões.</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="275" mozallowfullscreen="" src="http://player.vimeo.com/video/64367939" webkitallowfullscreen="" width="500"></iframe> <a href="http://vimeo.com/64367939">Goldman Sachs - O Banco que dirige o Mundo - Documentário Completo</a> from <a href="http://vimeo.com/documentariosfilmes">Documentários e Filmes</a> on <a href="http://vimeo.com/">Vimeo</a>.<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-60657344250722794762013-04-14T23:32:00.001-03:002013-04-15T12:47:02.234-03:00Epopeia de um homem que só quer viver e trabalhar em Salvador - mas tá difícil!<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Como se diz na gíria, parece
que eu pisei em rastro de corno na sexta-feira passada. Eu não me lembro de ter
enfrentado dificuldades tão grandes para chegar ao trabalho como neste dia.
Lembro de uma, mas <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2012/07/em-dia-de-azar-o-urubu-de-baixo-caga-no.html" target="_blank">quando estava voltando para casa</a>. Parece mentira ou exagero da minha parte, mas eu vou contar a história
aqui e sintam-se à vontade para tirar as vossas conclusões. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Acordei predisposto a fazer
uma megafaxina, pois a casa onde moro estava uma zona. Só que antes eu tive de
corrigir um texto escrito pela digníssima, que ela pretendia publicar no blog
dela - <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2013/04/12/ser-negro-no-brasil/" target="_blank">e publicou</a>. Assim que eu terminei, eu devolvi
o texto para ela com as correções e peguei o garrafão de água vazio para
comprar outro cheio no bar de Alemão. Pretendia iniciar a faxina com a lavagem
do banheiro (que estava fétido) assim que retornasse. Entretanto, quando estava
me preparando para sair de casa, a digníssima recebeu uma ligação do irmão dela
para dizer que o pai dela havia passado por um problema pessoal (que não vem ao
caso mencionar aqui). Ao saber disso, a digníssima tresloucou. Desligou o
computador de qualquer jeito, pegou a carteira de identidade e o celular e saiu
em direção ao local onde o pai dela estava. Eu tive de sair com ela, pois seria
muita insensibilidade da minha parte deixá-la sair sozinha naquele estado de
nervos. <br />
<br />
Felizmente, não foi nada grave. O problema foi resolvido rapidamente, e o pai
dela voltou para casa sem que nada de mais grave tivesse acontecido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">No caminho de volta para
casa, passamos em frente a uma loja de roupas e a digníssima viu uns vestidos
que chamaram bastante a atenção dela. Entramos na loja. Ela pegou três (um
vermelho, um amarelo e um azul) e pediu a minha opinião. Só que nesse exato
momento, eu recebi uma ligação no celular e parei para atender. Como ela viu
que eu estava ocupado, ela preferiu decidir sozinha qual vestido comprar. Optou
pelo azul. Só vi o vestido em casa, depois que ela o lavou e o colocou no varal
para secar. Gostei da escolha. Azul é uma cor que me agrada bastante. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Lavei o banheiro. Quando
terminei, já havia passado das duas da tarde. Sujo, com o corpo cheirando a
água sanitária e sabão em pó e o estômago roncando de fome, saquei que o meu
plano de sair de casa às 15h havia ido por água abaixo. Mas acelerei. A
digníssima improvisou uma comida com celeridade para eu não sair de casa com
fome. Tomei um banho rápido, almocei com ela, arrumei minhas coisas, vesti a
roupa e saí. Já era quase 15:30h quando eu botei o pé fora de casa rumo a Mar
Grande, onde dou aula. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Tive de andar até a Rótula
da 10 para pegar um buzu, pois não quis me arriscar a esperar um dentro de
Fazenda Grande 2 (tudo isso em Cajazeiras, bairro onde moro). Andei, andei, e
não passou nenhuma marinete que servisse para mim. Cheguei à Rótula às 16h.
Cerca de dois minutos depois, passou um Estação Mussurunga da empresa BTU. Seria
uma alternativa boa, pois esse buzu não entra em Fazenda Grande 3 nem em Vila
Verde e, lá em Mussurunga, eu pegaria um Barra 1 (da empresa Ondina, código de
linha 1051) e chegaria ao Comércio numa boa. Mas eu desisti por acreditar que
ficaria retido no engarrafamento da Paralela (que começa no Shopping Paralela e
vai até a entrada do Imbuí), o que seria um obstáculo ao meu plano de chegar ao
Terminal da Lancha, no Comércio, a tempo de pegar a lancha de 17:30h. Aproximadamente
dez minutos depois, apareceu um Estação Pirajá R1, da empresa Barramar. Peguei
o buzu, pois queria sair logo dali. O motorista dirigiu numa lerdeza
desgraçada. Parava em todos os pontos e parece que ganhava por passageiro. A
vontade que me deu foi de levantar e meter os meus dois pés na cara dele, mas
achei por bem não fazer isso porque seria pior, poderia causar um acidente mais
grave e fatalmente eu não chegaria a tempo. Contive-me.<span style="color: red;">
</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Desembarquei na Estação
Pirajá às 16:39h. Vi que a fila do Barra 1 (da empresa Barramar, código de
linha 1335) estava relativamente grande, mas não havia nenhum buzu parado no
ponto. Encostou um Lapa. Após alguns segundos, concluí que seria prudente,
apesar de desgastante, pegar logo aquele ônibus, descer na Lapa e andar (ou
melhor, correr) até o Terminal da Lancha. Se eu ficasse lá à espera do
famigerado Barra 1, certamente chegaria atrasado. Novamente, o motorista estava
dirigindo com uma lerdeza que parecia que estava levando o pai dele com desvio
de coluna dentro da marinete. Que porra era aquela? A BR livre, o Acesso Norte
livre, e ele dirigindo naquela lentidão! Parecia que ele estava adivinhando que
eu estava atrasado e resolveu me sacanear ainda mais. Quando o buzu passou pelo
viaduto que liga a Rótula do Abacaxi à Avenida Bonocô, vi o Barra 1 que sai da
Estação Mussurunga passando lá embaixo, saindo da Avenida ACM em direção à
Rótula do Abacaxi. Pensei na hora: “Está vendo aí? Se tivesse pego o Estação
Mussurunga da BTU na Rótula da 10, eu certamente estaria dentro daquele buzu
que está passando lá embaixo e chegaria ao Terminal da Lancha mais cedo e com
mais tranquilidade”. Mas dane-se! Já estou aqui mesmo, e o jeito agora é dar
continuidade ao processo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">O motorista do ônibus que
seguia em direção à Lapa deu uma matracadazinha na Bonocô. Não havia ninguém
para descer nos dois primeiros pontos, mas ele quis porque quis passar pela
faixa da direita para encostar nos pontos. Me contive para não soltar uma porra
bem alta. Entrou no Vale do Ogunjá na mesma matracagem. Na Vasco da Gama,
então, é que lenhou de vez. A via exclusiva estava livre, mas o safado estava
mesmo a fim de me pirraçar. Chegou ao Dique, e havia um pequeno
congestionamento. Não sei por que raios, mas aquela sinaleira nunca está
liberada quando eu passo por lá. Sempre tenho de esperar os carros que vêm da
Fonte Nova passar primeiro para eu passar depois. Um saco!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Desembarquei na Lapa às
17:06h. Prometi para mim mesmo que não entraria mais naquela pocilga (contarei
o motivo em outro texto), mas tive de quebrar a promessa hoje por conta da
situação. Subi as escadarias correndo, colocando o braço na frente
“educadamente” para mostrar às pessoas que eu estava com pressa e precisava
passar. Algumas compreenderam – e eu não me preocupei com as que não
compreenderam. Subi a escada rolante que dá acesso aos fundos do Colégio
Central no mesmo ritmo: colocando o braço, pedindo licença e passando. Tirei a
mochila das costas e segurei-a com a mão direita para poder andar com mais
velocidade. Não tive paciência para esperar a sinaleira em frente ao IPS (Instituto
de Previdência Social)<span style="color: red;"> </span>ficar verde para os
pedestres, aproveitei um mole dado por um taxista e passei. Ao entrar na
transversal que dá acesso à Rua do Paraíso, tomei um tropeço desgraçado, "catei umas fichas" e caí estatelado
no chão. Só não bati a cabeça na calçada e quebrei alguns dentes porque estava
segurando a mochila com a mão direita, como já disse, e, na queda, a mochila
foi parar debaixo da minha cabeça e amorteceu o impacto. Pura sorte. A garrafa
com água que eu estava carregando caiu para o lado oposto da mochila. Ao me ver
estatelado no chão, uma mulher parou para tentar me ajudar. Eu, rapidamente,
botei as mãos no chão, levantei e continuei correndo. A mulher, ao me ver
esbaforido, só teve tempo de dizer: “moço, a garrafa está ali”. Eu peguei a
garrafa, enfiei-a de novo no bolso lateral da mochila e continuei andando. Nem
olhei para a cara da senhora que foi tão solícita comigo ao me ver esparramado
no meio da rua, o que denota o quão atarantado eu estava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Entrei na Rua do Paraíso e
passei pela Barroquinha chispando. Tentei subir a Ladeira da Praça correndo,
mas não tive fôlego para isso (que falta me faz as minhas corridas matinais).
Já era 17:21h. O desespero bateu, pois eu perderia o carro que me levaria a
Tairu (que sai da Praça do Duro, em Mar Grande, pontualmente às 18:20h) se não
conseguisse pegar a lancha de 17:30h. Andei o mais rápido que pude. Cheguei à
Praça Municipal e entrei no Elevador Lacerda. Por sorte, não havia fila.
Passei, meti a mão no bolso, tirei os R$ 0,15 necessários para pagar a passagem
e parei na porta para esperar o elevador que me levaria à Cidade Baixa. Quando
eu estava lá, suando em bicas, todo desgoelado, com a mão esquerda ralada e sentindo a porrada que levei
no joelho esquerdo por conta da queda, recebi uma ligação de uma das
coordenadoras do Quilombo do Orobu (cursinho pré-vestibular no qual também dou aula)<span style="color: red;"> </span>perguntando se eu daria aula lá na sexta à noite.
Disse que não. Marcos Paulo, o cabra que faz dupla de área comigo na matéria de
CCN (Cidadania e Consciência Negra), assumiu o babado sozinho. Estava azoado, e
espero não ter sido grosseiro com Tice, pois ela não merece isso. Se fui, peço
desculpas aqui publicamente. Eu não estava em condições de raciocinar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Finalmente desembarquei do Elevador
Lacerda. Cheguei à Cidade Baixa. O relógio marcava 17:25h. Na hora de
atravessar a rua, vi que o semáforo em frente ao Mercado Modelo estava marcando
54 segundos para os carros passarem. Não quis esperar. Aproveitei que havia um
buzu parado no ponto, avancei, olhei com cuidado, vi que não havia nenhum outro
veículo passando por fora, e adiantei. Cheguei ao Mercado Modelo. Passei por
dentro mais rápido do que uma bala, dei umas pequenas trombadas na turistada
otária que estava no meu caminho, e cheguei ao outro lado. O Terminal estava a
alguns metros de mim, mas parecia que estava a anos-luz de distância. Avancei. Consegui
chegar à fila. Na hora em que eu estava me dirigindo ao guichê, duas mulheres andando
em diagonal atrapalharam involuntariamente a minha passagem. Botei meu braço na
frente, passei, tirei o dinheiro do bolso (que, para minha alegria, já estava
trocado), passei pelo torniquete e cheguei à lancha. Ufaaaaa!! Que alegria!!!!
Consegui pegar a lancha de 17:30!!!!!!!!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Achei um lugar na popa, e me
sentei. Alguns minutos depois, chegou meu amigo e futuro médico Mota, professor
de Biologia do <a href="http://www.prevestibularquilomboilha.com/" target="_blank">Quilombo Ilha</a>. Gritei e sinalizei com
o braço para ele me ver e sentar ao meu lado. Ele me viu. Sentou. Fizemos a
travessia numa boa, e aproveitei o balanço da lancha para papear um pouco e
esfriar a minha cabeça – que estava bastante agitada por conta de tudo o que
aconteceu. Afinal de contas, eu não conseguiria trabalhar do jeito que eu
estava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A conversa estava tão boa e
agradável que eu esqueci de levantar um pouco antes para não ficar retido no
bololô que se forma na saída da embarcação. Quando a lancha atracou em Mar
Grande, eu tive de esperar minutos preciosos para conseguir alcançar o lado de
fora. Saí. Com pressa. Na minha frente, havia pessoas andando na maior lerdeza
do mundo. Ultrapassei duas. Porém, havia outro que, além de andar devagar, era muito parrudo. Tentei duas vezes ultrapassá-lo, mas não consegui. O espaço
estava estreito. Quando ele finalmente deu uma inclinada à esquerda, eu passei
chispando e, na passagem, tombei no braço direito dele. Ao sentir a porrada, ele pediu
desculpas. Eu respondi que “quem tem de pedir desculpas sou eu, pois eu estou
com pressa”. O carro para Tairu sai de Mar Grande, como já disse acima, às
18:20h. Consegui chegar às 18:18h. Meu amigo Ademilton, professor de Física, já
estava ligando para mim a fim de saber se eu chegaria a tempo ou não.
