terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os ricos têm medo das cotas?


Recebi uma postagem hoje no Facebook: a imagem de uma parede pichada com a mensagem: “Os ricos têm medo das cotas?” Comecei a escrever uma resposta lá mesmo no Face, mas resolvi desenvolvê-la um pouco mais e publicá-la aqui no meu blog.



Com toda certeza. Afinal de contas, conhecimento é poder. E, por conta disso, ele sempre foi enclausurado nas universidades para usufruto de uma minoria seletíssima.

O racismo não tem nada a ver com ignorância. Esse papo de que as pessoas que estudaram menos tendem a ser mais racistas do que as pessoas que estudaram muito não se sustenta na prática. Há médicos, advogados, psicanalistas, professoras, dentre outras, que estudaram muito, têm mestrado, doutorado, Ph.D. na Universidade de Paris e o caralho e que continuam acreditando que o negro é inferior ao branco. Seria desnecessário – e enfadonho – citar exemplos.

Além do mais, devemos lembrar que as teorias racistas, que afirmavam a pretensa inferioridade natural do negro, bem como as ideias que diziam que a mulher era intrinsecamente mais débil e frágil do que o homem, o que a tornava incapaz de votar e trabalhar fora, por exemplo, foram criadas na universidade. Médicos, biólogos, filósofos e demais pessoas pertencentes às elites intelectuais do seu tempo criaram as suas ideias de dominação e usaram a legitimidade acadêmica para dar mais veracidade às suas teorias odiosas. O racismo é uma invenção de elites intelectuais, não de pessoas ignorantes e iletradas. Como disse Carlos Moore em Racismo e Sociedade, o racismo é um sistema de poder, não um sentimento pessoal isolado.

E as cotas, apesar de ser uma medida incompleta e insuficiente para corrigir as abissais desigualdades sociais brasileiras, estão provocando tanto furor nos círculos mais conservadores da nossa sociedade justamente por isso: por possibilitar aos grupos subalternizados, excluídos e invisibilizados o acesso a esses conhecimentos, que nos permite combatê-los precisamente no lugar em que são criados. De posse dessas ferramentas, nós passaremos a conhecer o funcionamento das engrenagens sociais que regem as nossas vidas e, ato contínuo, começaremos a pensar em transformá-las. E é isso que as elites brasileiras não querem: que a ordem social mude; que os lugares reservados historicamente aos seus filhos e netos não sejam ocupados pelo filho da empregada ou pela neta da lavadeira. Como bem disse Malcolm X, sem racismo não há capitalismo. E é por conta disso que os ricos têm, sim, medo das cotas. 


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dia do Professor

Esse texto foi escrito pela minha tia Antônia, e colocado no meu perfil do Facebook. Resolvi postá-lo aqui para que mais pessoas possam ver a melhor das homenagens que eu recebi hoje. 


O DIA DO PROFESSOR
Se não é fácil para um pai ou uma mãe ser professor do seu próprio filho em sala de aula repleta de outros alunos, não deve ser fácil para um filho ser professor do seu pai ou da sua mãe nas mesmas circunstâncias.
Entretanto conhecendo o seu caráter sei muito bem, que no momento em que você dava às suas aulas não via entre os seus alunos a fugura da sua mãe, como mãe e sim a de 
uma aluna com as mesmas dúvidas e expectativas inerentes a todos os outros alunos.
Portanto é com muita emoção que eu lhe agradeço por você juntamente com os seus colegas ter contribuído para a aprovação da sua mãe, aos cinquenta e sete anos e de todos os outros que foram aprovados no processo seletivo 2012 da Universidade Federal da Bahia e em outras Universidades ou Faculdades; principalmente aqueles menos favorecidos socialmente, que são obrigados constantemente pelos vícios de uma sociedade perversa e rotulista a recolher a sua voz e os seus direitos a insignificância imposta pelo sistema educacional vigente em nosso país.
Quero lhe dizer também que hoje aos cinquenta e oito anos e tendo sido aprovada no curso de letras da Faculdade São Luís de França, em Aracaju-Se, que toda vez que estou lendo ou escrevendo algum texto, mesmo com a distância que nos separa eu sinto um orgulho tão grande em saber que sou sua tia, e é este orgulho que sempre me deu forças para continuar e chegar aonde cheguei.
Mais uma vez agradeço ao meu sobrinho e professor Rogério Luis, por tudo que você já fez e por tudo que eu sei que você e seus colegas ainda vão fazer pela educação do nosso país.
Feliz dia do professor,
Da sua tia Antonia.