Felizmente (e desesperadamente), cheguei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Estava com vontade de ir ao
banheiro, e pedi ao motorista para parar em frente à casa paroquial, onde
funciona o Quilombo Ilha, pois eu não suportaria esperar mais. Fui correndo ao
banheiro. Fiz o que tinha de fazer. O carro veio. A porta foi aberta. Eu
entrei. Era 18:30h. Eu viajei. Cheguei a Tairu às 18:54h. Ainda bem que Gevaldo
já havia deixado tudo pronto para eu entrar e trabalhar numa boa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Que dificuldade!!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">No dia seguinte, aceitei a
sugestão da digníssima e passei o dia na praia com ela. Tomei sol, alguns
litrões, papeei e sosseguei um pouco. Afinal de contas, eu mereço. Ainda mais
depois de ter enfrentado toda essa epopeia para chegar ao meu local de
trabalho no dia anterior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Tive de (d)escrever toda
essa épica trajetória Salvador-Mar Grande para demonstrar minha indignação
diante do caos em que se encontra a cidade e dizer que está cada vez mais
insuportável viver e sobretudo <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2009/07/coisas-que-eu-nao-consigo-entender-se-e.html" target="_blank">transitar em Salvador</a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-51838382076199569602012-12-20T14:42:00.000-03:002012-12-20T14:43:06.966-03:00Quer que a educação melhore? Faça alguma coisa!<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Vi uma nota na internet que
me deixou bastante indignado: “<a href="http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-3/artigo/mais-de-14-mil-alunos-de-salvador-so-terao-aulas-na-rede-estadual-em-abril/#.UNMtRoSvG1k.facebook" target="_blank">Mais de 14 mil alunos de Salvador só terão aulas na rede estadual em abril</a>”. A curta matéria conta o caso de vários meninos e
várias meninas que, por conta dos quatro meses de greve da rede pública
estadual baiana, só voltarão às aulas no dia 1º de abril de 2013 e, por conta
disso, terão de ficar mais de noventa dias parados em casa sem fazer nada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Tenho duas coisas a dizer
sobre isso: ninguém é inocente nessa parada. Todas as pessoas, guardadas as
devidas proporções, têm sua parcela de culpa e deverão assumir as suas
responsabilidades se quiserem mesmo resolver o caso. Dou ênfase a isso porque
não adianta jogar a culpa no governo, pois é chover no molhado
dizer que as autoridades não estão nem aí para a educação pública. O
governador, o secretário de Educação e os deputados baianos estão pouco se
importando se os e as estudantes da rede pública ficarão mais de três meses sem
ter o que fazer por uma razão bem simples: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA" target="_blank">os filhos e netos deles não estudam lá</a>. Aconteça o que acontecer, todos eles dormirão com a certeza de que os seus
filhos estão sendo muito bem treinados para sucedê-los no poder e continuar
dominando os subalternizados. É até bom que filho de pobre não estude mesmo,
pois, se essas faveladinhas virarem doutoras, quem vai lavar minhas cuecas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Certa vez, li um texto que
dizia que o senador Cristóvam Buarque elaborou um projeto de lei para obrigar
os políticos a matricular os filhos deles em escolas públicas. Ao conversar
sobre isso com um vizinho, ele disse que o senador Buarque era um babaca,
otário e desocupado por pensar uma coisa ridícula como essa. “Tá vendo que um
projeto desse nunca vai ser aprovado?”, disse o meu vizinho. E eu rebati: “o
senador Buarque não é babaca coisa nenhuma. Foi você que não sacou o detalhe da
jogada. Ele sabia muito bem o que estava fazendo. O objetivo dele era ver se as
pessoas perceberiam por que os políticos não se interessam em melhorar os
níveis das escolas públicas brasileiras, e se haveria alguma reação contra esse
descaso”. Porém, quem ficou sabendo disso? E para as pessoas que souberam, quem
deu importância ao caso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A situação da educação no
Brasil está do jeito que está porque as pessoas que mais deveriam pressionar
por uma educação pública de qualidade são as que menos pressionam. Ninguém se
importa com educação! Afinal, qual foi o pai ou a mãe de estudante que foi à
porta da governadoria do estado exigir que o governador Jaques Wagner
negociasse com a categoria? Nenhum! Pelo contrário, todas essas pessoas ficaram
paradas em casa, xingando as professoras de preguiçosas, vagabundas e
desocupadas que armaram todo esse fuzuê para não trabalhar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Como se isso não bastasse,
muitos pais e mães, ao invés de defender a escola pública, apoiar o professorado e reconhecer como justas
e fundamentais as reivindicações da categoria, foram às portas das escolas
particulares pedir bolsas para os seus filhos. Lembro de uma matéria publicada
em um jornal da cidade sobre uma mulher cuja filha estudava no Colégio Estadual
Thales de Azevedo. Em vez de protestar contra o descaso do governador e se
juntar ao professorado para pressionar o governo, ela escreveu uma carta
endereçada à diretoria de uma escola particular parede-meia com a já citada
escola estadual para pedir uma bolsa para a filha dela. O jornal ainda publicou
a carta em que a autora disse que estava fazendo aquilo porque não aguentava
mais ver a filha dela em casa sem estudar. Afinal, a menina tinha desejo de
estudar Medicina, o ENEM estava se aproximando e ela não estava sendo preparada
para isso. E finalizou a carta dizendo que essa atitude pode parecer um pouco
egoísta, mas "cabe a cada um encontrar as suas formas de lutar". <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Não sei se essa senhora foi
exitosa em sua investida, mas, na hipótese de ela ter logrado êxito, você acha
que ela se preocuparia com a situação das outras adolescentes que ficaram sem
aula? Você acha que ela se preocuparia com quem não conseguiu bolsa em alguma
escola particular? Se ela não se mobilizou antes, você acha que ela se
mobilizaria depois? “A minha filha está estudando para fazer Medicina, portanto
não me interessam os outros. Eu sou mãe da minha filha, e não das filhas das
outras pessoas. Quem está sem aula que se dane! Eu dei o meu jeito, portanto
elas que deem o jeito delas também”. Pimenta no rabo das filhas dos outros é
refresco. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">A outra coisa que eu tenho a
dizer é a seguinte: é assim que se inicia o extermínio da juventude negra:
fazendo de tudo para os e as estudantes ficarem fora da escola, perderem o
ritmo de estudo e saírem às ruas em busca do que fazer para vencer o tédio e a
ociosidade. Alguns inevitavelmente viram escravizados do subemprego que lhes
paga uma mixaria que é toda consumida com a compra de celulares vagabundos e
tênis de marca. Outros se tornam presas fáceis da bandidagem e, quando isso
acontece, o mesmo estado que negou a essas pessoas todas as chances de sair
daquele cenário de miséria e carência de perspectivas manda a polícia fazer o
serviço sujo de puxar o gatilho da .40 e estourar os miolos delas, sob o
argumento de estar combatendo a criminalidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">E depois ainda querem que eu
apoie essa excrescência jurídica chamada redução da maioridade penal de 18 para
16 anos. Sou terminantemente contra! Invista em educação e incentive o
protagonismo juvenil que o contingente de soldados do tráfico diminuirá. Há
vários pretos favelados por aí que só precisam de uma oportunidade para se tornar
engenheiros da Aeronáutica, médicos neurocirurgiões, desembargadoras, ministras
do STF, arquitetos, biólogas, oficiais das Forças Armadas, psicólogas, dentre
outras coisas. Mas as poucas esperanças de vida são aniquiladas quando esses
meninos e essas meninas vão à escola e não têm aula, não encontram a biblioteca
aberta, encontram professores desinteressados que reclamam das péssimas
condições de trabalho e descontam as suas frustrações em cima de quem é mais
vítima do descaso das autoridades públicas do que eles. Afinal de contas, é bem
mais fácil descontar a raiva em cima de quem é mais fraco do que peitar os mais
fortes e poderosos em busca de uma solução para o problema. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Isso foi só um desabafo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-7016446322195723802012-11-01T11:34:00.001-03:002012-11-01T11:36:23.679-03:00Os grandes ícones da luta antirracista são importantes - e você também.<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; text-align: justify;">Mais um
texto que saiu, como bem disseram Caju e Castanha, igual a caldo de cana: feito
na hora. Começou como um simples comentário lá no Facebook, mas, à medida que
fui escrevendo, saiu tanta coisa que eu resolvi elaborá-lo um pouco mais e
publicá-lo aqui no blog.</span><br />
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">Recebi na
minha página inicial uma imagem alusiva ao Mês da Consciência Negra com a
mensagem: “Nesse mês da Consciência Negra, mostre que você é a favor da
igualdade. Troque sua foto por um ícone da luta contra o racismo no mundo!”.</span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp_8tZAjPe-zn89QyJRGi4eOvJNE4aVzhrqlE-rwPjj0FsmYo2nxyp0815XhrYWNGQcnC8Ea4bUb4iPi3MEtd9qojULlJMTkBUIlx7NpmVT3geKZ6DZYn2L3HMUZafE53lfv-OiT3TwYE/s1600/M%C3%AAs+da+Consci%C3%AAncia+Negra.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp_8tZAjPe-zn89QyJRGi4eOvJNE4aVzhrqlE-rwPjj0FsmYo2nxyp0815XhrYWNGQcnC8Ea4bUb4iPi3MEtd9qojULlJMTkBUIlx7NpmVT3geKZ6DZYn2L3HMUZafE53lfv-OiT3TwYE/s320/M%C3%AAs+da+Consci%C3%AAncia+Negra.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="separator" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;"><a href="http://www.facebook.com/jo.serra.35" target="_blank">Jo
Serra</a>, parceira de caminhada que vive em Brasília, deu uma resposta que eu
achei boa, e foi a partir daí que veio a ideia de escrever esse texto. Disse
ela:</span><span class="apple-converted-space"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;"> </span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">“</span><i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">Eu vou deixar a minha foto, para mostrar que todo negro, ou
pardo, faz parte da luta. Mesmo que não queira...”</span></i><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">. Discordo em parte. Eu não acho que todo negro ou pardo
faz parte da luta, mesmo que não queira. Afinal de contas, como disse Ana Maria
Gonçalves,<span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2012/02/27/paulo-henrique-amorim-o-negro-de-alma-branca-e-os-demonios-de-cada-um-de-nos-por-ana-maria-goncalves/" target="_blank">militância não é coisa para qualquer um</a>.
Só entra nessa quem quer, pode, tem tempo, paciência e sobretudo frieza para
aguentar as piores misérias e escrotices da vida, recuperar o vigor e seguir em
frente. Quem não está a fim nem entra. E quem não tem disposição para suportar
o porradão e trabalhar sem um centavo pede para sair no dia seguinte (isso se
ela não for embora imediatamente). Além do mais, há muitos negros e negras por
aí que não estão engrossando as nossas fileiras, não se interessam pelo combate
ao racismo (e eu não falo só das pessoas que nunca leram<span class="apple-converted-space"> </span><i>Racismo & Sociedade</i>, de
Carlos Moore, e<span class="apple-converted-space"> </span><i>Pele Negra,
Máscaras Brancas</i>, de Frantz Fanon) e que, com a maior desfaçatez do mundo,
dão declarações públicas contrárias à nossa causa (após terem bebido na nossa
fonte) e passam para o outro lado a fim de vender o serviço a pessoas e grupos
que sempre se dedicaram a nos ferrar (só não vou citar nomes). Afinal de
contas, o caráter de uma pessoa não tem relação alguma com a cor da pele.</span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<h5 style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 3.75pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-weight: normal;"> </span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></h5>
<div align="center" class="separator" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 11pt;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyfur9QZtnoeWDhuWHLW0XL5IK0s1e7768im8ZUMcVlr1ZIquYgSzpwmB_w8gZFQ8mqu3XiiZCIsMoXAcXHHE4UTGJ1ZD6d7qWB55IPFs3lhXlGlXosSPmI40RXlj2BJihUTK_Fjv0twI/s1600/jo+serra-.jpg" imageanchor="1"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; text-decoration: none; text-underline: none;"><!--[if gte vml 1]><v:shape id="_x0000_i1026" type="#_x0000_t75"
alt=""
href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyfur9QZtnoeWDhuWHLW0XL5IK0s1e7768im8ZUMcVlr1ZIquYgSzpwmB_w8gZFQ8mqu3XiiZCIsMoXAcXHHE4UTGJ1ZD6d7qWB55IPFs3lhXlGlXosSPmI40RXlj2BJihUTK_Fjv0twI/s1600/jo+serra-.jpg"
style='width:300pt;height:211.5pt' o:button="t">
<v:imagedata src="file:///C:\Users\AnaPaula\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image002.jpg"
o:href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyfur9QZtnoeWDhuWHLW0XL5IK0s1e7768im8ZUMcVlr1ZIquYgSzpwmB_w8gZFQ8mqu3XiiZCIsMoXAcXHHE4UTGJ1ZD6d7qWB55IPFs3lhXlGlXosSPmI40RXlj2BJihUTK_Fjv0twI/s400/jo+serra-.jpg"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-1illGm58lzaXqhlwwF1SaTXs-o3i2HpGpo7tODCkTQ8DWYL1EnCNWxE-EsBeaAFzSeyUpxm0dZqgzywpiI1RMhchKerpO8ko-1nN8yNcEVOnNtYRNHYAhBAkAbfJUqe0OJF6rAgV_6I/s1600/jo+serra-.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-1illGm58lzaXqhlwwF1SaTXs-o3i2HpGpo7tODCkTQ8DWYL1EnCNWxE-EsBeaAFzSeyUpxm0dZqgzywpiI1RMhchKerpO8ko-1nN8yNcEVOnNtYRNHYAhBAkAbfJUqe0OJF6rAgV_6I/s320/jo+serra-.jpg" width="320" /></a></div>
<h5 style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 3.75pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-weight: normal;"> </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Marcus Garvey, em uma de
suas mais conhecidas declarações, disse que não queria levar todos os negros de
volta para a África porque havia muitos que não eram boas pessoas aqui, e
seguramente não seriam boas pessoas lá. E eu penso da mesma forma: eu não quero
toda e qualquer pessoa dentro das organizações de luta antirracista, pois há
muita gente que não é boa pessoa do lado de fora, e com certeza não será boa
pessoa do lado de dentro. Nem sempre quem está do nosso lado é nosso amigo.</span></h5>
<u1:p></u1:p>
<br />
<h5 style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 3.75pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-weight: normal;"><br /></span></h5>
<h5 style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin: 0cm 0cm 3.75pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt; font-weight: normal;">Mas
concordo integralmente com a primeira parte do comentário, quando ela disse que
vai deixar a foto dela mesma com vistas a mostrar que ela também é importante
nessa luta. Apoiadíssimo. Eu vou fazer a mesma coisa. Afinal de contas, os
grandes líderes não existiriam se não fossem acompanhados e apoiados pelas
pessoas anônimas. Steve Biko, Martin Luther King, Malcolm X e os Panteras
Negras, dentre outros, foram assassinados por lutar contra o racismo, mas foram
só eles? Eles fizeram tudo sozinhos? E todas as outras pessoas que foram
assassinadas antes e depois da morte desses caras, não contam? Essas pessoas
não foram importantes para a luta antirracista? </span></h5>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">Todos e
todas nós somos importantes nessa guerra, ainda que os nossos nomes não se
tornem conhecidos pelo grande público ou fiquem imortalizados nos livros de
História. Para mim, isso pouco importa. O que interessa mesmo é ter a
consciência de que eu não fiquei impassível diante dos fatos e que, na medida
das minhas possibilidades e limitações, fiz algo para mudar esse cenário de
horror em que vivemos. E para quem acha isso pouco, eu direi, <a href="http://www.facebook.com/rogeriolusantos/posts/133344806812766" target="_blank">inspirado em Idelber Avelar</a>, que eu
só aceitarei críticas “de quem estiver de baioneta na mão, atrás de uma
barricada, lançando um coquetel molotov ou derrubando as portas de um Palácio
de Inverno”. Se você não está fazendo nada e se acha no direito de condenar
quem está tentando fazer alguma coisa, a única coisa que você terá é o meu
desprezo.</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">Se
alguém, futuramente, quando eu não puder pisar mais na avenida e quando as
minhas pernas não puderem aguentar, quiser me entrevistar e escrever um livro
sobre a minha vida e a minha atuação na militância, será ótimo. A depender da
pessoa, dos interesses que ela estiver defendendo e do que ela pretender fazer
com as minhas palavras, eu falarei com o maior prazer (ou não). Mas se isso não
acontecer, tudo bem do mesmo jeito. Afinal, eu nunca tive (como não tenho)
nenhuma pretensão de virar<span class="apple-converted-space"> </span><i>pop
star</i><span class="apple-converted-space"> </span>- até porque eu não faço
o que eu faço hoje porque acho bonito.</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">À guisa
de conclusão: eu não vou colocar foto de ícone nenhum. A foto que ficará lá no
meu perfil será a minha mesmo. Eu também sou importante nessa luta. Eu também
faço luta contra o racismo. Isso não significa que eu estou desmerecendo a
atuação das grandes figuras, e sim que eu estou valorizando o trabalho de todas
as pessoas que, assim como eu, estão anonimamente fazendo o que podem para<span class="apple-converted-space"> </span><a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2012/10/os-ricos-tem-medo-das-cotas.html" target="_blank">combater esse câncer instalado na
nossa sociedade</a><span class="apple-converted-space"> </span>que é o
racismo.</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">Todas as
pessoas que passaram o ano inteiro estudando no Instituto Cultural Steve Biko,
no COE-Quilombo, no Quilombo Ilha, no Bahia Street, no Quilombo do Orobu e
demais cursinhos pré-vestibulares populares espalhados pelo Brasil são
importantes nessa guerra. Vocês, que estão aí contendo a ansiedade para fazer a
prova do ENEM, estão lutando contra o racismo ao dizer não a toda uma estrutura
social montada para vos colocar nos piores lugares, nos piores empregos e
receber os piores salários. Ao resolver encarar a batalha pela entrada na
universidade, vocês estão brigando para ter acesso ao que é vosso por direito e
que durante muito tempo foi negado. Estamos apenas começando a meter o pé na
porta e entrar, pois nada nos será dado de graça.</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">E podem
me chamar de arrogante e presunçoso. Fiquem à vontade.</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-36242451301689192592012-10-16T09:09:00.002-03:002012-10-16T09:09:51.950-03:00Os ricos têm medo das cotas?<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Recebi uma postagem hoje no
Facebook: a imagem de uma parede pichada com a mensagem: “Os ricos têm medo das
cotas?” Comecei a escrever uma resposta lá mesmo no Face, mas resolvi
desenvolvê-la um pouco mais e publicá-la aqui no meu blog. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMQkukqdV8VUOvomYkjqsz3oIYGWdwH3RZIJdvfEjuCL6639DNSHb_k152nAkETsf-w7x7YLXM2KZzRXei5Url235gloIm5nx3efx77WAQfDf2jsnA6TVRbjMwQ8WUuAq8wfUwEvG9szQ/s1600/Os+ricos+t%C3%AAm+medo+das+cotas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMQkukqdV8VUOvomYkjqsz3oIYGWdwH3RZIJdvfEjuCL6639DNSHb_k152nAkETsf-w7x7YLXM2KZzRXei5Url235gloIm5nx3efx77WAQfDf2jsnA6TVRbjMwQ8WUuAq8wfUwEvG9szQ/s320/Os+ricos+t%C3%AAm+medo+das+cotas.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Com toda certeza. Afinal de
contas, conhecimento é poder. E, por conta disso, ele sempre foi enclausurado
nas universidades para usufruto de uma minoria seletíssima. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O racismo não tem nada a ver com
ignorância. Esse papo de que as pessoas que estudaram menos tendem a ser mais
racistas do que as pessoas que estudaram muito <a href="http://www.youtube.com/watch?v=sjXRSMozq_s" target="_blank">não se sustenta na prática</a>. Há
médicos, advogados, psicanalistas, professoras, dentre outras, que estudaram
muito, têm mestrado, doutorado, Ph.D. na Universidade de Paris e o caralho e
que continuam acreditando que o negro é inferior ao branco. Seria desnecessário
– e enfadonho – citar exemplos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Além do mais, devemos lembrar que
as teorias racistas, que afirmavam a pretensa inferioridade natural do negro,
bem como as ideias que diziam que a mulher era intrinsecamente mais débil e
frágil do que o homem, o que a tornava incapaz de votar e trabalhar fora, por
exemplo, foram criadas na universidade. Médicos, biólogos, filósofos e demais
pessoas pertencentes às elites intelectuais do seu tempo criaram as suas ideias
de dominação e usaram a legitimidade acadêmica para dar mais veracidade às suas
teorias odiosas. O racismo é uma invenção de elites intelectuais, não de
pessoas ignorantes e iletradas. Como disse Carlos Moore em <i>Racismo e Sociedade</i>, o racismo é um sistema de poder, não um
sentimento pessoal isolado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E as cotas, apesar de ser uma
medida incompleta e insuficiente para corrigir as <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2012/04/25/carta-aberta-a-minha-amiga-allana-paim/" target="_blank">abissais desigualdades sociais brasileiras</a>, estão provocando tanto furor nos círculos mais
conservadores da nossa sociedade justamente por isso: por possibilitar aos
grupos subalternizados, excluídos e invisibilizados o acesso a esses
conhecimentos, que nos permite combatê-los precisamente no lugar em que são
criados. De posse dessas ferramentas, nós passaremos a conhecer o funcionamento
das engrenagens sociais que regem as nossas vidas e, ato contínuo, começaremos
a pensar em transformá-las. E é isso que as elites brasileiras não querem: que
a ordem social mude; que os <a href="http://alexcastro.com.br/o-peso-da-historia-a-escravidao-e-as-cotas/" target="_blank">lugares reservados historicamente aos seus filhos e netos</a> não sejam ocupados pelo filho da empregada ou pela neta da lavadeira. Como bem disse Malcolm X, sem racismo não há capitalismo.
E é por conta disso que os ricos têm, sim, medo das cotas. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-81830876007058806312012-10-15T10:47:00.002-03:002012-10-15T10:47:32.508-03:00Dia do Professor<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 17.999998092651367px;"><i>Esse texto foi escrito pela minha tia Antônia, e colocado no meu perfil do Facebook. Resolvi postá-lo aqui para que mais pessoas possam ver a melhor das homenagens que eu recebi hoje. </i></span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 17.999998092651367px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 17.999998092651367px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 17.999998092651367px;">O DIA DO PROFESSOR</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 17.999998092651367px;">Se não é fácil para um pai ou uma mãe ser professor do seu próprio filho em sala de aula repleta de outros alunos, não deve ser fácil para um filho ser professor do seu pai ou da sua mãe nas mesmas circunstâncias.</span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 17.999998092651367px;">Entretanto conhecendo o seu caráter sei muito bem, que no momento em que você dava às suas aulas não via entre os seus alunos a fugura da sua mãe, como mãe e sim a de </span><br />
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 12.727272033691406px; line-height: 17.999998092651367px;">
uma aluna com as mesmas dúvidas e expectativas inerentes a todos os outros alunos.<br />
Portanto é com muita emoção que eu lhe agradeço por você juntamente com os seus colegas ter contribuído para a aprovação da sua mãe, aos cinquenta e sete anos e de todos os outros que foram aprovados no processo seletivo 2012 da Universidade Federal da Bahia e em outras Universidades ou Faculdades; principalmente aqueles menos favorecidos socialmente, que são obrigados constantemente pelos vícios de uma sociedade perversa e rotulista a recolher a sua voz e os seus direitos a insignificância imposta pelo sistema educacional vigente em nosso país.<br />
Quero lhe dizer também que hoje aos cinquenta e oito anos e tendo sido aprovada no curso de letras da Faculdade São Luís de França, em Aracaju-Se, que toda vez que estou lendo ou escrevendo algum texto, mesmo com a distância que nos separa eu sinto um orgulho tão grande em saber que sou sua tia, e é este orgulho que sempre me deu forças para continuar e chegar aonde cheguei.<br />
Mais uma vez agradeço ao meu sobrinho e professor Rogério Luis, por tudo que você já fez e por tudo que eu sei que você e seus colegas ainda vão fazer pela educação do nosso país.<br />
Feliz dia do professor,<br />
Da sua tia Antonia.</div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-19216004597724677062012-07-07T20:39:00.000-03:002012-07-07T20:40:20.092-03:00Em dia de azar, o urubu de baixo caga no de cima<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estava voltando para casa hoje,
vindo de Mar Grande, cansado depois de dois dias de trabalho (dou aula lá sexta
à noite, e sábado pela manhã em Tairu, a 32km de distância de Mar Grande).
Peguei a lancha no terminal. Logo ao entrar, para minha tristeza, vi um sujeito
mal-acabado, mal-encarado, segurando uma prancha enorme, um par de óculos
ridículo na cara e com o som do celular ligado no último volume. Não sentei na
proa da lancha para apreciar a paisagem, como havia pensado em fazer, por conta
disso – ele estava lá, e eu não quis ficar perto dele. Tive de ficar no meio da
embarcação, com um monte de gente na minha frente e sem conseguir ver o mar. Um
saco! Eu, cansado, com fome, com sono, a fim de fazer a travessia Mar
Grande-Salvador em silêncio e receber aquele ventinho na cara, viajei tendo de
aguentar o barulho feito pelo celular daquele sujeitinho. E eu não pude falar
nada, pois, se falasse, certamente ele e o outro mal-acabado que estava com ele
me atirariam na Baía de Todos os Santos. Sabe como é, ele quer ouvir o som dele
no último volume, num espaço público, e os outros que aguentem - ou então tapem os ouvidos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
(Certa vez, peguei um ônibus em direção
ao subúrbio, meu local de trabalho às quartas. Achei um lugar para sentar –
coisa rara, visto que os ônibus que transitam para aquela região parecem mais
paus de arara do que transporte público coletivo [moradores do subúrbio de
Salvador, não me apedrejem; vocês também reclamam dos ônibus socados de gente
que são obrigados a pegar todo dia]. Após me acomodar, um safardana, sentado a
duas fileiras atrás de mim, ligou o celular dele no último volume. Último
volume mesmo; nunca vi um celular com um som tão potente como aquele. Parecia
mais um trio elétrico. Após me assustar com a pancada do som no meu ouvido e olhar
para trás a fim de ver quem havia feito aquilo, o sujeito não gostou e, ato
contínuo, gritou: “QUE FOI, IRMÃO?!! TÁ INCOMODADO?? NÃO GOSTOU NÃO?! ENTÃO,
DESÇA E PEGUE TÁXI”. Resolvi ficar calado, pois ele poderia partir para cima de
mim e me matar de porrada – ou meter uma bala no meio da minha testa, caso
estivesse armado. Afinal de contas, eu sou grande, mas não sei bater em
ninguém. E não faço questão de aprender, pois eu não gosto de violência.)<span style="color: red;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas retomando minha peripécia Mar
Grande-Salvador, como se não bastasse, a viagem foi péssima. O mar estava muito
revolto, e por isso a embarcação balançou bastante – tanto na ida como na volta.
Ainda bem que eu não enchi a barriga antes de viajar, pois, se eu tivesse feito
isso, haveria uma possibilidade muito grande de, em virtude do sacolejo
constante e interminável, eu vomitar tudo em cima de quem estava sentado na
minha frente. E se isso acontecesse, eu provavelmente não teria escrito esse
texto.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Finalmente, desembarquei. Como eu
estou evitando ao máximo entrar na Estação Pirajá<span style="color: red;"> </span>(uma
estação de transbordo de Salvador), decidi andar até o ponto do Instituto do
Cacau, no bairro do Comércio, para pegar um ônibus que me trouxesse para
Cajazeiras sem a necessidade de ter de descer no meio do caminho para pegar
outro. Depois de cerca de dez minutos parado no ponto, apareceu um micro-ônibus
que fazia a linha São Gonçalo-São Joaquim dirigido por um ex-vizinho e coligado
meu (que eu não via há um bom tempo). Ao me reconhecer, ele parou perto de mim
e perguntou se eu aceitava uma carona até o Largo do Tanque. Como eu nunca fui
ao São Gonçalo (até porque eu nunca tive o que fazer lá), perguntei se a linha
era via Liberdade ou Av. San Martin. Ao ouvi-lo dizer que a linha era via San
Martin, resolvi aceitar e descer no Retiro, pois, lá, é mais fácil pegar um
ônibus para <i>Cajacity</i>.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Maldita hora em que eu aceitei
essa carona! Já na entrada da San Martin, o ônibus parou. O congestionamento
estava enorme (fato que já se tornou rotina no trânsito de Salvador, pelo
grande número de veículos que há na cidade e pela péssima infraestrutura de
tráfego. Salvador é uma cidade sem zona de escoamento de veículos. Se houver um
acidente, se houver operação tapa-buracos ou um caminhão de entrega parar na
lateral da pista, ninguém passa). Diante da lentidão do trânsito, eu cheguei a
ter a impressão de que eu não sairia daquele lugar hoje. Saí – depois de quase
meia-hora parado, diga-se de passagem. O “bolo” estava formado na entrada da
Santa Mônica, bem ali na frente da Igreja Universal do Reino de Deus. Após ter
passado dali, foi tranquilo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desci no Retiro. Ainda quando eu
estava atravessando as pistas para chegar ao ponto, avistei um Fazenda Grande
4/3/2 saindo da San Martin parado no semáforo. Tive até de dar uma corridinha
leve para não perder o buzu. Consegui chegar a tempo. Ao colocar o pé na porta
de entrada, constatei que havia outro babaca dentro do ônibus com o som do
celular no último volume tocando A Bronkka (argh!!). Respirei fundo. Procurei
um lugar para sentar, mas o foda é que o espaço interno entre uma cadeira e
outra é pequeno demais para mim, e por isso o meu joelho direito teve de ficar
espremido no encosto do assento da frente. Para completar, um cara bastante
parrudo sentou ao meu lado e, como o espaço também estava pequeno para ele, a
perna esquerda dele ficou colada à minha perna direita. Depois de alguns
minutos de incômodo recíproco, ele se deu conta de que não havia a menor
possibilidade de viajarmos daquele jeito, percebeu que a direita dele estava
livre e virou as pernas um pouco para o lado. Que alívio! Em Águas Claras, ele
se levantou, desceu da marinete e tomou o rumo dele. Ufaaaaaaaaa!!!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Lá estava eu, tranquilo e calmo,
lépido e fagueiro, acreditando piamente que não enfrentaria mais nenhum
empecilho na minha epopeia de volta para casa. Ledo engano. No meio da ladeira
de Cajazeira 8, outro congestionamento de trânsito. Normal, é assim mesmo; isso
acontece todo dia, aos sábados então?; o movimento da feira na Rótula da 10
para o trânsito todo; de 11 da manhã até as 3 da tarde, não há como não pegar
engarrafamento nesse trecho; relaxe. RELAXE O CARALHO!! Tô de saco cheio já de
tanto engarrafamento nessa porra! Será possível que ninguém mais consegue
transitar pela cidade sem perder tempo no trânsito. <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2009/07/coisas-que-eu-nao-consigo-entender-se-e.html" target="_blank">Há dez anos, os megacongestionamentos limitavam-se à região do Iguatemi</a>. Hoje, é na cidade toda! Toda vez é isso? Enquanto não
houver transporte coletivo de qualidade, o pessoal <a href="http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2011/04/guest-post-o-carro-uma-opressao-social.html" target="_blank">continuar comprando carro adoidado</a> e as vias de acesso permanecerem
estreitinhas, essa merda continuará do jeito que está. É daí pra pior. Eu
trabalho às 19h na segunda e na quarta e às 20h na terça. Entretanto, se eu não
sair de casa antes das 16h, há um grande risco de eu não chegar e perder o meu
dia. Eu tenho de achar normal isso? Eu tenho de aceitar que é assim mesmo?
Assim mesmo o cacete!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Como se não bastasse, após sair
do trecho mais crítico do engarrafamento, o motorista do ônibus que eu peguei
no Retiro inventou que estava com vontade de ir ao banheiro, botou bandeira de
Garagem, encostou o buzu no muro do Hospital Jaar Andrade e pediu ao cobrador
para colocar os passageiros em outro ônibus que vinha logo atrás (Fazenda
Grande 2/3 R2). Ao entrar, imaginem só o que aconteceu. Dei de cara com o mesmo
surfista mal-acabado, mal-encarado, usando os mesmos óculos escuros ridículos,
segurando a prancha e fazendo zoada dentro do ônibus com o celular no último
volume. Puta merda!!!!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Deu uma vontade tremenda de
descer e vir para casa andando. Contudo, eu estava muito cansado e com uma fome
de leão, e por isso resolvi aguentar mais uma vez até o ponto de ônibus perto
da minha casa. Se a minha avó Maria da Conceição estivesse aqui e ouvisse esse
relato, ela olharia para a minha cara e diria, do alto da sua sabedoria de
vida, o seguinte: “meu filho, fique tranquilo. A vida é assim mesmo. Em dia de
azar, o urubu de baixo caga no de cima”. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas eu tive uma notícia boa.
Tinha consulta marcada com o fonoaudiólogo hoje às 4 da tarde. Isso posto, eu
teria de ir pra casa, tomar um banho, trocar de roupa, comer e sair de novo.
Mas quando o ônibus estava passando pelo Jaguaripe (Conjunto Jaguaripe I, em
Cajazeiras. Não confundam com a praia de Jaguaribe, que fica localizada ao lado
da praia de Piatã, na orla de Salvador), ele ligou para dizer que havia passado
mal ontem e acordou hoje cheio de dores no corpo, e por isso não tinha a menor
condição de me atender. Não reclamei. Fui para casa, almocei com a digníssima e
fumei um charuto para relaxar. Afinal de contas, eu mereço.<span style="color: red;"> </span>Depois desse épico, então...</div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-90157697548976911672012-06-03T21:39:00.000-03:002012-06-04T23:48:46.506-03:00O valor da passagem de ônibus aumentou. E nós vamos engolir mais essa calados?<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Está definido: a partir de hoje,
o valor da passagem de ônibus em Salvador passará de R$ 2,50 para R$ 2,80. A
imprensa passou duas semanas fazendo terrorismo psicológico com a população da
cidade sobre um suposto aumento para R$ 3,15. Um ou dois dias atrás, alguns
jornais anunciaram que o aumento seria bem abaixo desse valor e, ontem, foi
anunciado o valor definitivo. Um absurdo, pois, com esse aumento, o valor da
passagem se tornou um dos mais altos de toda a região Nordeste. Além do mais,
nós sabemos muito bem o que as empresas de ônibus oferecem em troca desse
aumento exorbitante: veículos precários, em péssimo estado, sem nenhum
conforto, sujos, insuficientes para atender a demanda (são apenas 2.700 ônibus
rodando na cidade), horários infrequentes... Isso sem contar os motoristas e
cobradores mal-humorados e os passageiros mal-educados que entram no ônibus
gritando, falando alto e ouvindo som no celular ou nas caixas de som no último
volume, que só pioram o que já está ruim. Mas eu vou deixar isso de lado, pois eu
vim aqui para falar de outra coisa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Muita gente está resignada com o
aumento, pois o valor ficou em R$ 2,80 ao invés dos R$ 3,15 anteriormente
anunciado. Ora, meu povo, não sejam idiotas! É claro que o SETPS (Sindicato das
Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador, entidade criada para
defender os interesses dos donos das empresas de ônibus) não pediria e a Prefeitura
de Salvador não concederia um acréscimo escorchante desse. Vocês acham que as
pessoas que controlam as referidas instituições seriam bestas a esse ponto? Foi
declarado um aumento exagerado, para causar pânico nas pessoas, e, no final,
foi concedido um aumento um pouco menor para que as pessoas concluíssem que a
passagem não foi para R$ 3,15 e ficassem caladas. É aquela velha consolação do “pelo
menos não saiu tão caro” - como se esse valor não fosse suficientemente caro em
comparação à qualidade de serviço oferecido. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se vocês
quisessem vender um produto qualquer, vocês pediriam o preço exato que o
produto vale? Claro que não! Ninguém seria burro a esse ponto. Qualquer pessoa minimamente
inteligente colocaria um preço maior, para que as possíveis compradoras
reclamassem, iniciassem uma negociação, e você pudesse baixar gradativamente o
preço até chegar ao valor que você acha merecido pelo produto. O SETPS e a
Prefeitura de Salvador fizeram a mesmíssima coisa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para as pessoas conformadas, que
estão dizendo que foi bom, pois, afinal de contas, foram só trinta centavos de
aumento, eu faço uma pergunta: vocês já contabilizaram quanto esse aumentozinho
de trinta centavos pesará no orçamento mensal? Não?! Então, eu vou ajudar: “supunhetamos”
que você pegue quatro ônibus por dia, dois para ir ao trabalho e dois para
voltar. Esse “aumentozinho” de trinta centavos resultará em mais R$ 1,20 por
dia. Por semana (na hipótese de que você trabalhe somente de segunda a sexta), você terá uma despesa adicional de R$ 6,00. Por mês, de R$ 24,00.
Agora, pense que você ganha pouco, precisa comer, pagar as contas, e ainda
colocar créditos no Salvador Card dos seus dois filhos que estudam longe de
casa e têm de pegar dois ônibus todo santo dia para ir à escola e voltar pra
casa. E aí? Já fez as contas? Em caso afirmativo, você ainda continua pensando
que foi só um aumentozinho de nada e que o pessoal está reclamando por
besteira? Fazendo tempestade em um copo d’água? </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vários protestos já vêm sendo
organizados há um bom tempo contra isso. Está circulando pelas redes sociais a
chamada para uma manifestação amanhã<span style="color: red;"> </span>para
protestar contra esse aumento abusivo das passagens de ônibus. Tudo bem. A
causa é nobre, a iniciativa é louvável, os motivos são justos, mas nós já
sabemos muito bem como isso acabará: o governador mandará a PM baixar o cacete
em todo mundo (para manter a lei e a ordem, é claro), e a imprensa tratará de
jogar a população contra os manifestantes ao falar dos enormes
congestionamentos causados pelas passeatas. E tudo ficará como já está - na merda.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desde que começou a correr à boca
pequena pela cidade a notícia do aumento das passagens de ônibus, eu venho
pensando em uma ideia que eu acho mais interessante e resolvi escrever esse
texto para coletivizá-la convosco. Que tal se nós fizéssemos um boicote ao
sistema de transporte coletivo de Salvador? Que ninguém pegasse ônibus amanhã?
Já sei: alguém disse (ou pelo menos pensou) que eu sou maluco, que eu devo ser
uma pessoa que não tem o que fazer, que parece que eu não sei que as pessoas precisam
trabalhar para sobreviver, que certamente eu não tenho filhos para criar (e eu não
tenho mesmo) e por isso posso me dar ao luxo de ficar em casa coçando e
cheirando sem fazer nada. Pois saibam que eu também trabalho, eu também pego
ônibus, eu também tenho de sobreviver e pagar as minhas contas, e eu não sou
maluco coisa nenhuma (será mesmo que não?). O boicote é uma estratégia bem
inteligente, uma maneira bem contundente de reagir contra uma empresa que cobra
preços abusivos sobre um determinado produto ou serviço ou desrespeita a sua
clientela – atacando-a no bolso. E vou dar um exemplo para vocês verem que eu
não estou falando abobrinha. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu já vinha pensando em escrever
sobre isso há um bom tempinho, mas como o psicólogo e coligado Valter DaMata já
cantou a pedra no Facebook, eu vou dar os créditos a ele para que
posteriormente ninguém me acuse de <a href="http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2012/05/09/yvonne-maggie-falsificacao-de-citacao-adulteracao-de-arquivos-e-desonestidade-intelectual/" target="_blank">desonestidade intelectual</a>. Nos Estados Unidos, do final do século XIX a meados do século XX,
havia um conjunto de leis racistas conhecidas como Jim Crow que determinava,
dentre outras coisas, a separação legal de brancos e negros nas escolas e no
transporte público. Aí está a grande diferença do racismo nos Estados Unidos e
na África do Sul durante o regime do apartheid em relação ao racismo no Brasil,
pois, nesses dois países, o racismo era declarado. Os racistas de lá falavam na
cara; mostravam logo quem eles eram e o que pensavam – o racismo estava escrito
nas leis, e por isso as pessoas podiam constatar a realidade e organizar o
contra-ataque. Lá, a população negra sabia quem era o seu inimigo. Aqui, não. <a href="http://www.interney.net/blogs/lll/2012/05/11/os_melhores_textos_sobre_racismo_de_alex/" target="_blank">O racismo é velado e negado a todo instante</a>, apesar das
abissais disparidades entre brancos e negros e dos constantes casos de violência
racial que ocorrem por aqui. Não é por acaso que o antropólogo Kabengele
Munanga afirmou que <a href="http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9485/" target="_blank">o nosso racismo é um crime perfeito</a>.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na prática, as leis Jim Crow
significavam que brancos e negros eram obrigados a viajar em ônibus separados
em alguns estados. Já em outros, brancos e negros até podiam viajar dentro do
mesmo ônibus, mas com uma condição: as pessoas negras tinham de viajar no fundo
do ônibus, e se por acaso uma pessoa negra se sentasse no local reservado aos
brancos, ela seria obrigada a levantar e dar o lugar à pessoa branca. Se a
negra não fizesse isso, ela seria expulsa do ônibus a tapas e presa sob
acusação de ter violado a lei. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em 1955, a organização liderada
por Martin Luther King Jr., à época já um conhecido líder da luta pelos direitos
civis nos EUA, em conjunto com outras organizações de luta pelos direitos civis, resolveram reagir contra esse estado de coisas. Membros da
organização foram à cidade de Montgomery, no estado do Alabama, para mobilizar
a população negra da cidade a lutar contra a segregação racial nos transportes
públicos. Depois de muito planejamento, chegou a hora de entrar em ação: uma
militante da organização de nome Rosa Parks, uma mulher de 42 anos que
trabalhava como costureira, foi designada para pegar um ônibus na cidade,
sentar-se no lugar reservado aos brancos e se negar a levantar. Foi o que ela fez.
Logo em seguida, entrou no ônibus uma pessoa branca que nem se deu ao trabalho
de pedir para Rosa Parks levantar (afinal, ela já deveria saber o que fazer e qual era o seu
lugar). Após alguns poucos segundos em pé e ver que ela permanecia
impassível, a pessoa branca se juntou a outras iguais a ela, arrancou-a do
assento à força e a expulsou do ônibus a tapas. Como se não bastasse, ela ainda
foi presa sob a acusação de ter violado a tal lei que a obrigava a dar o lugar
à pessoa branca. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<img src="http://theblackhistorymonthproject.files.wordpress.com/2012/02/rosa-parks.jpg" />
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><i>Rosa Parks tendo as suas impressões digitas colhidas após ser presa em 01/12/1955.</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esse foi o estopim para a
decretação de um boicote ao sistema de transporte coletivo da cidade. A
população negra de Montgomery, que na época era de cerca de cinquenta mil
pessoas, foi convocada por King a não mais pegar ônibus enquanto essa lei
racista não fosse derrubada. Parecia impossível, mas foi exatamente isso que
aconteceu: a negrada da cidade passou estonteantes e inacreditáveis 386 dias
sem pegar ônibus. As pessoas iam à escola e ao trabalho a pé. Quem tinha carro
dava carona a quem não tinha. Quem não tinha carro organizou-se com outras
pessoas que também não tinham carro, juntaram o pouco dinheiro que tinham e fretaram
conduções – que eram duramente perseguidas pela polícia, diga-se de passagem. Pessoas
idosas, para lá dos 70 anos e com dificuldades de locomoção por conta do peso
da idade, deslocavam-se a pé para cuidar dos seus afazeres e, quando
questionadas sobre por que elas não deixavam esse protesto para as mais jovens,
respondiam que estavam andando hoje para que os seus netos não precisassem andar
amanhã. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O boicote começou no dia 1 de
dezembro de 1955 e durou até o dia 21 de dezembro de 1956. Diante dos fatos e
arrasados com os prejuízos, o empresariado resolveu pressionar as autoridades
do Alabama para que essa lei fosse revogada, pois só assim a população negra
voltaria a usar os ônibus da cidade. E foi isso que aconteceu: a lei foi
revogada e, depois desse dia em diante, as pessoas negras voltaram a pegar ônibus com a garantia
de que podiam sentar-se onde bem entendessem e não seriam agredidas, expulsas e
presas. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Já imaginaram se a população de
Salvador resolvesse fazer a mesma coisa? Em Montgomery, foram
necessários 386 dias; aqui, bastaria apenas uma semana. Nós não
precisaríamos fazer passeata, gritar, tomar porrada da polícia, congestionar o
trânsito, apedrejar os veículos, furar os pneus destes, queimar pneus velhos no
meio das avenidas da cidade, nada disso. Bastaria apenas todos e todas nós nos recusarmos a pegar ônibus enquanto o
valor da passagem não voltasse para R$ 2,50 (que já é caro demais, é bom que se
diga). A população negra de Montgomery em 1955 era de cinquenta mil pessoas;
Salvador tem uma população de dois milhões. Tentem dimensionar o tamanho do
preju que as empresas de ônibus daqui teriam se, no dia de amanhã, ninguém
pegasse buzu (até rimou). E que a galera permanecesse irredutível enquanto as autoridades
não tomassem uma providência. Já dimensionaram?</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu entendo perfeitamente que há quem tenha os
seus compromissos inadiáveis, mas a nossa situação não mudará enquanto nós não
fizermos nada contra esse sistema desgraçado em que vivemos. Pois uma coisa é
certa: é impossível acabar com um regime de opressão apelando para os bons
sentimentos de quem nos oprime, pois quem nos oprime não tem bons sentimentos. O
pessoal do SETPS quer que a gente se lasque!!!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Steve Biko já disse que a arma
mais potente do opressor é a mente do oprimido. Enquanto nós permanecermos calados
e acreditarmos que o mundo é assim mesmo e não há nada que possa ser feito para
mudar, as coisas continuarão do mesmo jeito que estão. Libertem-se da
escravidão mental, pois ninguém, senão nós mesmos, pode libertar as nossas
mentes, como disse Bob Marley. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nós temos poder para mudar essa
situação. Só nos resta <a href="http://www.youtube.com/watch?v=wa7n-dUi_ZE" target="_blank">tomar consciência disso e agir</a>. </div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-72081320019041632082012-05-18T17:47:00.001-03:002012-06-04T23:52:11.898-03:00"O ciúme é o perfume do amor". Então, eu quero permanecer fedorento.<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Acabei
de ler na internet a seguinte nota: “<a href="http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/redacao/2012/05/18/ciumes-do-marido-faz-corredora-brasileira-adotar-meiao-de-futebol-para-ficar-menos-pelada.htm" target="_blank">Marido ciumento faz corredora vaidosa adotar meião de futebol para ficar menos ‘pelada’</a>”. O
texto conta o caso de Rosângela dos Santos, atleta brasileira dos
100m rasos, que, devido aos ciúmes do marido, funcionário da
Marinha, “decidiu”
calçar um par de meiões típicos dos e das praticantes do futebol
para “amenizar a nudez” durante as competições (!). Ele não
gostou de ver a mulher dele lá, com tudo de fora, exibindo o corpão
sarado para todo mundo ver, reclamou que a roupa usada por ela nas
competições é muito curta, e, como forma de “acalmar a fera”, ela resolveu colocar o tal meião. Ela ainda disse, de acordo com a
reportagem, que o marido falou que ela está até “mais bonita”
com o acessório extra, numa clara
tentativa de disfarçar o caráter invasivo e
desrespeitoso da “recomendação”<b>.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu
não sei o que é mais grave: o marido dela ter imposto uma peça de
roupa ao vestuário para ela ficar “menos pelada” ou ela ter
concordado, aceitado e feito o que o marido/dono dela mandou “em
nome do amor”. E para completar, no final da nota, ela ainda diz
que o sonho dela é se tornar passista de escola de samba, mas a tia
dela não deixa por causa das roupas que uma passista (não) precisa
usar na hora de sambar.
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ou
seja, Rosângela faz o que o marido dela quer, o que a tia dela quer,
mas não faz o que ELA quer. A vida é dela, o corpo é dela, o sonho
é dela, mas ela renuncia a tudo isso para não desagradar a família.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Fico
me perguntando: quando (e se) ela dará um basta nisso tudo e passará
a vestir-se como quiser e fazer o que bem entender com a vida e o
corpo dela? Que sociedade é essa que deixa os homens viverem como
quiserem, mas a todo instante estão ditando normas e regras sobre o
corpo feminino? Por que um homem pode sair às ruas sem camisa,
exibindo o tórax bombado, mas uma mulher não pode exibir as pernas
em uma competição de atletismo?
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Regina
Navarro já <a href="http://delas.ig.com.br/colunistas/questoesdoamor/ciume+e+natural/c1237585551953.html" target="_blank">escreveu muito sobre isso</a>, e eu não pretendo ser caixa
de ressonância dos textos dela (ou pelo menos eu me comprometo a
tentar não ser). O ciúme é um sentimento altamente destrutivo, mas
infelizmente é passado para nós como uma coisa positiva; há até
quem diga que “o ciúme é o perfume do amor”, um tempero a mais
na relação (como se fossem necessárias demonstrações constantes
de posse para uma pessoa se sentir amada). É nada mais do que um
conjunto de práticas criadas para controlar o corpo da mulher de um
modo menos indolor (se é que posso usar essa expressão). Controlar
as roupas, o decote da blusa, o tamanho do vestido, da saia ou da
bermuda, o uso de maquiagem, a cor do esmalte das unhas, o cabelo
solto ou preso, os horários, nada disso é visto como estratégia de
dominação. <a href="http://papodehomem.com.br/estupro/" target="_blank">Nãão!!! É para o bem delas, pô!</a> As mulheres não
sabem dirigir as próprias vidas, portanto nada mais natural que nós,
homens, donos da razão, a protejamos delas mesmas. Sabe como é, né,
mulher solta sem governo só faz merda!</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Já
vi e ouvi vários comentários de e sobre mulheres que ficaram
revoltadas com os seus companheiros/namorados/maridos porque eles não
sentem ciúmes delas. Lembro de uma vez em que a minha mãe disse que
estava no ponto de ônibus e ouviu uma mulher dizer que o namorado
dela era um banana porque não sentia ciúmes dela. “Ele me deixa
usar a roupa que eu quiser. Eu posso usar vestido decotado, saia
curta, shortinho atochado e aquele panaca não fala nada”, disse
ela (de acordo com a minha mãe, é claro). E eu fiquei pensando:
porra, se ela tem liberdade para usar a roupa que bem entender e o
namorado não fala nada, por que ela está recriminando o
comportamento do cara ao invés de comemorar a conduta dele? O que
essa mulher quer afinal?
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Algumas
mulheres parecem demonstrar que gostam e até veneram a ideia de
serem dominadas pelos seus “donos”, coisa que me deixa mais
assustado ainda por saber que elas mesmas acreditam que devem se
submeter aos desmandos do companheiro/namorado/marido porque “homem
é assim mesmo”. Há cerca de quinze anos, época em que eu ainda
era estudante secundarista, uma colega de escola tentou me convencer
por inúmeros argumentos, retirados principalmente da Bíblia, de que
a mulher tem que ser submissa ao homem. Diante dessa convicção, a
única coisa que me restou foi ficar calado.
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em
conversa com um amigo, ele disse que uma namorada dele queria porque
queria que ele sentisse ciúmes dela – e desse demonstrações
públicas disso, é claro. Quando ele disse que não faria escândalo
público ao vê-la conversando com outro homem porque ele não é
dono do corpo das mulheres que se relacionam com ele, e que, por
conta disso, ela tem o direito de conversar com qualquer pessoa, ela
simplesmente o dispensou. Eu nem ao menos a conheço, mas gostaria
muito de saber com que tipo de homem ela está se envolvendo agora.
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Esse
discurso do ciúme como uma coisa boa e necessária a qualquer
relacionamento é presente nas nossas vidas porque é reforçado a
todo instante através das coisas mais banais (músicas, novelas,
filmes, histórias românticas, romances de banca de revista...). São
histórias tão batidas e rebatidas que as pessoas adotam isso como
parâmetros para as suas vidas e não conseguem se relacionar com
ninguém sem exercer controle sobre a outra/outro, sem exigir
relatório detalhado e circunstanciado das atividades diárias, sem
fuçar o celular, o email e o perfil da outra pessoa nas redes
sociais. Em entrevista à <a href="http://sexyclube.uol.com.br/portal/mulheres/carol-nakamura/carol-nakamura-template.aspx#" target="_blank">Revista Sexy de novembro de 2011</a>, Carol
Nakamura, assistente de palco do Domingão do Faustão, declarou que
só namora um homem que passar a senha do perfil dele no Facebook
para ela. À pergunta “Você é ciumenta?”, ela respondeu:
“Extremamente! Sou um pouco descontrolada quando fico com ciúme.
Tenho que estar no controle das coisas. Tem gente que acha bizarro,
mas eu não acho nada de mais. Só namoro com senha de Facebook. Se
não faz nada de mais, por que eu não posso saber?”, declarou ela.
Ainda bem que eu e ela vivemos em mundos totalmente distintos, pois
eu não quero uma mulher dessa perto de mim nem com a porra!</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Isso
só reforça aquela idéia de posse sobre o outro. Que as pessoas, em
um relacionamento afetivo-amoroso, têm de estar disponível aos
nossos humores, satisfazer nossas vontades e caprichos a todo
instante, incluindo aí nos completar e atender a todas as nossas
necessidades. Aquele velho discurso da “alma gêmea”, da “outra
metade da laranja”, tão conhecido entre nós.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se,
para ela, isso é normal, para mim, isso é inadmissível. Nunca fiz
isso. Todas as mulheres que já se envolveram comigo tiveram total
liberdade para vestir-se como quiserem e conversar com quem bem
entenderem. Não costumo bisbilhotar o celular, a bolsa, os bolsos,
nem furtar senhas de email e redes sociais de mulher nenhuma para
saber se elas estão saindo com outros homens. Não fiz – e não
faço – isso com elas para que elas nem pensem em fazer isso
comigo. Esse papo de “quem ama sente ciúme” não cola. Eu
acredito que quem ama respeita, e o fato de uma mulher estar se
relacionando comigo não me dá o direito de exercer domínio sobre
ela – nem a ela sobre mim, diga-se de passagem.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Como
já disse, esse discurso é passado através das coisas mais banais.
E vou citar exemplos: certa vez, estava escutando uma música de Belo
em uma barraca de praia. Não sei o título da música (e nem me
interessa); só gravei a parte em que ele diz que “atrás de um
ditador, existe um grande amor”. Fiquei espantado com o que ouvi –
e não era para menos. Afinal, ele está dizendo que um homem
violento, que grita, ofende, maltrata, humilha e espanca a mulher;
controla o corpo dela; diz o que ela deve ou não deve fazer; com
quem ela deve ou não deve conversar; que tipo de roupa ela deve ou
não deve vestir e estabelece horários para ela sair e voltar (com
direito a cronometragem de tempo para punir o mínimo atraso) faz
tudo isso... porque a ama! Ele age assim porque se importa e se
preocupa com ela!! E esse discurso é introjetado na cabeça das
pessoas por intermédio de uma música romântica, que fala de amor,
com uma melodia agradável, voz gostosa, como se estivesse falando no
ouvidinho dela...</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: small;">Não
sei se é nessa mesma música ou em outra que Belo inicia a canção
pedindo perdão à namorada por ter mexido na bolsa e revirado a
intimidade dela. Como sempre, com a mesma voz mansinha, falando no
ouvidinho bem baixinho para ninguém ouvir. E ainda há mulheres que
delirem e se derretam ao ouvir isso. Mais uma vez, o que me assusta
é saber que muitas dessas mulheres se deixam manipular muito
facilmente com besteirinhas do tipo que ouvem de muitos calhordas
depois de uma discussão: “meu amor, me desculpe, eu só fiz isso
porque eu te amo. Isso não vai mais acontecer, eu estava de cabeça
quente”. </span>
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em
outro momento, escutei uma música do Exaltasamba em que Péricles
canta: “se ela não tem dono/se ela não tem dono/ela é minha/ela
é minha”. Trocando em miúdos: as mulheres são objetos passíveis
de se tornarem propriedade de um homem. As mulheres têm de ter um
dono, e as que não o tiverem estão automaticamente disponíveis. Eu
só preciso pegar, levar e me apossar delas.
</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O
<a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2011/07/futebol-feminino-machismo-e.html" target="_blank">machismo</a>, o <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2011/07/racismo-e-engracado.html" target="_blank">racismo</a> e a homofobia são naturalizados nas mentes das
pessoas assim mesmo: através de piadinhas, músicas, de palavras
doces e palatáveis; de algo que as faça rir e delirar de emoção e
prazer. E qualquer pessoa que se voltar contra isso será a
mala-chata-insuportável da vez, que vê coisa onde não existe. Será
possível que esse cara não desliga nem um minuto sequer? Nem na
praia, de sunga, tomando sol e bebendo cerveja esse cara para um
pouco? Tudo é racismo, tudo é preconceito. Porra, é só uma
música, caralho!!!</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Há também quem venha com o argumento de que "você não entendeu o que eu falei", "não foi isso que eu quis dizer"; "o que eu disse <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2012/03/23/nao-sou-machista-racista-nem-homofobico-o-que-disse-foi-apenas-um-equivoco/" target="_blank">foi um equívoco</a>, <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com.br/2010/01/as-sutilezas-do-racismo.html" target="_blank">um comentário infeliz</a>". Nós nunca entendemos nada. As pessoas nunca querem dizer o que dizem. Nunca sabemos interpretar porra de nada. </span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Serão
essas as críticas que eu receberei após a divulgação dessas
maltraçadas linhas no mundo virtual. Podem vir, pois eu já estou
preparado.</span></div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-71055660860760860322012-05-13T23:44:00.000-03:002012-06-05T00:01:38.617-03:00Sobre o Dia das Mães. Sim, mas de que mães nós estamos falando?<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Ontem,
eu repassei uma postagem no Facebook sobre o Dia das Mães. Nela, havia um casal
composto por um homem preto, uma mulher preta e uma criança preta com uma
mensagem de felicitação pela data. Nada mais justo, pois, afinal de contas, o
Dia das Mães caiu neste ano em 13 de maio, data em que se comemora 124 anos de
abolição da escravatura (que eu prefiro chamar de 124 anos de chute na bunda),
e que, por pressão dos movimentos sociais, foi ressignificada como Dia Nacional
de Combate ao Racismo. E não só por isso. O que há de errado numa postagem de
felicitação ao Dia das Mães que traga uma foto de pessoas pretas? <a href="http://papodehomem.com.br/racismo-e-normalidade-2/" target="_blank">O padrão é sermos caucasianos, de estirpe europeia?</a><span style="font-size: small;">. Ou será que não existem mães pretas no
nosso paraíso etnorracial?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0UE4R47MEuw9xIkC0nGgKJgOQYWY2JeCzz1aDmsdundU-TrublnSwHEZvndwLUiMr7zofUhSyZLOoysgTA9-2gK3DEgfCs4TBcR09SiuE1hZBDPRUN-ea6WqRhAWX_klFcPrMnEdz8Ow/s1600/Print+Screen+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="187" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0UE4R47MEuw9xIkC0nGgKJgOQYWY2JeCzz1aDmsdundU-TrublnSwHEZvndwLUiMr7zofUhSyZLOoysgTA9-2gK3DEgfCs4TBcR09SiuE1hZBDPRUN-ea6WqRhAWX_klFcPrMnEdz8Ow/s320/Print+Screen+1.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 115%; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span style="line-height: 115%; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span><br />
<span style="line-height: 115%; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hoje,
ao acessar o meu perfil, um conhecido meu escreveu: “Preto não é cor? Parabéns
somente para as mulheres negras? Sem mais... aí não curti...”. Isso me
enfureceu sobremaneira. Já dei uma resposta a ele lá mesmo no Facebook, mas
resolvi dar uma resposta mais elaborada e publicar aqui para que mais pessoas
tenham acesso.</span></span><br />
<span style="line-height: 115%; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU3-jzCaYarV-y5YExeOESQ7qZtvYBVeNg2A4PnuJ-Hf2uRJs9SqQmKfv9BvIqyTHh_YokQJ73-b_4Oq4KX4Hn3Oy0CJU6iMngyujAYtibJM_QsMdwrKEFffr7OrPihHzTSREqI9QcvvQ/s1600/Print+Screen+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="187" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU3-jzCaYarV-y5YExeOESQ7qZtvYBVeNg2A4PnuJ-Hf2uRJs9SqQmKfv9BvIqyTHh_YokQJ73-b_4Oq4KX4Hn3Oy0CJU6iMngyujAYtibJM_QsMdwrKEFffr7OrPihHzTSREqI9QcvvQ/s320/Print+Screen+2.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Vou
repetir o que eu já escrevi: qual é a sua, cara? Você já viu alguma propaganda
do Dia das Mães com alguma negona? Alguém lembra que as mulheres pretas também
têm filhos? <span class="textexposedshow">Se as brancas não querem nem saber que
existem mulheres pretas (a não ser quando elas precisam de uma <a href="http://escrevivencia.wordpress.com/2012/04/14/a-escravidao-acabou-so-falta-avisar-a-classe-media/" target="_blank">escravinha</a> para
limpar a merda, cozinhar, lavar e passar os panos de bunda delas, é claro), por que raios você acha que eu
deveria lembrar das mulheres brancas?</span><span class="apple-converted-space"> </span><br />
<span class="textexposedshow"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 115%;"><span class="apple-converted-space" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">O engraçado é que pessoas como você só
reclamam da ausência de mulheres<span style="background-color: #edeff4;"> </span>brancas
quando há um anúncio só com mulheres pretas (que são raríssimos por sinal), mas
eu nunca vi uma pessoa sentir a falta de mulheres pretas num anúncio só com
mulheres brancas (isso me lembrou de um dos episódios da temporada 2012 do
programa Esquenta, apresentado por Regina Casé, em que ela disse que estava
sendo chamada de racista porque no programa dela só tinha preto, e que por isso
ela resolveu levar algumas pessoas brancas ao programa para convencer o público
do contrário, isto é, que ela não é racista). Eu sou filho de uma mulher preta,
neto de uma mulher preta (de quem eu tenho e terei saudades eternas), conheço e
trabalho com muitas mulheres pretas que são mães, e portanto eu estou prestando
uma homenagem A ESSAS mulheres. Mulheres que são tratadas como se não
existissem; que não tem direito a um pré-natal digno e <a href="http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/saude/264-noticias-de-saude/9478-pretas-recebem-menos-anestesia" target="_blank">não recebem sequer anestesia</a> quando chega a hora de dar a luz seus filhos; que
<a href="http://machismomata.wordpress.com/" target="_blank">são sistematicamente maltratadas, agredidas, abandonadas e assassinadas pelos namorados e maridos</a> (que são, na maioria dos casos, homens tão pretos quanto
elas) e que por isso têm de se virar para trabalhar e sustentar as suas
crianças; que não tem creche para colocar os filhos enquanto trabalham, e que
por isso são obrigadas a deixar os filhos menores aos cuidados do irmão mais
velho ou com a vizinha (quando elas acham uma vizinha que se disponha a fazer
isso, porque senão elas terão de abandonar seus empregos e fazer um bico aqui e
outro acolá pra garantir o pão daquele dia no sustento de sua cria); que não
têm uma escola decente para os seus filhos estudarem e buscarem um futuro
melhor (porque filho de preto tem mais é que trabalhar para ajudar no sustento
da casa; esse negócio de estudar é invenção de moda; onde já se viu, preto
querer estudar?; se o criouléu todo resolver virar doutor, quem vai lavar minha
privada?); que, no dia de hoje, tiveram de aguentar todos os tipos possíveis e
imagináveis de humilhações para visitar os seus filhos nos presídios e que
também, neste exato momento, estão chorando e reconhecendo os seus filhos mortos
nas geladeiras do Instituto
Médico-Legal (o fato de a <a href="http://www.youtube.com/watch?v=i93WRyh_3sM" target="_blank">maioria da população carcerária</a> e de <a href="http://www.youtube.com/watch?v=wmXcLe0am5A" target="_blank">cadáveres nos necrotérios</a> ser de pessoas negras deve ser mera coincidência ou simples
fatalidade, pois preto deve ser tudo bandido mesmo – e bandido bom é bandido morto). É para essas mulheres
que eu estou falando. São essas as mulheres que eu estou homenageando.<span style="background-color: #edeff4;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0RjjYZYsauDDrDWhdRYXkdouZCk-t4mwc0IceQCReupvUfRIMbQ7gySGYpOzUJFQyX4BzG0dkgFCh479Ut_ib7l2sq5M6iAGe4l7ksJyqpl-6_8RrVQ7Z4oWszNkz9u8rFw9CKQBIf9s/s1600/13+de+maio+-+mulher+negra.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0RjjYZYsauDDrDWhdRYXkdouZCk-t4mwc0IceQCReupvUfRIMbQ7gySGYpOzUJFQyX4BzG0dkgFCh479Ut_ib7l2sq5M6iAGe4l7ksJyqpl-6_8RrVQ7Z4oWszNkz9u8rFw9CKQBIf9s/s320/13+de+maio+-+mulher+negra.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Que discursinho mais democracia racial da p...
Você está parecendo <a href="http://www.youtube.com/watch?v=ceddVRxZMAE&feature=results_main&playnext=1&list=PLF784F8AB4FC99F1E" target="_blank">aqueles caras do Democratas</a> que dizem que as cotas para
negros nas universidades (cuja constitucionalidade foi <a href="http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/educacao/cotas-para-negros/14131-stf-conclui-ciclo-de-decisoes-favoraveis-as-cotas-nas-universidades">ratificada pelo Supremo Tribunal Federal</a> em decisão unânime nos dias 25 e 26 de abril últimos) não
contemplam os brancos pobres. Afinal de contas, dizem esses canalhas, o nosso
problema não é racial, e sim socioeconômico (como se o racismo não fosse um
problema socioeconômico), em que uns tem muito e outros não têm nada, e esse
lance de cotas deve agregar critérios
sociais e não raciais. Não é mesmo?</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="textexposedshow"><span style="line-height: 115%;">Duas coisas: 1) ao contrário do que a midiona
tenta fazer a população brasileira acreditar, os brancos pobres também estão
sendo beneficiados pelas cotas; 2) os brancos pobres não ocupam o mesmo lugar
que os pretos pobres, até porque os brancos pobres não se reconhecem como
iguais aos pretos pobres. Numa sociedade racista como a nossa, em que <a href="http://www.interney.net/blogs/lll/2009/09/16/o_racismo_nao_e_um_problema_individual/" target="_blank">o racismo é estrutural e regulador das nossas relações sociais</a>, ser
branco significa ter capital simbólico. Ou você nunca ouviu um branco pobre,
favelado e subempregado olhar para a cara de um preto que têm as mesmas
condições de vida que ele e dizer: “pelo menos eu<span style="background-color: #edeff4;">
</span>não sou preto igual a você”? Mas vamos deixar o sistema de cotas de lado
por enquanto, pois o assunto do texto é outro. </span></span><span style="background-color: #edeff4; line-height: 115%;"><br />
</span><span class="textexposedshow"><span style="line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Se não quiser curtir, não curta. Eu nunca
tive a pretensão de agradar a todos mesmo. Faça o que você achar melhor. Pois eu
não tenho a menor vontade de querer mudar a cabeça de ninguém através das
coisas que eu posto nas redes sociais (até porque isso é impossível; eu só
posso propor, a mudança de mentalidade
é decisão de cada um e eu não posso determinar isso), ou até mesmo, fazer
alguém enxergar melhor. Até porque a minha formação é de professor de história
e não de médico oftalmologista.<span style="background-color: #edeff4;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Se não quer ver o que está para além do seu
umbigo e da sua redoma existencial, pode me excluir. É muito mais sensato, ou
muito menos cansativo pra você e pra mim.<span style="background-color: #edeff4;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;">Combinado?<span style="background-color: #edeff4;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 115%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span class="textexposedshow"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></span></div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-64928297306872671592012-02-27T13:06:00.001-03:002012-02-28T15:31:06.286-03:00Reis e Ratos: puta desperdício de tempo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sábado à tarde, estava em casa
com a minha digníssima sem ter o que fazer e em busca de algum entretenimento.
Devido à nossa vontade de sair e após alguns minutos sem nenhum indicativo de
para onde ir, resolvemos rumar ao cinema para ver <i>Reis e Ratos</i>. Não havia lido nada sobre o filme: uma nota publicada
numa revista, uma resenha do caderno cultural do jornal A Tarde, uma análise feita
por algum crítico da moda ou coisa que o valha. Me limitei somente a uma propaganda
que vi no Jornal da Metrópole e ao título do filme, que achei instigante. A
única informação que busquei foi o elenco principal. Quando vi os nomes de
Paula Burlamaqui, Rodrigo Santoro, Seu Jorge, Otávio Müller e especialmente de
Selton Mello, concluí que seria bom arriscar. Quebrei a cara.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Putesgrila! O filme é confuso do
começo ao fim (até o fim, eu já não digo porque saí antes. Pelo menos até a
última cena que eu vi). Quando soube que a história estava periodizada na
década de 1960, quando apareceram os primeiros personagens fazendo alusões à
guerra contra o comunismo, o símbolo da foice e do martelo e os caracteres inicialmente
no alfabeto cirílico e, logo em seguida, traduzidos para o alfabeto latino,
pensei que o filme versaria sobre alguma coisa relacionada ao período da Guerra
Fria, mundo bipolar, divisão do mundo entre capitalistas e comunistas, Estados
Unidos de um lado e União Soviética do outro, essas coisas. De fato, o enredo
do filme está situado nesse período histórico, mas eu não consegui ver a
ligação entre uma coisa e a outra. Eu até me esforcei, mas não deu. Assisti ao
filme durante mais de uma hora, mas, por não ter conseguido entender nada,
joguei a toalha e casquei fora. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu não fui o único. A minha
digníssima, cuja paciência é bem menor do que a minha, chegou a cochilar nas
primeiras cenas por não aguentar tanta chatice, mas não debandou logo de cara após
olhar para o lado, me ver concentrado, achar que eu estava entendendo alguma
coisa e não querer estragar meu prazer (antes ela tivesse feito o contrário).
Uma quantidade significativa de pessoas também debandaram da sala muito
provavelmente por não terem compreendido porra nenhuma. Quando eu disse que
estava “voando” e propus a debandada, ela aceitou imediatamente e, ato
contínuo, “pegamos a pista”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu até gosto do trabalho de
Selton Mello; para mim, ele é um ator fantástico. As atuações dele em <i>Meu Nome Não É Johnny</i> e em <i>Jean Charles</i> foram memoráveis, mas é a
terceira vez que eu saí puto do cinema por não ter conseguido entender a
mensagem que ele quis passar. A primeira vez foi quando eu assisti a <i>O Cheiro do Ralo</i>, filme do qual eu não
compreendi nada e não sei por onde começou, muito menos onde terminou. A
segunda foi quando eu assisti a <i>O Palhaço</i>.
Saí de casa cheio de expectativas: porra, deve ser legal, o primeiro filme dele
como diretor, ainda mais contracenando com Paulo José, uma boa pedida, vou lá
conferir. Resultado: me estrepei. A terceira (e, acredito eu, derradeira) foi no
último sábado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E não venham me dizer que o
problema foi meu. Eu não sou o arauto da intelectualidade (estou longe disso), não
sou cinéfilo (pelo menos não me considero assim), não sou crítico de cinema,
nenhum José Wilker ou Rubens Ewald Filho da vida, mas também não sou nenhuma anta.
Não sei vocês, mas eu, já há algum tempo, parei de pensar que a culpa é sempre
minha por não ter entendido um filme ou um livro. A culpa pode ser também da
pessoa que escreveu, por que não? As pessoas falam a partir de códigos que são
inteligíveis (eu tenho de ter a capacidade de entender, mas a pessoa que
escreve ou produz também tem de ser clara ao emitir a mensagem). Se a diretora
Paula Lavigne e a equipe de produção do filme usou uma linguagem confusa
demais, acessível somente a elas mesmas e olhe lá, eu sou culpado por não ter
captado o que ela tentou dizer (se é que ela quis dizer alguma coisa)? Devo me
considerar intelectualmente limitado por isso? Eu sei que não terei tempo de
vida para entender tudo (e nem sei se isso é necessariamente bom), mas também
não acredito que devo pensar que sou uma besta quadrada por ter passado mais de
uma hora vendo uma porra de um filme e não ter assimilado nada do que vi. E
mais: além de o meu senso pretensamente intelectualóide não estar ligado o
tempo todo (será mesmo?), eu estou convencido de que há coisas na vida que não
foram feitas para serem entendidas. Ou eu aceito, ou eu não aceito. Eu penso
assim, e ninguém tem obrigação de concordar comigo (e nem o direito de me
xingar por eu pensar dessa forma). <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não vou perder um minuto do meu
sono sofrendo por não ter conseguido entender um filme ou um livro. Já perdi,
mas não perco e não perderei mais. Eu não consegui entender esse, mas já
entendi e tenho certeza de que ainda entenderei muitos outros. A vida é muito
curta.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Bola pra frente que atrás vem
gente. Eu já perdi muitas batalhas, mas as que entram – e entrarão - no meu
currículo são as que eu ganhei e as que eu ainda vou ganhar. Viremos a página e
prossigamos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para finalizar: eu não sou nenhum
ditador. Eu não escrevi esse texto para dizer o que as outras pessoas devem
fazer. Se quiserem ignorar o que eu disse e ir ao cinema ver esse filme, vão e
vejam. Afinal, cada um tem o direito de fazer o que quiser (e esse texto não é
nenhuma resenha fílmica, ou pelo menos não o escrevi com esse caráter). Não é
porque eu não entendi o filme que ninguém mais vai entender. Como já disse Martha
Medeiros, “eu não sirvo de exemplo para nada. Mas se alguém quer saber se isso
é possível, me ofereço como piloto de testes”.</span></div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-68200777841983453752011-09-20T15:28:00.000-03:002011-09-20T15:28:35.399-03:00"E agora? Quem poderá me salvar?"<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Conversa rápida que tive ontem
com uma das minhas estudantes antes da aula:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela: Esse lugar está horrível.
Violento demais. Lá em frente ao prédio onde eu moro, junta um monte de gente
para usar e vender drogas todo dia a partir das 10 da noite. Por conta disso,
tenho de ficar sempre atenta para não deixar os meus filhos na rua até tarde. Sei
lá, pode acontecer alguma briga ou tiroteio e eles serem feridos com isso. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu: É verdade. Você tem de tomar
muito cuidado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela: É por isso que eu
dificilmente assisto à sua aula. Tenho de voltar pra casa cedo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu: Tranquilidade. É por uma boa
causa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela: E o que mais me revolta é
que ninguém faz nada. Aquele pessoal faz uma zoada desgraçada todo dia, vende e
consome drogas abertamente e ninguém toma uma atitude; ninguém chama a polícia.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu: E por que VOCÊ não chama a polícia?
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela: Eu, não!! Tá louco?! Eu
tenho três filhos pra criar. E se esses caras descobrirem que fui eu a autora
da denúncia e vierem atrás de mim para se vingar? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu: E você já pensou na
possibilidade de os seus vizinhos não terem chamado a polícia por essas mesmas
razões? Você já imaginou que os seus vizinhos podem sentir o mesmo medo que
você sente de denunciar o caso e sofrer retaliações por causa disso? Você já pensou
que as outras pessoas que moram no mesmo prédio onde você mora também têm
filhos e, consequentemente, também têm medo de morrer e deixar as suas crianças
desamparadas? <span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela: (olhou para mim, virou-se e
foi embora sem dizer nada).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Impressionante como as pessoas ficam
indignadas com uma determinada situação, mas sempre esperam que alguém resolva
a parada por elas. É provável que ela pense que é a única pessoa do mundo que
tem filhos para criar, e, portanto, não pode se expor e correr riscos
desnecessários - mas os outros podem, é claro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É o que eu sempre digo: pimenta
no rabo dos outros é refresco.</span></div>
<div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-35131738908525217792011-08-22T20:13:00.001-03:002011-08-22T20:14:53.063-03:00"Jesus te ama, irmão"<p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Ontem à tarde, após um compromisso, estava voltando para casa. Quando o ônibus passou pelo Bom Juá, vi que havia um grupo de evangélicos fazendo pregação no meio da rua. Havia gente distribuindo panfletos aos transeuntes e dentro do carro (que mais parecia um trio elétrico, dada a quantidade, o tamanho e a potência das caixas de som). O pregador estava gritando e gesticulando (como sempre), fazendo de tudo para chamar a atenção das pessoas e, quem sabe, tentar trazer mais uma ovelha desgarrada para o rebanho do senhor. O buzu dentro do qual eu estava passou bem na hora em que o sujeito falou a seguinte frase:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" >“A IRA DO SENHOR PERMANECERÁ SOBRE AQUELES QUE REJEITAM A SALVAÇÃO”</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Ao ouvir isso, pensei: para tudo! São essas as pessoas que vivem repetindo o tempo todo que deus é bom, amoroso, compassivo e misericordioso, cheio de bons sentimentos e incapaz de guardar mágoas e rancores? Então, por que deus fica irado com as pessoas que não querem ser salvas? Esses fanáticos falam a todo instante que a Bíblia diz que deus deu o livre-arbítrio para que a humanidade possa fazer as suas escolhas. Todavia, por que deus se torna implacável contra os seres humanos que tomam decisões que não condizem com os interesses dele? Se deus é tão compreensivo quanto dizem, eu acho que ele tem que aceitar qualquer decisão tomada pelos humanos (livre-arbítrio é isso – pelo menos para mim). Se ele me dotou da capacidade de decidir, eu vou tomar a decisão que eu bem entender. Se eu quiser fumar maconha, beber, estudar Direito, virar bandido, estudar física quântica, me prostituir, escalar um prédio sem equipamento de segurança ou seja lá o que mais, deus não tem nada a ver com isso. Ele deu o poder do discernimento a mim e, agora, não quer aceitar o caminho que EU escolhi para a minha vida? Só lamento. Agora, aguente!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">O mais irônico disso tudo é que são essas mesmíssimas pessoas, que acreditam nesse deus vingativo, perseguidor, cruel e autoritário, que saem às ruas para distribuir folhetinho, fazer pregação nos ônibus, dizer que deus é amor (!), que jesus tem um plano na minha vida, e que para isso eu tenho de entrar em determinada igreja para receber as bênçãos dos céus e ser agraciado com a salvação. Já tive um colega de escola que só faltou colocar uma arma na minha cabeça e me obrigar a ir à igreja porque ELE achava que eu tinha de ser salvo de qualquer jeito, pois jesus havia mudado a vida dele e queria mudar a minha também – por mais que eu não quisesse isso. A minha sorte foi que o ônibus apareceu logo, e, em virtude da situação, eu pulei dentro e larguei o babaca lá falando sozinho. Nunca mais vi o desgraçado depois daquele dia (ainda bem!).</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Tô fora! Cultuar um deus que ficará o tempo todo se metendo na minha vida, vigiando as minhas ações, interferindo nas minhas vontades mais subjetivas, dizendo o que eu devo ou não devo fazer e que não hesitará em acabar comigo se por acaso eu, em algum momento, não fizer o que ele quer? Nem morto! Quem vai é coelho!!!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">(Se deus é capaz de fazer isso tudo porque me ama, eu nem quero imaginar o que ele faria caso me odiasse.)</p><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-88599642780498136362011-08-18T10:16:00.002-03:002011-08-18T10:21:19.861-03:00"Você está com cara de terrorista!!!"<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span>Sou negro, alto, corto os meus cabelos muito esporadicamente e gosto bastante da minha barba. Odeio ter de passar barbeador na cara toda semana; acho isso um saco. Por conta disso, sempre aparece um (ou uma) mala para encher a minha paciência dizendo que eu deveria tirar a barba (como se eu tivesse pedido a opinião delas acerca do meu visual), que a barba envelhece a aparência da pessoa (como se eu me preocupasse em ser jovem a vida toda), que a barba dá uma aparência de falta de higiene (apesar de eu lavar a minha barba todo dia com shampoo anticaspa e penteá-la cuidadosamente), que o homem sem barba fica mais apresentável (como se eu fizesse questão alguma de ser simpático), dentre outras coisas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span>Por conta da minha barba grande, várias pessoas, conhecidas ou não, ao me verem na rua, têm reações diversas: umas pensam que eu sou mendigo, outras pensam que eu estou de mal com a vida (como se não ter barba fosse indicador de que eu estivesse radiante de felicidade), outras pensam que eu sou usuário de drogas ilícitas (claro, né, Rogério?! Quem vai imaginar que uma pessoa branquinha, loirinha e de olhos azuis, de cabelos bem tratados e barba bem aparada, bem vestida, arrumada e perfumada fuma maconha, cheira cocaína ou cachimba crack? Você também, viu?!). E, para terminar, sou constantemente associado por essas pessoas aos membros do Taliban. Frequentemente surge no meu caminho um imbecil para gritar “bin Laden”, “ô Osama!”, “terrorista!!!”. Como se os terroristas fossem só muçulmanos com longas barbas e turbantes.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span>Semana passada, ao chegar a um dos locais onde trabalho, uma estudante olhou para mim e disse que eu estava <i>igual a um terrorista</i>. Eu, ao ouvir isso, parei, respirei, contive os meus impulsos, medi bem as minhas palavras, olhei de volta para a cara dela e sentenciei:<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span><span> </span>-É verdade. Você está certa. <a href="http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/terrornanoruega/noticias/0,,OI5275830-EI18462,00-Anders+Breivik+queria+depor+em+ingles+no+tribunal+diz+promotor.html">Aquele sujeito que matou 76 pessoas lá na Noruega</a> é parecidíssimo comigo. Quase meu irmão gêmeo, de tão semelhante a mim. Se estivéssemos um ao lado do outro, ficaria difícil distinguir quem é quem. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span>Quem pensaria que um homem loiro, alto, de olhos azuis, cabelos bem tratados e muitíssimo bem vestido seria um assaltante, por exemplo? NINGUÉM!!! Ladrão é só aquele sujeitinho vestido com uma camisa da Billabong, bermuda da Cyclone, sandália Kenner, boné da Adidas, batidão feito com abridor de latinha de cerveja, com um anel em cada dedo e óculos escuros da armação rosa ou verde-cana. Aí, sim, né? Tá na cara!!<o:p></o:p></span></p><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-16623714007844870502011-07-27T11:00:00.003-03:002012-06-04T23:59:10.939-03:00Racismo é engraçado?<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #1a1a1a;">Estava navegando pela internet despropositadamente quando vi no site do <a href="http://www.geledes.org.br/">Instituto Geledés</a> uma <a href="http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/casos-de-racismo/racismo-no-brasil/10350-sbt-esta-sendo-acusado-de-racismo">nota sobre uma acusação de racismo contra o SBT</a></span><span style="color: #1a1a1a;">. O texto repudiava uma apresentação, feita no Programa Silvio Santos, de um humorista que atende pela alcunha de “Mulher Feijoada”, negro e presumidamente homossexual, que levou o auditório ao delírio ao contar piadas racistas do começo ao fim do seu “espetáculo”. Aquela velha postura de escravo da casa-grande que faz de tudo para agradar o senhor de engenho, incluindo aí servir de bobo-da-corte para os convidados deste.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #1a1a1a;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #1a1a1a; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/asFpztvS9us" width="425"></iframe> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #1a1a1a;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #1a1a1a;">Desnecessário dizer que eu ODIEI esse showzinho tétrico. Falo isso porque um dos instrumentos mais poderosos a serviço do racismo é justamente o humor. As piadinhas racistas têm um poder extraordinário de naturalizar o racismo na cabeça das pessoas. Afinal, tendemos a gostar e a aceitar aquilo que nos faz rir. <a href="http://efemeridesbaianas.blogspot.com/2009/12/piada-de-mau-gosto.html">Até já escrevi sobre isso</a>.</span><span class="Apple-style-span" style="color: #1a1a1a;"> </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #1a1a1a;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #1a1a1a;">É também por causa disso que o combate ao racismo se torna mais difícil, até porque toda pessoa que vai de encontro ao que é “engraçado” invariavelmente é tachada de chata, mala e mal-humorada. Porra, será possível que você não desliga nem na hora de se divertir?</span><span style="color: red;"> </span>Logo, tudo é aceito como uma simples "brincadeira". Quem é louco de expressar seu ódio racial com afirmações veementes ao outro? Os nossos racistas dificilmente têm coragem de dizer na cara o que pensam sobre as pessoas que mais odeiam na vida. Que o diga <a href="http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-2/artigo/baiana-eleita-miss-italia-no-mundo-e-vitima-de-racismo-em-site-nacionalista/">a baiana eleita a mais bela descendente de italianos neste ano</a>.<span style="color: #1a1a1a;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="color: #1a1a1a; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Toda vez que eu condeno publicamente a postura das pessoas que se utilizam do humor para veicular e reforçar estereótipos racistas, machistas e homofóbicos na mente dos outros, a reação é sempre a mesma: você está vendo coisa onde não existe, isso é coisa da sua cabeça, "é só uma piada", você não tem senso de humor, "toda piada tem uma vítima" (curioso é que as vítimas são sempre negros, gays, <a href="http://www.pstu.org.br/opressao_materia.asp?id=13094&ida=0">mulheres</a>, gordos... Por que ninguém faz piada com homens brancos, ricos, europeus e heterossexuais?), é assim mesmo, <a href="http://www1.folha.uol.com.br/colunas/zapping/940719-faco-o-meu-trabalho-diz-rafinha-bastos.shtml">fazer piada é o trabalho do cara</a>... Ele vive disso, pô!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 10.5pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify;">
<span style="color: #1a1a1a; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se algum humorista fizesse, por exemplo, piada de judeu (se o humorista não fosse judeu, é claro), não faltaria gente para repudiá-lo pelo antissemitismo. Mas quando alguém rechaça piadas contra negros, essas mesmas pessoas dizem que nós estamos enchendo o saco, que nós não temos o que fazer, que nós somos paranóicos que vemos racismo em tudo, que nós somos complexados, que ninguém pode falar mais nada... Tudo é racismo, tudo é preconceito, QUE PORRA!!!<br /><br />Há três anos, a Federação Israelita do Rio de Janeiro entrou na justiça para <a href="http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=3237">impedir que um carro alegórico da Viradouro</a> que trazia uma suástica e uma imagem de Hitler <a href="http://oglobo.globo.com/carnaval2008/rio/mat/2008/01/31/justica_proibe_carro_do_holocausto_da_viradouro-365446556.asp">desfilasse na Sapucaí</a>. Não me lembro de ter visto, lido ou ouvido nenhuma declaração ofensiva contra os judeus ou tentando minimizar a tragédia e o sofrimento impostos pelo nazismo. Afinal de contas, eles estão certos; o holocausto nazista foi um dos maiores crimes da história, seis milhões de judeus foram exterminados nos campos de concentração, um absurdo!<br /><br />(Como disse o poeta martinicano Aimé Césaire, os europeus, antes da ascensão do Terceiro Reich, protagonizaram inúmeras carnificinas fora da Europa tranquilamente. Quem já leu alguma coisa sobre o tráfico de escravizados sabe do que eu estou falando. Populações inteiras e culturas milenares foram aniquiladas na Ásia, na América e na África durante séculos e os europeus que ficaram lá na Europa acharam que isso era o certo, pois tratava-se de povos "atrasados" e "inferiores" que os europeus tinham a <a href="http://pt.wikisource.org/wiki/O_fardo_do_Homem_Branco">obrigação moral de "domesticar"</a>.<br /><br />Quando o poeta irlandês Roger Casement denunciou as atrocidades cometidas pelo regime do rei belga Leopoldo II no Congo, que matou cerca de trinta milhões de pessoas de 1885 a 1908, ninguém levou o cara a sério. O grande arquiteto intelectual do nazismo, o médico alemão Eugen Fischer, testou a validade das suas teorias, aprendeu a construir campos de concentração e a matar pessoas na ilha de Shark, na Namíbia (tomem conhecimento disso <a href="http://baixandonafaixa.blogspot.com/2010/04/documentario-historia-do-racismo-racism.html">aqui</a>). Entretanto, ele não foi execrado por ninguém devido a isso.<br /><br />Mas quando Hitler e os seus cupinchas usaram toda essa experiência acumulada em construir máquinas da morte para fazer a mesma coisa dentro da Europa, foi um absurdo. Veio a criação da ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos [promulgada numa época em que os mesmos europeus ainda estavam escravizando, explorando, estuprando e exterminando gente nas colônias africanas], a Convenção de Genebra e o caralho a quatro. Tudo porque os europeus tinham de se proteger deles mesmos.<br /><br />Pimenta no rabo dos outros é refresco.)<br /><br />Se fosse uma entidade do movimento negro que entrasse na justiça para impedir que um carro alegórico de uma escola de samba qualquer desfilasse exibindo uma imagem de um negro sendo chibateado no tronco, essas mesmas pessoas torceriam o nariz, diriam que isso é uma bobagem, a história foi assim mesmo </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">(o fato serviria apenas para uma retratação dos fatos históricos que constituem a formação do país)<span style="color: #1a1a1a;">, os negros já gostam de se fazer de vítima, a escravidão já passou e que os negros não melhoram de vida porque <a href="http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/07/21/racismo-sem-racistas/">só ficam pensando no passado ao invés de esquecê-lo, olhar para a frente, trabalhar duro e cuidar da vida</a>. Ahhh, que saco!!</span><span style="color: red;"> </span><span style="color: #1a1a1a;"><br /><br />E ainda gritariam no final: "CENSURA! CENSURA! OS NEGROS QUEREM ACABAR COM A LIBERDADE ARTÍSTICA NO PAÍS!!!"</span></span> <span class="Apple-style-span" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-42049252661396102562011-07-12T21:12:00.003-03:002011-07-12T21:37:51.126-03:00Futebol feminino, machismo e discriminação racial: o que uma coisa tem a ver com a outra?<p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="apple-style-span"><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%;font-family:"Trebuchet MS","sans-serif"; color:black">Como boa parte da população brasileira não sabe, está rolando a Copa do Mundo de Futebol Feminino (hã?! Copa do Mundo de Futebol Feminino?!?!! Onde?!). As partidas começaram no final do mês passado e a final acontecerá no próximo dia 17 de julho. A grande imprensa, com destaque para a Rede Globo, não está dando nenhum destaque à competição. Em ano de Copa do Mundo de futebol masculino, as emissoras de televisão, os jornais, as revistas e os anúncios publicitários começam a encher o saco desde o início do ano sobre o Brasil na Copa, o povo brasileiro tem que torcer, devemos prestigiar a pátria de chuteiras, é o Brasil, o Brasil, o Brasil... Já quando as mulheres estão em campo...<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="apple-style-span"><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%;font-family:"Trebuchet MS","sans-serif"; color:black">Se não fosse a Band, as poucas pessoas que ficaram sabendo disso não teriam a oportunidade de ver os jogos. Mas não poderia ser diferente, pois, afinal de contas, a Band é a única emissora brasileira que incentiva o futebol feminino no nosso país. Luciano do Valle tem os seus erros, mas é o único grande jornalista esportivo que prestigia as mulheres futebolistas e cobra maior apoio dos patrocinadores e da CBF para que elas possam ter as condições mínimas necessárias para viver do esporte. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="apple-style-span"><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%;font-family:"Trebuchet MS","sans-serif"; color:black">Infelizmente, a seleção foi eliminada pelos Estados Unidos nas quartas-de-final no domingo passado. Apesar de a zagueira Daiane ter feito um gol contra logo no começo do jogo e ter perdido um pênalti, não foi por causa disso que as nossas mulheres foram desclassificadas do certame (é bom dizer isso para depois algum espírito de porco não tentar fazer com ela a mesma coisa que fizeram com o goleiro Barbosa após a derrota da seleção brasileira na final da Copa de 1950). O gol contra foi uma infelicidade, e o desperdício do pênalti foi compreensível para uma jogadora que atuou durante cento e vinte minutos e, portanto, estava fisicamente cansada e psicologicamente abalada por conta do lance infeliz no início da partida. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="apple-style-span"><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%;font-family:"Trebuchet MS","sans-serif"; color:black">O maior erro foi do treinador Kleiton Lima, que armou o time errado, subaproveitou jogadoras importantes e não fez as alterações no momento certo – além, é claro, de ter escalado uma jogadora emocionalmente desestabilizada para bater um pênalti. Deixei um comentário lá no site da Band sobre isso. Se quiserem conferir, <a href="http://www.band.com.br/esporte/futebol/feminino/noticia/?id=100000443422">fiquem à vontade</a>. <o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="apple-style-span"><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%;font-family:"Trebuchet MS","sans-serif"; color:black">Entretanto, eu não quero fazer outra resenha da partida. Quero, na verdade, levantar uma discussão acerca de outros aspectos relacionados à transmissão, especialmente a forma como é vista a mulher no esporte. Pode parecer estranho, coisa de maluco que vê coisa onde não existe. Que seja! Eu fui treinado para prestar atenção aos detalhes, àquilo que a maioria das pessoas não vê (não estou me autoelogiando publicamente, mas apenas dizendo que o meu trabalho é esse. Não faço mais do que a minha obrigação). Estava eu assistindo a Brasil X Noruega, jogo realizado no dia 3 de julho, e vi e ouvi que o comentarista Neto não parava de rasgar elogios à beleza das jogadoras norueguesas. Ele não cansava de dizer que elas eram lindas, maravilhosas, como tem mulher bonita na Noruega!!! Isso começou a me incomodar um pouco, e por isso resolvi ficar mais atento. Parece até que eu estava adivinhando o que viria em seguida.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="color: black; "><span class="apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%; ">No segundo tempo, ele não aguentou. Tornou a rasgar mais e mais elogios à beleza das norueguesas e, na volta do intervalo, soltou a seguinte pérola: "se beleza ganhasse jogo, já estaria oito a zero para a Noruega".</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 16px; ">(Curioso que nenhuma jogadora brasileira é bonita aos olhos dele. Nem Érika, a única loira do time. Ou seja, não basta ser loira para ser bonita. É preciso ser europeia ou descendente de europeus.)</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 16px; ">No jogo seguinte, contra a Guiné Equatorial, observei com atenção máxima as palavras dele e constatei que ele não fez um comentariozinho sequer sobre a beleza das jogadoras guineenses. Por que será? Deve ser porque mulheres negras não são bonitas, não é mesmo?</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 16px; ">Aposto que se alguém disser a ele que o comentário feito acerca das norueguesas é racista, ele jurará que não e ainda dirá que está cansado dos patrulheiros do <a href="http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/04/04/as-origens-da-expressao-%E2%80%9Cpoliticamente-correto%E2%80%9D/">politicamente correto</a>. Já estou até vendo - e ouvindo: "Ihhhhh! Que saco! Será possível que eu não posso falar mais nada?! Tudo é racismo, tudo é preconceito, QUE PORRA!!!"</span><span style="color: black; "><span class="apple-converted-space" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 115%; "> </span><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%; font-family:"Trebuchet MS","sans-serif";color:black"><br /><span class="apple-style-span">Para completar, ele fez a mesma coisa na partida entre Brasil e</span><span class="apple-converted-space"> </span><span class="apple-style-span">Estados Unidos. Em um determinado instante em que a goleira Hope Solo apareceu na imagem (ela foi a mais privilegiada pela geradora das imagens, é claro), o narrador Luciano do Valle falou que ela era uma goleira muito competente e habilidosa. Neto não perdeu a chance: "habilidosa E LINDA!"</span><br /><br /><span class="apple-style-span">Dei uma olhada nas reportagens sobre o jogo disponíveis na internet, e todas elas trouxeram na manchete "<a href="http://esportes.br.msn.com/futebol/musa-goleira-norte-americana-para-o-brasil-e-vira-fen%C3%B4meno-no-twitter">a musa Hope Solo eliminou o Brasil...</a>", "<a href="http://www1.folha.uol.com.br/esporte/941639-goleira-dos-eua-vira-musa-ganha-beijo-e-alfineta-marta.shtml">a goleira vira musa...</a>", "<a href="http://uolesporte.blogosfera.uol.com.br/2011/07/10/internautas-descobrem-goleira-hope-solo-e-bombardeiam-twitter-com-xavecos/">musa Hope Solo isso...</a>", "<a href="http://esportes.terra.com.br/futebol/mundial-feminino-futebol/2011/noticias/0,,OI5233370-EI18245,00-Goleira+musa+e+carrasca+brasileira+conheca+estrelas+dos+EUA.html">musa Hope Solo aquilo...</a>"</span><br /><br /><span class="apple-style-span">Ou seja, pouco importa se ela é competente, pouco importa se ela teve uma boa atuação na partida, pouco importa o fato de ela ter defendido duas cobranças de pênalti. Importa mesmo o fato de ela ser linda – e nada mais.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="apple-style-span"><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%;font-family:"Trebuchet MS","sans-serif"; color:black">Quando os homens estão jogando, ninguém repara na beleza deles. Pouco importa se eles são bonitos ou feios, o que interessa é saber jogar e colocar a bola nas redes do adversário (quer dizer, também não é assim. Afinal de contas, quando vocês viram um jogador africano ou asiático aparecer nas listas de jogadores mais bonitos da Copa? O único brasileiro que apareceu na lista de bonitões da Copa 2010 foi Kaká. Mas Kaká é preto?). Já com relação às mulheres, a mídia só quer saber da beleza física delas. Por que isso? Elas entraram em campo para jogar futebol ou para um desfile de moda? Não sei vocês, mas eu penso que a beleza física de uma mulher é desimportante quando ela decide praticar um esporte. O que importa é competência, habilidade e preparo para obter o máximo de rendimento. Ou eu estou errado?</span></span><span style="font-size:10.5pt;line-height:115%;font-family:"Trebuchet MS","sans-serif"; color:black"><br /><br /> <!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br /> <!--[endif]--></span></p><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-25680008609303362452011-07-02T22:41:00.008-03:002011-07-02T22:50:41.525-03:00Marcha das Vadias em Salvador – 02/07/2011<div><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align: justify;">Sou militante antirracista há sete anos. Entretanto, percebi depois de um certo tempo que não basta lutar só contra o racismo por uma razão bem simples: o racismo não age sozinho. A homofobia, o preconceito de classe e o machismo, por exemplo, são ideologias tão destruidoras quanto a primeira e não agem isoladamente. Muito pelo contrário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Eu fui criado com base em todos esses valores (e quem não foi?), e resolvi lutar contra todos eles assim que tomei consciência disso. Para tanto, resolvi ir hoje à Marcha das Vadias em Salvador. O movimento, que teve como epicentro a cidade de Toronto, no Canadá, já aconteceu em vários países e algumas capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Brasília, Recife e Fortaleza, pelo que sei) e, aqui em Salvador, foi realizado em concomitância com as comemorações dos 188 anos da Independência do Brasil na Bahia e transcorreu com muita tranquilidade, descontração e uma forte contestação ao machismo e ao sexismo reinantes em nossa sociedade. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Várias foram as bandeiras levantadas pelas manifestantes (descriminalização do aborto, apoio à causa LGBT, repúdio à usina de Belo Monte), mas a mais enfatizada nas faixas e cartazes foi o enfrentamento à cultura do estupro. Todas as participantes fizeram questão de contestar a ideia que divide as mulheres desde cedo entre “santas” e “putas”, reivindicaram o direito inalienável de serem donas dos seus corpos e repudiaram o pensamento dominante que, ao invés de condenar o agressor, coloca sobre as vítimas a culpa por terem sofrido violência sexual – como se fosse possível alguém pedir para ser violentada, espancada, torturada e até assassinada com requintes de crueldade. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">A causa é nobre, a iniciativa é louvável, os motivos são justos, mas apesar disso houve quem tentasse desqualificar os propósitos da Marcha. Em um dado momento, um babaca apareceu na janela da casa dele vestindo uma camisa vermelha com a mensagem “A minha camisa fica vermelha quando eu fico excitado” e começou a fazer deboche da cara de algumas manifestantes (que prontamente responderam ao imbecil com uma sonora vaia). Minutos depois, a minha esposa se aproximou de mim e disse que ouviu um sujeito negro, gordo, vestindo uma camisa que trazia uma imagem de uma mulher com o cabelo <i style="mso-bidi-font-style:normal">black power</i> olhar para a manifestação e dizer: “isso tudo é uma tremenda baixaria”. Ou seja, o sujeito se diz (ou pelo menos aparenta ser) um ativista antirracista, mas acha que mulher tem que ficar em casa esquentando a barriga no fogão, esfriando no tanque e cuidando dos filhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">(É óbvio que não foram todos os homens que agiram assim. Aqueles que se solidarizaram com a causa foram muito bem recebidos e tratados pelas mulheres presentes, o que mostra que esse clima de guerra dos sexos não leva a lugar algum e que as feministas não são naturalmente androfóbicas ou, como se diz atualmente, <i style="mso-bidi-font-style: normal">feminazis</i>.) </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Quis tirar muitas fotos, mas não tirei porque a minha máquina deu defeito. Só consegui tirar cinco. É pouco, mas foi o que eu consegui e por isso vou coletivizar convosco. Confiram abaixo: </p></div><div>Foto 1</div><div><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghdwB4zz5ASmg0U-gctS9mudkDhmZD7qJsLnvqq6cd1NSG1Vm1QmJ4zw2uDrszOkNqu_eZBdzoD3OSHrDB3ayAMMpp4cJJBGowMIeyMELHTnlg1TZyT4vhyphenhyphenBTBrPvHVDJdZwfJFXdhyphenhyphenTQ/s1600/P1130007.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghdwB4zz5ASmg0U-gctS9mudkDhmZD7qJsLnvqq6cd1NSG1Vm1QmJ4zw2uDrszOkNqu_eZBdzoD3OSHrDB3ayAMMpp4cJJBGowMIeyMELHTnlg1TZyT4vhyphenhyphenBTBrPvHVDJdZwfJFXdhyphenhyphenTQ/s400/P1130007.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5624936617973425346" /></a><br /><div><br /></div><div>Foto 2</div><div><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuieI1SB-BxaPwrx3FcRcU8xmyp3cVtxX9rd2O4Nj517tb1t1YycSdvwpyIRlGWN8xwPdopej6xH-JNeVcpkYC6PIKFT7pZO1B6VYAsSZbh83gXdfCNfEAe-SZjVlrY6fmwiBxznekHH0/s1600/P1140008.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuieI1SB-BxaPwrx3FcRcU8xmyp3cVtxX9rd2O4Nj517tb1t1YycSdvwpyIRlGWN8xwPdopej6xH-JNeVcpkYC6PIKFT7pZO1B6VYAsSZbh83gXdfCNfEAe-SZjVlrY6fmwiBxznekHH0/s400/P1140008.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5624936442710998802" /></a><br /><div><br /></div><div>Foto 3</div><div><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeTHUozBmQHyR81WcOEhVLlLfz2kRT4AhT1GubHnY3O8eCfpQKDQCHFr5w2cgtO157s430lh_nXnlUi3YpW13zwkWNIbva4T4tebzeU59Z_xcebJ2eIHDRMnH0cHuEQwaxIqbKtwbZLIQ/s1600/P1140010.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeTHUozBmQHyR81WcOEhVLlLfz2kRT4AhT1GubHnY3O8eCfpQKDQCHFr5w2cgtO157s430lh_nXnlUi3YpW13zwkWNIbva4T4tebzeU59Z_xcebJ2eIHDRMnH0cHuEQwaxIqbKtwbZLIQ/s400/P1140010.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5624936229228269330" /></a><br /><div><br /></div><div>Foto 4</div><div><br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLFQGQoIo7teW6YpcsEaGEPZFPNJ6WegDmOuyz7V7eAvt-48kmd4snQC-3GawpZ1IF03ogspilZb7sR25SqIXRUoBFL3zX9pEDr_Yp3pVbrLVVPgqSmvWwXCK4_zO5oSUT3FDTBvhQ2pQ/s1600/P1140009.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLFQGQoIo7teW6YpcsEaGEPZFPNJ6WegDmOuyz7V7eAvt-48kmd4snQC-3GawpZ1IF03ogspilZb7sR25SqIXRUoBFL3zX9pEDr_Yp3pVbrLVVPgqSmvWwXCK4_zO5oSUT3FDTBvhQ2pQ/s400/P1140009.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5624936020662971554" /></a><br /><div><br /></div><div>Foto 5</div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7wCsiHhfooigBACWjL1tx0W7nOljpifVq9bVF6Vkfbr4Tdl9_ck2R-9ELAtDRfZc7n474jJ5fieXetnvR4px8-yRajUJjZCEM90dpTdeHUBz5VNWpYYlh-bHQfsm-gl86o5mjAhuJob0/s1600/P1140011.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7wCsiHhfooigBACWjL1tx0W7nOljpifVq9bVF6Vkfbr4Tdl9_ck2R-9ELAtDRfZc7n474jJ5fieXetnvR4px8-yRajUJjZCEM90dpTdeHUBz5VNWpYYlh-bHQfsm-gl86o5mjAhuJob0/s400/P1140011.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5624935803065254066" /></a><div><div><br /></div><div><br /></div><br /><div><br /></div><div><br /></div></div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-52699953180791802162011-04-12T19:26:00.005-03:002011-04-15T02:53:53.909-03:00Documentário Cortina de Fumaça: proposta de um debate sério, fundamentado e sem preconceitos sobre drogas<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Você é contra ou a favor das drogas? Você acha que um assunto sério como esse deve ser discutido de uma forma tão bipolar e maniqueísta, na base do "<i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=3wIBvT1qlns">você é Bahia ou é Vitória, afro?</a></i>"? Você pensa (e acredita) que a maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas? E que a única coisa que se pode fazer com a maconha é colocá-la para secar, enrolar as folhas secas num papel de seda, fumar e ficar doidão? Você acha que toda pessoa que consome maconha, cocaína e crack é uma criminosa de altíssima periculosidade, nociva ao convívio social?</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Você toma uma cerveja todo dia no final do expediente e fuma uma carteira de cigarro, mas diz que não é viciado? E quem de fato é viciado é o seu vizinho <i>sacizeiro</i>? Você assiste ao Na Mira, ao Se Liga Bocão e a outros programas sensacionalistas e policialescos e só falta ter um orgasmo quando um suposto traficante aparece morto com a cara toda brocada de bala ou quando um delegado apresenta um soldadinho borra-botas de boca-de-fumo e diz que "a prisão deste meliante representou um duro golpe contra o tráfico de drogas no nosso estado"? Você acredita que esse mesmo soldadinho zé-mané é o único responsável por todo esse mar de violência em que nós vivemos só porque ele anda armado e acompanhado de mais alguns zés-manés iguais a ele? </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span">Você acha que esses caras</span>, que não sabem nem ler, são os que se beneficiam dos espantosos lucros que o tráfico de entorpecentes movimenta no mundo? São aqueles pretinhos favelados que abandonaram o Complexo do Alemão para não serem abatidos os que têm contas na Suíça e demais paraísos fiscais para guardar o dinheiro sujo do tráfico? Você acha que só é possível combater o tráfico de drogas com mais policiais, mais viaturas e mais armamentos? Você acha que as UPPs estão se instalando nas comunidades pobres das grandes capitais brasileiras com o único propósito de expulsar os bandidos e impedir que eles voltem? E que tudo isso visa de fato eliminar as drogas da face da terra?</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Você ainda não entendeu que é o proibicionismo que causa tudo isso? Que está na hora de abrir um debate sério e amplo sobre o assunto? E que esse debate não seja mais calcado em preconceitos e ignorância? O que mais terá de acontecer para você se dar conta disso e entender que esse problema também é seu? </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Bem, se você pensa dessa forma, eu recomendo que você assista a esse documentário aqui. Acredito que nunca mais você verá, ouvirá ou lerá uma reportagem, matérias de jornais e revistas ou as opiniões desses (sempre os mesmos) pseudoespecialistas que aparecem na TV falando sobre drogas da mesma forma. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Claro que eu sei que alguém poderá pensar que tudo isso não passa de uma invenção de algum desocupado, mas eu peço gentilmente que você faça um esforcinho, tente lutar contra os seus preconceitos e verdades preestabelecidas e tenha um pouco de humildade para notar que a realidade não é única e tampouco tão esquemática quanto você foi treinado e treinada para entendê-la. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" >Eu também sei que é muito difícil tentar explicar o que é o mundo para quem só o conhece através do Jornal Nacional e das novelas da Globo, mas eu me lançarei ao desafio. Sou brasileiro, e não desisto nunca. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span"></span><span class="Apple-style-span">Sem mais delongas, vamos ao material:</span></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; ">Parte 1/6</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span"><iframe title="YouTube video player" width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/bUiujh-xAi8" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; ">Parte 2/6</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span"><iframe title="YouTube video player" width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/bThHssM8EmM" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; ">Parte 3/6 </span></div><div><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span"><iframe title="YouTube video player" width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/HcSqzGKm6gk" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; ">Parte 4/6</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span"><iframe title="YouTube video player" width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/xCtXCtcwqsA" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; ">Parte 5/6</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span"><iframe title="YouTube video player" width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/1uY0X5Vv2ok" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; ">Parte 6/6 </span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial; "><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span"><iframe title="YouTube video player" width="425" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/13aHWoKP7zI" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe></span></div></div><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5303262736194372973.post-6515681186899961342011-03-30T02:05:00.004-03:002011-03-30T17:55:33.596-03:00Salvador, 462 anos. Comemorar o quê?<p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span>Ontem, Salvador fez aniversário: 462 anos. Não publiquei o texto no dia 29/03 porque não pude escrevê-lo em tempo hábil. Mas, como diz o costume, o que vale é a intenção. Como eu moro e transito na cidade todo dia, não faz muita diferença o fato de ter publicado os meus escritos um dia depois. Eu acho.</span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span class="Apple-style-span"><span>Esse papo de exaltar as belezas da cidade, as praias paradisíacas, o carnaval, a culinária, a religiosidade (de uma forma bastante estereotipada, diga-se de passagem), a terra do axé, já deu. Não estou aqui para falar disso. Afinal de contas, eu não sou agente de turismo. </span> </span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span class="Apple-style-span">O que eu quero mesmo é fazer uma homenagem ao povo dessa cidade. Não à parcela branca e rica que odeia e repudia a herança cultural africana, que acha que ser preto só é bonito no Carnaval (e olhe lá), mas se utiliza dela (e deles) sem o menor pudor para se promover ou auferir algum benefício. Se os “bem-nascidos” cagam para mim, eu também cago (e continuarei cagando) para todos eles.</span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span class="Apple-style-span">Quero exaltar as pessoas que ralam todo dia para sobreviver nessa selva. Que saem de casa sem saber se retornarão. Que têm de aguentar tudo o quanto é miséria em nome do sustento próprio e da sua família. Que pegam <a href="http://correio24horas.globo.com/recursos/BancoImagens/%7BECF2B4C9-F226-49DF-ACA6-38CD8A17BC80%7D_onibus%20PM%202.jpg">ônibus lotado</a> todo dia de manhã para ir trabalhar e à noite na hora de voltar para casa. Que, depois de terem sido exploradas o dia inteiro, ainda encontram energias para estudar à noite e sonhar com um futuro melhor. Que vivem num lugar <a href="http://www.clicrn.com.br/noticias,72560,3,capital+baiana+tem+concentracao+de+renda+pior+na+comparacao+com+pais+.html">onde os mais ricos ganham vinte e cinco vezes mais do que os mais pobres</a>. Que têm de morar numa cidade onde <a href="http://www.sangari.com/mapadaviolencia/pdf2011/MapaViolencia2011.pdf">morrem em média de 25 a 30 pessoas assassinadas por fim de semana</a> – e que há pessoas que acham isso normal. Que têm de driblar as arapucas que o racismo impõe à maioria da sua população, pois a Bahia só é a terra da felicidade nas propagandas da prefeitura e das agências de turismo. Que ouvem dizer que têm o carnaval mais democrático do mundo, mas observam uma minoria <a href="http://www.jornaldametropole.com.br/pdf/jornaldametropole_PDF_11032011.pdf">curtindo o melhor do luxo enquanto os excluídos têm de acampar na rua durante uma semana para ganhar algum trocado vendendo cerveja e churrasquinho, catando latas e garrafas e segurando corda nos blocos</a>. Que veem um cantor <a href="http://g1.globo.com/carnaval/2011/noticia/2011/03/bell-marques-faz-barba-antes-de-se-apresentar-no-carnaval-de-salvador.html">receber R$ 2 milhões para tirar a barba em uma ação promocional de uma marca de barbeadores</a>, enquanto muita gente passa fome. Em que um bloco chega a cobrar R$ 1.200 por um abadá, mas paga uma diária de R$ 30 a um cordeiro (quando paga) sem dar ao cara água, protetor de ruído, luvas e o direito de usar o banheiro do trio. Que vive num apartheid sem as leis do apartheid.</span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span>Pessoas que, infelizmente, ainda têm de dormir em uma fila no posto de saúde para pegar uma senha e ser atendida daqui a dois ou três meses (isso se o médico não faltar no dia da consulta, é claro). Que, por não ter grana, têm de colocar os filhos e filhas para estudar numa escola pública lenhada, sem professores, bibliotecas, computadores, merenda, e que ainda ouvem que os seus filhos não têm bom desempenho escolar porque são burras e desinteressadas (“elas não querem nada”). Que saem todos os dias às ruas para montar a sua banca de camelô, vender água, doces, picolé e caneta nos ônibus e DVD pirata na Lapa, na Avenida Sete, na passarela do Iguatemi e na Estação Rodoviária. Que fazem quatro a cinco faxinas por dia para conseguir dar o que comer às suas crianças. Que limpa vidro de carro nas sinaleiras. Que aguentam os passageiros malas quando estão dirigindo e passando troco dentro dos ônibus. Que têm de aguentar motoristas escrotos que não param no ponto, que dão banho de lama nas pessoas só de sacanagem, e cobradores mal-educados e mal-humorados. </span></p><p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span>Que começam a tremer de medo de a casa construída no morro com tanto sacrifício desabar quando caem os primeiros pingos de chuva, e depois ainda têm de aguentar o pessoal da SUCOM dizer para elas não ocuparem as encostas quando o Estado tinha a obrigação de dar-lhes moradia decente. Que fumam crack nas ruas e debaixo dos viadutos para tentar esquecer a condição de subalternidade, exclusão e invisibilidade a que são impostas. Que vendem pequenas quantidades de droga nas ruas por não encontrar outra oportunidade de emprego, mas são apresentadas como megatraficantes perigosos no Na Mira e no Se Liga Bocão. Que carregam compras nas portas dos supermercados em carros de mão para ganhar R$ 3 e ainda serem chamadas de preguiçosas. Que vendem caldo de cana nas ruas. Que vendem café e cigarro nas <a href="http://lh3.ggpht.com/_qrZ_Fi9M4XY/SqWDCtZryRI/AAAAAAAACWw/TEb00L7-adE/DSC_0114.JPG">guias de cafezinho</a> (uma mais criativa do que a outra). Que se viram para não sucumbir.</span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span>Que, mesmo tendo de enfrentar todas essas mazelas, ainda encontram maneiras de se divertir (afinal, ninguém é de ferro). Que se divertem no pagodão por essa ser a única possibilidade de diversão que o pobre pode pagar (inteira R$15, casadinha R$20. Junta dez meu, dez seu e vamos embora). Que vão ao Barradão ou a Pituaçu ver o time do coração jogar, pagam um ingresso caro para um jogo que começa às 22h e mofam no ponto de ônibus depois que o jogo acaba tarde da noite. Que curtem Gerônimo toda terça-feira na Escadaria. Que não abrem mão de tomar um cravinho no Bar do Cravinho. Que frequenta, aprecia e declama suas poesias toda quarta-feira no Sarau Bem Black do Bar Sankofa (salve <a href="http://twitter.com/#!/Nelsonmaca">Nelson Maca</a>!). Que vão, pelo menos uma vez por mês, ao Tia Célia comer aquela feijoada. Que curtem as praias da cidade, apesar do cenário desolador que se formou após a derrubada das barracas. Que curtem a noite de sábado na Ribeira ou no Beco dos Artistas. Que vão ao Bonfim toda sexta. Que vão ao Opô Afonjá receber a energia de Mãe Stella. Que vão à Igreja Universal toda terça participar da sessão do descarrego.</span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span>Que sambam gostoso nos partidos da Liberdade. Que gostam de ver a saída do Ilê no carnaval, e as demais festas que ocorrem durante o resto do ano na Senzala do Barro Preto. Que juntam os amigos e amigas de vez em quando para jogar conversa fora e comer acarajé no Rio Vermelho, em Itapuã e nas demais bancas espalhadas pela cidade. Que vão ao Vila Velha curtir e aprender com o <a href="http://bandodeteatro.blogspot.com/">Cabaré da Rrrrrrrraça e demais espetáculos do Bando de Teatro Olodum</a>. Que aproveitam a rica, porém nem sempre acessível, vida cultural da cidade.</span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span>Gente que, nas palavras de João José Reis, “reagem, negociam, resistem, atacam, se juntam solidários, às vezes vencem, outras perdem, raramente desistem”. É para vocês que eu presto a minha homenagem e dedico essas palavras.</span></p> <p class="western" align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm"><span>Animai-vos, povo bahiense! É tudo nosso!! </span></p><div class="blogger-post-footer">www.twitter.com/rogeriolusantos</div>Rogério Santoshttp://www.blogger.com/profile/04440949590195680209noreply@blogger.com5